sexta-feira, novembro 25, 2005

Enfim, a trégua...

O que se seguiu foi uma enorme torrente de emoções, abraçando os dois da mesma forma. Sentiram-se como na primeira vez, quando enfim decidiram parar de fugir um do outro e encarar o que sentiam. Talvez naquele momento achassem que era só tesão, mas o que resultou daquele primeiro encontro foi algo que nem eles mesmos poderiam imaginar. Era uma questão de pele. Passaram horas em um motel do centro da cidade sem se dar conta. Eram apenas beijos, pernas enroscadas, gemidos e desejos há muito contidos pipocando sem controle. Viveram intensas fantasias, todas contidas em uma única tarde de encontro. E se sentiram perdidos, totalmente sós quando saíram daquele motel. Perceberam quão intenso tinha sido seu primeiro encontro e se viram desorientados. E passaram a se ver mais, almoçar mais, trepar mais. Não viam aquilo, em princípio, como uma traição. Era paixão, solta, livre, atingindo seu ápice. Nos primeiros meses não se cobravam nem se perguntavam nada, apenas vivam o corpo um do outro, o hálito, os cheiros, os sonhos, todos sonhados em algum motel sem luxo, porque eles não precisavam disso, apenas de tempo para soltar seus desejos.

Depois de um tempo, a necessidade de estar junto mais tempo foi brotando e, como uma raiz de erva daninha, foi corroendo o que havia brotado de bom. Passaram a se desentender, a se cobrar, a se desrespeitar. O tempo foi ficando curto, pois discutiam muito mais que qualquer outra coisa. E sempre que se separavam, se arrependiam. E tornavam a se ver, se impunham momentos de trégua para voltar a ser como naquele primeiro dia. E como nas histórias de fadas, o tempo foi passando e o mato cresceu ao redor da relação deles. Ela via isso claramente, e pensava se um dia ele veria e cortaria tudo com sua espada para tirá-la dali. Pensava em como fazer, mas não via saída. Sabia que não poderia viver nunca mais sem ele, mas também não sabia se poderia viver com ele. Desde que expressara sua angústia ele se tornara agressivo, começara a beber mais, a dizer certas coisas duras. Afinal, ele havia decidido e ela não. Ainda não.

Voltou a si depois de muito tempo, percebendo ele ainda dentro de seu corpo. Sim, fora como na primeira vez, intenso, mágico. Ela não conseguia compreender como aquele homem podia alternar extrema delicadeza com a mais profunda violência e se perguntou se era disso que ela gostava. Porque sim, gostara quando ele começou a bater nela. Sentira um sinistro prazer nisso. O problema foi quando ele começou a marcá-la, machucá-la. Ela não tinha como explicar isso em sua casa e, pior ainda, não conseguia explicar a ela mesma. Pensava: será que somos doentes, os dois? Mas sempre dizem que entre quatro paredes vale tudo... o que é esse tudo permitido, aceitável? Não tinha coragem de confessar isso a suas amigas, para saber o que elas achavam. Também não sabia se elas iam dizer o que realmente achavam. Só sabia que, quanto mais ele a batia, mais ela se sentia presa a ele, e mais queria fugir.

De tanto devanear, acabou adormecendo também. E sonhou.
(continua...)

segunda-feira, novembro 21, 2005

A volta

Ele entrou, mas não acendeu a luz. Deixou seus olhos se acostumarem com a escuridão daquele quarto, que contrastava enormemente com a claridade do lado de fora. O dia já se fazia pleno quando ele voltou, com sol a pino, mas a raiva estava longe de ter passado.

Seu coração estava batendo muito acelerado, tão acelerado que ele até percebeu. Não era um tipo de homem que prestava muita atenção em si próprio, mas naquele dia estava mais atento. Aliás, estava atento a tudo, preocupado, nervoso, tenso, com medo do que ainda podia fazer.

Ao entrar no quarto, logo reparou que ela não estava, e viu luz pela fresta embaixo da porta do banheiro, o suficiente para supor que ela estava ali. Encostou seu ouvido na porta e ficou quietinho escutando...sentiu a respiração dela do outro lado. Ela estava ali, arfando, com dificuldades para organizar seu raciocínio e seu algoz, do outro lado da porta, aguardando mais um movimento.

