sábado, janeiro 14, 2006

The Blower's Daughter

Cantor: Damien Rice - canção do filme "Closer"

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time

And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...

And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time

And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind...
My mind...my mind...

'Til I find somebody new

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Neste final de 2005, início de 2006, duas
versões brasileiras para esta música estouraram
nas rádios. Uma, cantada por Ana Carolina e
Seu Jorge, versão de Ana Carolina. A outra,
cantada por Simone, com melodia mais
próxima da versão original, versão de Zélia
Duncan. Grandes presentes.
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Uma história para contar... (uma trovinha)

Uma história que mereça ser
Contada, revivida, relembrada,
Um amor que mereça uma canção
Que me abrace e me toque o coração...

Como pude querer tanto?
Sonhar tanto? Pensar tanto em você?
Se para estancar meu pranto
Eu sei bem que preciso te esquecer.

Como pude errar tanto?
Ser tão tola a ponto de não perceber
Que como gota d'água no oceano
Eu nada represento p'ra você?!

Eu queria ver apenas um final feliz
Um beijo longo, um abraço apertado,
Passar minhas mãos nos seus cabelos
E ganhar um "eu te amo" inesperado...

Quem sabe se a gente possa se fazer ouvir
Quando se deseja com tanta intensidade
E se os anjos do céu olharem por mim
Vão me fazer esta "pequena" vontade!

Sangue sem Cristal

Este conto é uma contribuição de uma grande amiga minha.
Espero que vocês gostem.
Beijos,
Rebecca


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Sinto-me cego. Tateando. Pelo resto da vida tateando, nesta cela com cheiro acre. As grades já fazem parte do meu corpo, impressas que estão nele. A dor já não é mais dor. Apenas rasga a solidão como a única coisa que posso tocar neste frio de cela. Selado como carta que ninguém quer ler.

Estava estudando como em qualquer das infinitas tardes com o computador. A data da defesa da tese se aproximando. Ela se preparava para sair, cada vez mais linda com a gravidez, olhos sol e barriga a pino. Descobriu esse casal de amigos e eu me sentia seguro. Parecia que com eles ela estava protegida. Jamais entenderia essa ânsia de novos passeios que ela exalava cada vez que se preparava para sair com eles.

Caminhando pela cela percebo a sofreguidão das paredes desenhadas. Não me espanto mais ao tocá-las. São minhas propriedades, meus objetos de estudo agora. O colchão puído e cheirando a mijo complementa o sentido da prisão: excrementos humanos. É isso que nos tornamos aqui dentro, restos.

Havia notado um brilho diferente, novo nos olhos dela. Achava que a amizade do casal mais a maternidade a estavam fazendo bem. Parecia feliz, não me cobrava comportamentos que não sou capaz de ter. Anti-social. Mergulhado no meu aquário, trabalhava e a encorajava a passear, já que com o bebê ficaria mais difícil. Naquela tarde iriam à praia, aproveitar o verão.

Risco a parede com a tinta que sai dos meus dedos vermelhos, sangrando de arrancar frases obscenas em lascas. Escrevo o nome dela com paixão que jamais imaginei: Mara, Mara, Mara. Interminável esta ladainha. Como será minha filha? Mil vezes me perguntei, sem resposta. Como ela se parece, qual o seu nome, onde o espaço vazio de mim onde ela mora? Pedaços de mim caem pelo chão fétido da prisão.

Estava no computador escrevendo as últimas linhas quando a campainha tocou frenética, acompanhada de chutes. Era a amiga dela, transtornada, chorando e cuspindo frases confusas na minha cara. Não eram frases, eram espadas.

Há cicatrizes que nunca fecham, Meus dedos não são mais dedos, são sal. As lágrimas tornaram-se um difícil ponto final. Agora, só as reticências dos eternos sangramentos daquelas espadas que me lançaram. Posso sentir o final próximo, minha alma vagando pela cela enquanto meu corpo permanece estirado no colchão úmido.

Cuspindo cada vez mais em minha face, a mulher dizia coisas que me deixavam confuso. Podia apreender apenas algumas palavras. Grávida. Adúltera. Traiu você. Meu marido. Fim. Traiu. Traiu. TRAIU... Levei tempo para encaixar as peças. Quando pude compreender o significado daquele espetáculo, senti que deixaria de ser espectador para atuar no palco da traição de minha mulher. Notei que jamais entenderia o por quê. Quando pude me mover novamente, a atiradora já tinha ido e apenas a traidora me olhava assustada, mãos na barriga de seis meses de gravidez. Pavor em seus olhos. Vazio nos meus. Não disse nada. Não fiz nada. Apenas caminhei para a janela. Queria ver o mar, e nele o reflexo dos olhos dela já pareciam remotos e inconstantes. Com gosto de sal na boca pude perceber o desespero dela atrás de mim, quando novamente a campainha tocou.

