Quando as aulas recomeçam, eles estão tão entretidos com o prazer que sentem quando estão juntos que se esquecem de combinar como vão agir. Pensam, ambos, que está subentendido que ninguém precisa saber de nada.
Chegam à faculdade e se cumprimentam apenas como amigos, para que os demais não desconfiem das maravilhosas férias que tiveram. São cúmplices neste segredo, mas os olhares que trocam são um pouco reveladores para quem presta atenção. Nem juntos sentam, para não "dar bandeira". Não sabem como seus orientadores reagiriam a isso, e não querem pagar para ver.
Ela não se sente segura com este jogo de "faz-de-conta" e começa a perceber, com o passar dos dias, que ele está um pouco distante. Durante as aulas, se dirige a ela muito pouco e começa a procurar outras pessoas para formar grupos de estudos, com a desculpa de que os interesses dos dois não são convergentes. Ela então nota que tem algo acontecendo, mas fica esperando a melhor oportunidade para perguntar.
Um belo dia, ela resolve pedir-lhe uma carona para casa. Ele, constrangido, diz que a leva em casa, apesar da volta que terá que dar para chegar em Jacarepaguá. Entende que ela quer conversar, mas não sabe muito bem o que dizer. Ela nota seu 'sorriso-amarelo', mas finge que não está percebendo e vai com ele.
Ao longo do trajeto até o Jardim Botânico, ela faz uma ou duas perguntas sobre a vida dele, das quais ele trata de esquivar-se. Ele deixa escapar apenas que conseguiu um "trampo" num stand na Bienal do Livro, no Riocentro e que vai ter que faltar uma semana de aulas. Com seu carisma de sempre, pergunta se ela pode mantê-lo informado sobre os trabalhos, tarefa que ela prontamente consente em fazer.
Durante aquela semana, nem um telefonema sequer dele, o que ela entende como uma impossibilidade, já que ele deve estar muito atarefado com os afazeres no stand. Ela então decide ligar para a sua casa, para deixar um recado amoroso na secretária eletrônica. Coloca no rosto o seu melhor sorriso e liga...
- "Alô!", atende uma mulher.
Ela fica muda de espanto. Depois de alguns instantes, ela diz: - "Alô! Quem fala?"
No que a mulher responde: - "É Rosana! Com quem gostaria de falar?"
"Rosana?", ela pensa, "mas Rosana é o nome da ex-mulher do João".
(silêncio constrangedor)
- "Oi, Rosana, tudo bom? Quem está falando aqui é Tamara, colega do João do mestrado", ela diz. (pensa rápido, mulher, pensa rápido!)
- "Oi, Tamara, o João não está. Ele está na Bienal", retruca Rosana, impaciente.
- "Ah, por favor, eu posso deixar um recado para ele com você? Diz a ele que nós já formamos o grupo do trabalho final, já decidimos o tema e separamos a parte dele... Se ele quiser saber o que ele tem que fazer, por favor, peça a ele que me ligue, ou para um dos meninos do nosso grupo, que eles explicam tudo pro João, ok? Muito obrigada. Um abraço, heim..."
- "Pode deixar. Abraço", e tratou de desligar o telefone.
Não havia trabalho nenhum. Nem grupo nenhum. Ela havia acabado de inventar tudo isso. Só queria que João soubesse que tinha ligado e que tinha falado com Rosana. Será que ela estava lá apenas pegando as suas coisas? Ou será que tinha voltado para casa? Será que era por isso que João estava estranho?
Ela não conseguiu estudar naquele dia, nem se concentrar na tv. Não conversou com Cecília, nem pôs o pé fora de casa. Estava desolada, estava triste, estava só. Chorou muito, com a cara enfiada no travesseiro, e se sentiu uma verdadeira tola, uma tonta. Daquelas que a gente enrola fácil e que sonha com príncipe encantado que não existe mais... Como pôde ser tão boba?
2 comentários:
Que droga!!!!!!
Nossa!!!!
bjs,bjs
Agora o bicho pegou... Está na hora da mocinha fazer a sua escolha: nadar ou morrer na praia.
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