Quando viu que ela demoraria a deixar o banheiro, decidiu sentar-se na cama. Paralisado, ficou alguns minutos buscando colocar os pensamentos em ordem, tentando entender porque tudo aquilo havia acontecido. Afinal, gostava muito dela. Mais do que havia gostado de qualquer outra mulher em toda a sua vida. Com a cabeça entre as mãos, pôde sentir seu suor escorrendo por sua testa e viu que o embate também o havia machucado um pouco. O problema, no entanto, não era os machucados externos e sim, o que doída por dentro. Ele se sentia em frangalhos, estraçalhado. Aos poucos, seu organismo foi retornando ao estado normal e seu ritmo cardíaco diminuindo.

Ela sabia que ele estava no quarto. Havia escutado o barulho das chaves e o ranger da porta se abrindo. Ouviu seus passos, sentiu que ele encostou a cabeça na porta, e que se dirigiu para o outro lado do quarto. Não sabia exatamente onde ele estava agora, nem o que estaria fazendo e, por este motivo, seu medo foi aumentando, aumentando, aumentando...

Tratou de buscar naquele banheiro, algo que pudesse ser utilizado como uma arma, nem que fosse para defendê-la. Não havia nada muito forte o suficiente para derrubá-lo, mas encontrou uma gilete dentro do pequeno armário embaixo da pia. Ela não pretendia utilizá-la, mas tinha que ficar preparada para qualquer outro ataque.

Como ela demorava a deixar o banheiro, ele se recostou na cama e, exausto daquele turbilhão de emoções, em pouco tempo caiu em sono profundo. Ela, então, abriu a porta do banheiro e tirou os sapatos, pondo-se a andar em volta da cama e a olhar para ele. O encantamento que ela sentia por aquele homem ainda era mais forte do que tudo. O que ela não entendia, portanto, era como tinha tanto medo de mudar a vida dela para viver com ele. Talvez a reposta fosse simples: era apenas medo de perder este encanto.

Notou que ele também havia se machucado na briga. Possuía alguns hematomas nos braços, talvez provenientes dos esbarrões dela quando tentava se desvencilhar dele. Ela se via literalmente entre dois amores: não queria magoar nenhum dos dois e quanto mais se esforçava, mais delicada ficava sua situação, pois em pouco tempo, o outro também estaria ciente do que estava acontecendo. Sentia que este dia se aproximava. Uma atitude ela teria que tomar. Por pior que fosse a escolha, era seria bem vinda; pior era ficar naquele limbo, cheio de indecisão.

De repente, ele acordou. Num movimento brusco e violento, segurou seu pescoço, prendendo de uma só vez, pele e cabelos. Ela se assustou com sua reação, mas imediatamente se lembrou da gilete, que trazia consigo no bolso da calça. Ela teria que ser bastante ágil para não perder o controle e resgatá-la, se fosse o caso. Antes que precisasse partir para mais uma ação violenta, para revidar a dele, apelou:

- Eu te amo. Muito. Mais do que tudo. Se fui covarde, me perdoa. Eu não queria te reduzir a lixo. Eu te amo. Não é necessário partir para ignorância, vamos conversar. A gente sempre se entendeu.

- Eu estou tão confuso que eu não sei nem mais o que pensar, ele disse afastando-se dela. - Eu sou tão fascinado em você, não suportaria ter que te esperar mais dois anos. Você tem que tomar uma decisão, por mim, por você, por nós dois.

(continua...)

O esconderijo

Como não entendesse os motivos dele, começou a pensar em como sair dali, pois o tempo passava e sua angústia só aumentava. Pensava o tempo todo: e se ele me matar? Se não se acalmar e voltar ainda mais furioso?

