quarta-feira, abril 01, 2009

Primeiro de abril

Hoje não foi um dia comum de outono.

Começou com uma vã tentativa minha de colocar em dia os meus e-mails. Não tem jeito, eu estou sempre devendo alguma resposta de alguma coisa importante para alguém (as pessoas geralmente me escrevem e-mails que requerem um pouco mais do que respostas SIM ou NÃO).

Lá pelas tantas, minha mãe me enviou um correio que me tirou o fôlego. Fiquei mal. Meu primo foi assaltado e seu filho de quatro anos ficou sob a mira de um revólver... só que eles estavam em Orlando, nos EUA. Eu fiquei arrasada pelo que pode estar passando pela cabeça do menino.

Fui a um almoço de aniversário, mas cheguei atrasada, o que me aborreceu chateou um pouco. Ainda estava comendo quando o pessoal começou a cantar o parabéns. E eu nem consegui escolher o presente que eu queria levar, porque esta porcaria de vida é sempre uma correria...

Depois, reunião de tarde inteira (pode?). Até que ela foi produtiva, mas poderia ter sido melhor (nem te conto!). Só que acabou se estendendo um pouco e eu me enrolei pacas quando voltei à minha mesa.

Aí, já pensando que estava de saída (tolinha!), recebi uma demanda de última hora de um outro gerente e tive que ficar até mais tarde. Só que eu gosto muito dele, e não deixaria de fazer o que ele me pediu por nada (até porque eu não sou louca!). Nem por sair um pouco mais tarde. Mas, eu não podia demorar muito porque tinha um compromisso inadiável.

Então, quando eu estava saindo na companhia da minha amiga Cacau, antes de botar o pé fora da empresa, literalmente, fui assaltada (Merda!). Eram pouco mais de seis horas. Uma horda de pivetes passava pela frente do prédio onde trabalho e, naqueles 30 segundos em que a nossa intuição fala mais alto, eu senti que ia ser assaltada. (Ia dar merda.) Eram uns 15 mais ou menos, de assustar. Havia meninos de todos os tamanhos e eles estavam cantando uma música um tanto ameaçadora. Ao invés de retornar pra dentro do prédio com a Cacau, eu parei, ainda do lado de dentro da grade. Um deles se desgarrou do bando e veio em nossa direção. Ou melhor, em minha direção. Eu me preparei para o ataque, mas fiquei parada. Ele nos pediu dinheiro, dissemos não. Ele pulou no meu pescoço e levou o meu cordão. De ouro. Com uma imagem do Divino Espírito Santo pendurada, que havia pouco tempo eu tinha comprado. Andava feliz da vida com o que eu considerava um dos presentes mais bonitos que eu tinha me dado.

Eu me senti num mundo de faz-de-conta com o que veio depois: era como se eu tivesse pedido pra ser assaltada praticamente dentro dos limites da empresa. Os seguranças nada fizeram. Os chefes de segurança me disseram que nada adiantaria se eu fizesse um B.O. ("Dá só dor de cabeça, Dona!"). Depois de ser assaltada pela sétima vez (é que eu vou contabilizando), cheguei à conclusão que não tenho nenhum direito: pago os meus impostos em dia, cumpro com todas as minhas obrigações, mas não posso reclamar, não posso exigir proteção, nem posso usar uma jóia porque estou dando "mole pra bandido". O policial da cabine que fica em frente ao prédio veio correndo em minha direção e me perguntou: Foi a senhora que foi assaltada por aquela galera que estava correndo?, como se fosse um lesado, perdido no meio do nada.

Sabem o que eu ouvi? "A senhora ainda saiu no lucro, porque eles não fizeram nada com a senhora!" (pior do que ser assaltada é ficar sendo chamada de senhora sem ter idade pra isso)

Eu queria acordar amanhã e me dar conta de que isso só foi um terrível "primeiro de abril". Queria acordar num país justo, de gente honesta, onde crianças nesta idade fossem amparadas por seus pais e estivessem numa boa escola ao invés de estarem embaixo dos Arcos da Lapa cheirando cola e fumando crack.

Não, eu não fiquei com raiva deles. Só tenho muita raiva deste mundo injusto em que vivemos. O tal sistema de castas que vemos na novela das 21 horas, numa folclórica caracterização de uma Índia que poucos conhecem de perto, na verdade, é uma excelente metáfora da vida que vivemos neste país. A Índia é aqui.

O que plantamos hoje, vamos colher amanhã, inevitavelmente.

3 comentários:

Lady Shady disse...

Lamento, querida!!!
Que droga tudo isso!
Olha, não deixe mesmo que outros a condenem dizendo "que vc eu mole pra bandido" mesmo não!
A gente tem que ter o direito de usar e ter o que bem quiser e puder!
Errado é esse bando de filhos de uma p. agredir as pessoas dessa forma!
Não tenha raiva do mundo, não. Tenha raiva desses pivetes mesmo!
( raiva dá mas depois passa, que sua vida é muito mais "rica" do que desses moleques )
Pobreza não é motivo para bandidagem e safadeza, não.
Tem pobre honesto e ladrão rico!
Isso é índole!
Reze a Deus pra te proteger e enviar luz pra essa gentinha que mais cedo ou mais tarde acaba morta por aí.
Esquece isso, tenha fé na humanidade.
Não é fácil, eu sei...
Beijos!

Letícia disse...

Que merda, cacete!

Cacau disse...

Oh querida, foi relamente muito chato. Mas já chegamos a uma conclusão: sua pombinha te protegeu.
Você compra outra daqui ha pouco. Não se culpe por nada, não alimente sentimentos ruins e bola para frente.
Fiquei muito triste em saber do João Gabriel. Espero que isso não fique na cabeçinha dele, essa sim, ainda em formação, precisa de atenção mais do que nunca.
Um beijo grande e muita paz neste coração. Namastê (isso não é palhaçada):-)