Já não consigo mais catar meus pedaços pelo chão. Minha alma já não me obedece mais nesta necessária reclusão. Grades por todos os lados. Sangue. O cheiro agora é insuportável. O cheiro sobre os meus ombros sugere uma cruz. Começo a rezar.

Ele invadiu o apartamento dizendo que levaria minha mulher com ele. De repente tive a exata noção do que sou: um animal acuado que, inesperadamente decide reagir. Parti para cima de minha presa com garras jamais pensadas. Pela minha filha, pela minha mulher, pelo homem que nunca fui. Cuspi nele as mesmas espadas que estavam cravadas em mim. Cuspi não, enterrei. Em seus olhos e peito e pernas e sexo, enterrei. O sangue escorreu pela sala junto com as lágrimas de Mara e a bolsa d’água rompida por mim.

Obedecendo à reza, minha alma retorna. Não posso pedir perdão - já não há perdão. Não sou o homem que sou. O sangue escorre pelas grades enquanto os guardas se movimentam naquele fim de tarde de verão.

domingo, janeiro 08, 2006

A ficção e a vida real

Nem sempre temos tudo que queremos ter. A estória relatada no texto "Pessoal e intransferìvel" esteve muito perto de se realizar comigo.

Mas este homem foi embora, já se vão cinco anos. Nunca mais tive notícias dele.

Eu acho que ele deve estar por perto. Me observando. Um dia ele aparece. E aí, nós vamos conversar.

Rebecca

Pessoal e intransferível

Cheguei ao escritório e bati na porta. Três vezes. Aguardei que alguém viesse atendê-la. Era tarde da noite e eu esperava que ainda houvesse alguém lá, que tivessem algum projeto urgente para entregar. Meu coração esperava.

Após certa demora, um rapaz baixo e franzino atendeu a porta. Olhou-me com espanto...com a minha nítida condição de ansiedade. Trocamos algumas palavras e ele convidou-me a entrar. Cumprimentei a todos, como de costume. Algumas caras me eram conhecidas; outras ainda não. Fui apresentada a alguns, outros me receberam com indiferença.

O novo escritório tinha ficado realmente muito bom, a disposição dos móveis estava ótima, tudo era amplo e arejado. A ante-sala estava bem decorada. No dia anterior, eu havia mandado entregar um vaso de bouganvilles e, ao entrar, os havia reconhecido na mesa de canto, ao lado do sofá, enfeitando a sala.

Não haviam mulheres no local. Meus olhos rapidamente percorreram a sala buscando encontrá-lo. Lá estava ele, no meio de muitos papéis, falando ao mesmo tempo ao celular e ao telefone fixo. Sorri ligeiramente e acenei com a mão. Senti rapidamente meus lábios ressecarem. Passei minha língua por eles para umedecê-los, numa atitude discreta. Ele, porém, estava me observando atentamente e viu tudo...era hábito.

Podia jurar que ele havia descoberto uma forma de ler meus pensamentos. Sabia, inclusive, quando os meus batimentos cardíacos aceleravam. Tínhamos uma intimidade inexplicável.

Rapidamente, ele se desvencilhou dos telefonemas e papéis e caminhou em minha direção. Foram poucos passos, foi muito tempo.

Todo o tempo do mundo entre nós era muito, era uma eternidade. Ele entendeu, sem eu dizer, que eu pedia socorro. "Socorro, salve-me da minha vida", eu pensava, sem ter coragem de pronunciar palavra alguma. "Leve-me contigo, para onde quiseres".

Ele me pegou pela mão e me conduziu até uma pequena cafeteria, perto dali. "O que você tem?", ele perguntou. "Onde você está agora, em que mundo?" "Eu estou aqui", respondi, "com você". "Queria mudar tudo e ficar aqui para sempre", pensei.

Tomamos um café e, o tempo todo, ele me olhou fixamente. Quando saímos, perguntei-lhe se ainda tinha muito o que resolver. Ele disse que não e fêz um sinal de que "era todo meu".

Sem trocarmos palavra, seguimos em direção a casa dele. Caminhamos lado a lado, em silêncio, durante uns quinze minutos. Outra eternidade. Senti meu coração disparar outras tantas vezes. Senti que, pouco a pouco, o coração dele ia batendo no ritmo do meu. Nós queríamos privacidade, queríamos estar longe de tudo e de todos, num lugar só nosso. Tínhamos muito a nos dizer, apesar de não sabermos porque aquilo estava acontecendo agora e se era prudente acontecer.