Passou então a observar melhor o lugar. Foi até o banheiro e verificou a janela. Estava trancada e tinha grades. Mesmo que quebrasse o vidro, não tinha como passar pelas grades. Voltou para o quarto. Desesperada, abriu o armário como que em busca de uma passagem secreta. Nada, claro. Pôs-se a revirar as gavetas das pequenas cômodas, mas só havia uma barata morando ali. Enojada, sentiu vontade de vomitar. Foi até o banheiro e ficou lá, abraçada ao vaso, cuspindo sua indignação esverdeada. Suava frio. Levantou-se depois de muito tempo e lavou o rosto. Sua imagem no espelho fê-la estremecer.

- Aonde fui parar com essa história, meu Deus? O que eu ganhei com isso? E por que, Deus, por que eu tenho que passar por isso? Me ajuda, por favor! Aponta uma saída...

Nisso ouviu o barulho de chave na porta. Decidiu então trancar-se no banheiro. Correu a passar o trinco e deixou seu corpo escorregar até ficar agachada com as costas encostadas na porta.


(continua...)

sábado, novembro 19, 2005

A espera

Enquanto ele se afastava, ela conferia os danos físicos daquele embate violento. Seus cabelos estavam encharcados de sangue...num leve toque de sua mão, a quantidade de sangue em seus dedos deu uma idéia de como o corte havia sido profundo.

Ela rezava para que ele ficasse tempo suficiente fora para voltar mais calmo e perceber que nada daquilo mudaria o rumo que suas vidas haviam tomado. Este tempo também seria útil para que ela refletisse um pouco sobre toda aquela raiva. De onde ela teria surgido? O que será que a teria desencadeado?

Foram dois anos daquele jeito, esperando por alguma coisa que nunca se acontecia: uma decisão, uma mudança, uma declaração...

Quanto mais o tempo se passava, mais eles percebiam o quanto se gostavam, o quanto queriam ficar juntos, o quanto tinham em comum.

No entanto, o custo para mudar suas vidas era muito alto. Ambos tinham suas famílias, seus casamentos, suas casas, suas rotinas...nenhum dos dois parecia ter coragem para mexer neste vespeiro.

Um dia, quando já não conseguiam mais manter seus relacionamentos oficiais, escondendo o sentimento que sentiam um pelo outro, ele resolveu que era hora para ambos tomarem a decisão, que eles já sabiam o que queriam e que tudo daria certo dali em diante. Ele resolveu e comunicou a ela que abriria o jogo com sua esposa no final de semana seguinte.

Em nenhum momento, ele perguntou a ela se estava disposta a fazer o mesmo com seu marido, por quem ela tinha tanto respeito, carinho e amizade. A última coisa que ela queria neste mundo era magoar seu marido, ele não merecia. Tinha sido um marido dedicado, desde que se casaram. O amor e a paixão que um dia chegaram a sentir um pelo outro já não era mais o mesmo, mas nem por isto ela queria vê-lo triste e sozinho.

Quando ele contou para sua esposa o que estava se passando, imediatamente ela pediu que ele saísse de casa. Ele fez uma pequena mala, com algumas roupas de trabalho e foi para um apart-hotel próximo dali. Sentiu uma estranheza muito grande, pois ela não se queixou, nem brigou, nem pediu para que ele reconsiderasse. Ele se sentiu um "merda". Ao se despedir dela, ela apenas avisou que a briga judicial entre eles estava apenas começando, e que ela queria ficar com tudo o que eles haviam construído até ali.

Como ele já estava trabalhando em outra cidade, a mudança foi pequena. No final do domingo, ele partiria e levaria consigo o que havia resgatado da casa de sua esposa. No apart-hotel, ele pensou em tudo o que havia acontecido, em como os seus filhos encarariam o problema e como ele faria para vê-los, se é que eles iam querer vê-lo...

(continua...)

sexta-feira, novembro 18, 2005

A briga

- Me larga! Me solta! Você está me machucando e estou falando sério! - ela gritou com ele. A batalha estava só começando.

- Não solto! Não adianta você pedir! Não adianta gritar também, porque eu escolhi muito bem este lugar, e ninguém vai te ouvir!

