sábado, setembro 16, 2006

Soneto do Corifeu

Vinicius de Moraes

São demais os perigos desta vida
para quem tem paixão principalmente
quando uma lua surge de repente
e se deixa no céu como esquecida
e se ao luar que atua desvairado
vem se unir uma música qualquer
aí então é preciso ter cuidado
porque deve andar perto uma mulher
deve andar perto uma mulher
que é feita de música, lua e sentimentos
e que a vida não quis de tão perfeita
uma mulher que é como a própria lua:
tão linda que só espalha sofrimento
tão cheia de pudor que vive nua.

Sem seguro contra meus ataques particulares...

Hoje fui tomada de assalto pela angústia. Derrubou-me em ataque terrorista os castelos de areia feitos com água de fantasia e de paixão. Trouxe-me um nó na garganta, uma dor no peito e algumas lágrimas nos olhos. Mas, o principal, trouxe-me o vazio. Revi-o hoje, 11 de setembro. Já não lembrava mais a amargura que era encontrá-lo.

Esse vazio só se equipara ao vácuo que preenche o Universo: imponente, onipresente, avassalador. Ele veio para sufocar-me a alma, para tornar-me pequena, sem que haja luz no fim do túnel.

Faz tempo que eu vinha domando a energia negativa da angústia como se faz com boi brabo em festa de rodeio. Fechava-lhe as portas com um sorriso escancarado, debochado, de quem ri pela frente, mas um tanto desesperado, pregado no rosto. Fingia ser feliz, uma felicidade maior do que o mundo, para não lhe dar espaço. Não havia como deixar a angústia se instalar por aqui, não suportaria tal fato.

No entanto, esta estratégia foi funcionando bem, só que feito represa de águas turbulentas. Quanto mais você segura as águas, mais violentas elas se tornam. Abertas as comportas, o que sai acaba por varrer tudo que encontra pela frente, a destruir, ocupando vilas e casas com toda a sua força.

Quem burlou a segurança para me impor a angústia foi a verdade. Tirou-me do sonho e mostrou-me uma realidade irreparável. Agora, preciso aprender a lidar com elas, a angústia e a realidade, nuas, cruas, impávidas.

O sorriso que cultivo, contudo, vou mantê-lo no rosto. Quem sabe, usando esta máscara para sempre, vou acabar me convencendo de que sou assim.

sábado, setembro 02, 2006

Vôos e (des)ilusões...

Pela janela via aquele tapete
de nuvens brancas e espessas.
Voava em assento sobre a asa,
com uma ponta de medo,
como sempre.

O avião parecia deslizar sobre as
nuvens, sem tocá-las, sem turbulência.
Sabia que, a qualquer momento, o piloto
faria um mergulho
E assim, seria possível ver a cidade e
suas milhares de luzes lá embaixo.

Ao realizar o mergulho, ela pôde acompanhar
uma cena que parecia feita de mágica...
a ponta da asa riscando as nuvens, deixando
um rastro de passado escancarado e ligeiro.

Na sua cabeça, só havia o desejo de guardar para
sempre aquele imagem poética misturada aos
pensamentos de amor que lhe invadiam a alma.

Costumava viajar em pensamentos quando
voava, olhando o pôr do sol no horizonte, e as lindas
paisagens de sua cidade - o Rio de Janeiro - quando
a máquina decolava.

Era difícil acreditar em todas aquelas belezas juntas,
numa cidade só. E Deus fêz tudo com tanto capricho...
emocionava-se e pensava na vida, tão curta, tão efêmera.

Queria muito uma chance de viver intensamente o que sentia.
Mas, tinha que torcer para o acaso.
Se o Herói lá de cima pudesse dar uma mãozinha...!!!