"O que dizer do futuro?", pensei.

Ele abriu a porta, suavemente. O longo corredor até a sala revelava alguma luminosidade ao seu final. Ela um pequeno abajour que permanecia aceso para guiá-lo ao chegar em casa, tarde da noite.

Ao fechar a porta, ele virou-se para mim, passou a mão nos meus cabelos, depois no meu rosto e repetiu: "Que saudade! Que saudade! Quanto tempo!"

Tempo? Cinco longos anos. Uma vida inteira.

Trocamos um beijo, intenso, acelerado, febril. Ficamos um longo tempo abraçados, como um só. Eu agora já estava bem.

Senti aquele momento profundamente. Tinha medo das consequências, da vida que continuava, mas desejava como nunca estar com aquele homem.

Nós permanecemos juntos aquela noite. Fizemos amor, no real sentido da palavra. Eu fui só dele; ele, só meu. Diversas vezes.

Pegamos no sono já era dia claro. Não queríamos que a noite acabasse. Mas, acabou.

De manhã, ele se vestiu como se veste alguém que tem uma batalha para enfrentar. Olhou-me novamente com ternura...não, com amor. Como de hábito. Esperou que eu me vestisse e nós descemos.

Na esquina, havia um chaveiro. Ele puxou o molho de chaves e mandou copiar uma delas. Aguardamos pacientemente embaixo de um sol escaldante. Por fim, ele tomou a chave e entregou-me. "Esta é sua", disse. "Sem cobranças, sem 'por ques', sem 'e agoras'!", completou.

"Volte quando quiser", falou por fim.

Eu consenti, sabendo que, depois daquela noite, a minha vida teria que ser diferente. E parti.

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Este texto foi escrito no dia 14 de outubro de 2000.
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O fim de uma estória

Amigos,

A parte mais legal quando se termina uma estória é justamente criar a possibilidade de se começar outras...

As que virão poderão ser um pouco mais leves... ou não.

Espero que, de qualquer forma, vocês se divirtam.

Bjs

Rebecca

sábado, janeiro 07, 2006

A decisão

Ao acordar, ela pensou que era hora de tomar uma decisão, por pior que ela fosse.

Pensando bem, eram três as alternativas de que dispunha. Voltar para o marido e viver pensando como seria viver sua vida ao lado do outro, que tanto a desejava e que tantas provas tinha dado do seu amor por ela. Ou deixar o marido para viver com ele, trocando o "certo pelo duvidoso"...(mas o que é a vida senão um amontoado de dúvidas?). Por fim, sua última opção seria partir e deixá-los para trás, começando uma vida nova, seguindo sem destino, sem planos, sem donos...sem adágas, nem flores...

Cuidadosamente, para que ele não acordasse junto com ela, levantou da cama e arrumou em uma pequena valise as suas coisas, recolhendo os poucos pertences que havia trazido consigo. Lavou bem o rosto, molhou os cabelos, passou um pouco de blush e batom, para disfarçar o rosto cansado da intensa luta travada no dia anterior e pôs-se a procurar pelas chaves do quarto...ele as devia ter escondido em algum canto.

Para sua surpresa, elas estavam no bolso de sua calça jeans, o que tornou a saída mais fácil do que ela imaginava. Era como se ele quizesse lhe dar a opção de ir embora.

Abriu a porta, olhou para ele dormindo uma última vez e partiu. Foi até a recepção e perguntou ao atendente quando passaria o próximo ônibus para bem longe dali.

- Em meia hora, ele respondeu.

Ela se dirigiu para a beira da estrada, torcendo para que ele não acordasse nesse meio tempo.

Então, o ônibus se aproximou, ela se virou mais uma vez para olhar o hotel e pensar se aquela era a decisão mais acertada. O medo de se arrepender era grande. Afinal, ela não havia deixado um bilhete sequer, explicando seus motivos, sua razão para partir.

Quando o ônibus parou na sua frente, ela entrou, sem olhar para trás. E, naquele momento, teve a certeza de que aquela história não tinha mais volta, que seria definitivo. E sentiu todo o peso do mundo cair por terra, sentindo-se finalmente livre, leve e solta no mundo.

Ao acordar, ele percebeu que tudo estava diferente. Olhou em volta e viu o vazio invadir o seu corpo. Não havia vestígio daquela mulher na sua vida. Não havia mais nada. Ele entendeu que era o fim. E chorou.

(fim)