Ele realmente estava enfurecido. Com uma das mãos, segurava o braço direito dela; com a outra, cravava os dedos da outra mão em seu rosto, como se quisesse impedir que ela falasse, respirasse e mal tivesse chance de abrir um dos olhos. Ele queria ferí-la, tomá-la com força, domá-la, mostrar que ele estava no controle. Não tinha a intenção de matá-la, mas estava com muita raiva. Com todo o peso que imprimira naquele ataque, ele a tinha encurralado num dos cantos do quarto.

Ela sabia que não poderia ficar naquela posição por muito tempo. Em fração de segundos, lembrou-se das lutas de boxe das madrugadas de sábado e pensou que tal submissão poderia conduzí-la a uma derrota... e ela não sabia onde tudo aquilo ia dar.

De repente, buscando uma força que nem sabia possuir, ela sacudiu aquele corpo musculoso e o deixou um pouco tonto, mas não o suficiente para impedir que ele a jogasse de encontro a outra parede. Neste momento, foi ao chão e espatifou-se o abajour que ladeava a cama. A iluminação, que já era bem reduzida, ficou restrita apenas a uma arandela que havia no hall de entrada. Ela bateu a cabeça com força contra a parede, abrindo-se um corte na parte posterior. O sangue começou a escorrer por seu cabelo e ela teve medo, pois ele a olhava sem pena.

- Fala, sua desgraçada! Fala o que eu quero ouvir! Por que você planejou tudo isto? O que você ganhou indo embora? Fala! - aos berros, ele exigia que ela dissesse o motivo que a tinha levado desistir de viver aquele amor, que mais parecia ter se transformado no maior ódio do mundo.

O cheiro daquele quarto infecto pareceu invadir seus pulmões. Ela teve mais um segundo para olhar em volta, e ver o quão sujo estava aquele lugar escuro. As paredes tinham marcas de pés. Os lençóis estavam amarelados. As fronhas que envolviam os travesseiros cheiravam a suor. O pequeno sofá de dois lugares que compunha o mobiliário estava manchado em vários pontos e alguns pedaços do tecido que o revestia já haviam esgarçado.

No instante seguinte, ele já estava por cima dela, forçando violentamente seu braço esquerdo para trás, num desejo cruel de quebrá-lo. Ela já parecia resistir menos.

- Por favor, não me machuca, eu não fiz nada, eu só fui embora! Não me machuca! Por favor!

- Isto para você não é nada?! Eu mudei a minha vida inteira para ficar com você, eu deixei minha família, mudei de cidade, comprei apartamento, troquei de emprego, abandonei meus filhos e você vem agora me dizer que não fez nada?! O que é o AMOR para você? O que você conhece da vida? Agora eu vou te ensinar...

Num golpe mais perverso e violento do que os anteriores, ele a pôs de joelhos. E puxando sua cabeça para trás, segurando os cabelos grudados no sangue escorrido, ele a fez olhar em seus olhos...

- Olha para mim!!! Olha para mim, sua vadia!!! Você quer saber o que é NADA? Isto é NADA! Eu sou NADA! Foi a isto que você me reduziu! Sua cachorra! Eu te odeio! Eu te odeio!

Ela olhou para ele com o amor que ele buscava. E também com muito medo. E, de repente, sem conseguir encará-la por mais tempo, sem conseguir encarar o resto de amor que ainda havia dentro dele, ele a soltou. Ela caiu para trás, como se faltasse chão embaixo de seus pés.

Ele saiu e bateu a porta. Fechou todos os trincos e a deixou lá.

- Eu volto, sua vadia! A gente vai acertar nossas contas.

(continua...)

sábado, novembro 12, 2005

Rebecca...


Rebecca Leão
Posted by Picasa

O início...

Amor, paixão, solidão, alegria, esperanças, futuro, passado, presente, ... , todos estes são temas para os escritos de Rebecca e seus amigos.

Aqui, vamos nos encontrar e nos perder nas aventuras de pessoas que sonham e detêm uma alma romântica, sem medo de escancarar para o mundo o que elas sentem e pensam.

Esperamos que vocês nos acompanhem nesta viagem...

Rebecca