quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Desassossego

 


Aquilo sim era um sentimento complexo. Eles não se desgrudavam. Mas, também, não passavam disso. Eram amigos. Durante muito tempo, não acreditaram que pudesse haver amizade entre homem e mulher. No entanto, naquele caso, era extremamente conveniente que se mantivessem apenas amigos, principalmente aos olhos dos outros.

Desde que se conheceram, viviam de perseguir um ao outro. Um desassossego. A vida dos dois seguia normalmente, namorados, noivos, parceiros apareciam. E eles insistiam em se manter próximos, amigos, para desconfiança geral.

Eles mesmo, como nunca haviam dito uma palavra sequer para o outro a respeito, permaneciam imersos numa névoa, numa desconfiança... um sofrimento, uma falta de sono.

Ele as vezes se perdia pensando em casa, sozinho, no que ela estaria fazendo. Estaria cozinhando, tomando banho, lendo?... e se estivesse lendo, estava lendo o que? Ela, por sua vez, pensava nele como um  dorminhoco, mimado, que gostava de agrados sem fim. Mas, também, um cara ativo, solar, que gostava de rua, de praia, de luz... O cara que uma vez ela sonhou em ter só pra ela. Sonhou mas abandonou o sonho. "Impossível!, pensou. E como tudo aquilo no qual a gente não crê, aquilo nunca se realizou.

Era um tal dele dizer como ela deveria agir, como deveria fazer, e de se preocupar com ela, e de querer cuidar. "Mas, que cara confuso!", ela pensava. Ele tinha um medo danado da força dela. Ao mesmo tempo que ela o atraia, ele sentia que não podia com ela, com o tamanho daquele desejo que transbordava nos olhos, que enxia o ambiente quando ela chegava, que pulsava naquele sorriso que ela dava só pra ele, que se revelava naquele jeito dela de deixá-los a sós mesmo quando estavam num ambiente lotado de gente. "Eu não tenho como lidar com isso, melhor deixar pra lá...", ele sentenciou, abrindo mão da vontade de viver aquilo até o fim.

Em silêncio, foram permanecendo juntos por muito tempo, enquanto havia um desassossego entre eles, uma faísca, uma energia ardida que nem pimenta... ainda que ambos achassem uma pena tanta covardia...