domingo, maio 25, 2014

Amor, estranho amor - parte 6

Saudade dele...


Passou dias pensando nele. E nela. E neles juntos. Morreu de saudades. Queria vê-lo, queria saber dele, observar seus movimentos... Ao invés disso, optou por um distanciamento seguro. Não quis voltar a vê-lo como se nada houvesse acontecido.

Enquanto isso, ensaiou textos de despedida. Pensou em como poria os "pingos nos is". Precisava ouvir algo dele que desse significado ao que sentia.

Viu que ele ligou, uma, duas, três, ..., dez vezes. Ela não atendeu a nenhuma das chamadas. Ele parou de ligar. Orgulhoso, ela pensou, não ligaria mais. Então, o movimento tinha que vir dela.

Pois, depois de quinze dias sumida, sem dar notícias, ela resolveu ligar enquanto rumava de táxi de seu  escritório para outra base da empresa. Era um trajeto bem curto. Entrou no carro, avisou ao motorista que era um trajeto curto, combinaram o melhor caminho e partiram. Ela se ajeitou no banco e pegou no celular para falar com Marco. Bia estava bonita, era dia de reunião. Sentia que ele quase podia vê-la.

Respirou fundo, enquanto esperava que Marco a atendesse. Ele atendeu. E já foi resmungando...
Pôxa, por onde é que você andou todo esse tempo? Fiquei preocupado, sabia?

Ela esboçou um sorriso e puxou papo. Mas, não deu tempo. Viu o carro que vinha na outra pista dirigir-se na direção deles sem nenhum controle. Soltou o telefone, que caiu em seu colo, e gritou pro motorista: Cuidado, moço. E contraiu o corpo, procurando proteger-se, já que tinha o péssimo hábito de não colocar o cinto quando viajava no banco de trás.

Marco ouviu o grito. Segundos depois, ouviu também o tranco, a batida. E ficou chamando por Bia. Nenhuma resposta. O carro rodara diversas vezes e acabara no poste. Ninguém estava acordado para responder qualquer coisa.



Continua na parte 7.


domingo, maio 18, 2014

Amor, estranho amor - parte 5


Falar com ela ao final da tarde era rotina


Depois daquela tarde, de pernas e cheiros entrelaçados, de amores roubados, de ausência de promessas e declarações de amor, só corpo, só sexo, só o lado animal ali presente, Marco e Bia ficaram mais próximos um do outro. E também mais distantes.

Falavam-se todos os dias, compartilhavam acontecimentos rotineiros, trocavam confidências e segredos, abriam um para o outro seus ideais como se fossem parceiros de um crime que seria cometido em breve. Ou de um plano muito bem arquitetado.

No entanto, como se aquilo que viveram tivesse sido muito mais forte do que podiam suportar, não tocaram mais no assunto. Ainda avaliavam, cada um a sua maneira, se o custo de mudança seria mesmo bem maior do que o custo de oportunidade. Queriam repetir a dose, mas tinham medo das consequências.

O fato é que a dúvida que cultivavam os mantinha próximos, mas não o suficiente para torná-los amantes. Cúmplices, sim, mas não amantes.

De vez em quando, Bia se via perdida em seus pensamentos repassando aquela tarde saborosa, em que se sentiu amada como nunca, desejada como nunca, viva, finalmente! Estava nos braços do homem que queria, do seu homem! Não sabia como voltar àquele ponto. Tinha perdido o timming? Não acreditava! Mas, não sabia qual era o caminho para o coração de Marco.

Todas as tardes, enquanto dirigia para casa, Marco cumpria o ritual de ligar para Bia e saber como tinha sido o seu dia. Ouvir a voz daquela mulher, doce, o chamando de "meu amor", o fazia retornar àquela tarde, em que havia sido o melhor homem que uma mulher pode ter na cama. Ele sabia disso, ela sabia disso. Tinha medo de causar expectativas na Bia, sabia que ela tinha muito o que mudar na sua vida e não queria ele ser responsável por tanta mudança. E o pior de tudo, ele estava satisfeito com a vida que levava, não queria mudar nada, quando muito, ter com a Bia várias tardes como aquela. E seguia o caminho perguntando a si mesmo se estava sendo egoísta ou mesquinho... ou ainda, omisso.

Até que um dia, Bia não atendeu o telefone... e não retornou. E também não atendeu no dia seguinte...

Continua na parte 6.

Mia Couto


são só meninos...




De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
Mia Couto


No conto "O menino que escrevia versos"
Foto de Emmanuel Museruaka



quinta-feira, maio 08, 2014

Aniversários

Hoje é dia do aniversário de meu pai e de um amigo muito querido. Para eles, deixo aqui três imagens, do entardecer visto da minha janela.

Um dia de paz para vocês, meus amores!

Que o sol sempre volte a brilhar para vocês!

Que ilumine os seus caminhos, como obra de Deus...

Que pinte de beleza o céu das suas vidas!

Amo vocês! Beijos



Una basura esperta


Estive na Argentina mês passado e uma das coisas que mais me impressionou foi a lata de lixo. Imaginar uma cidade que recolhe seu lixo sem precisar de caminhões é realmente um luxo!

Latas de lixo (ou seriam coletores?) inteligentes

Tirei uma foto para mostrar a simplicidade. Três coletores colocados lado a lado, numa rua estreita, onde não passaria um caminhão, em pleno centro da cidade. O detalhe: à medida que elas enchem, um sistema movido a ar comprimido suga o lixo por meio de dutos ligados a uma central. Não há contato humano com o que fica ali depositado.

É ou não é um sistema inteligente? Um amigo inovador ainda pensou na possibilidade de haver um outro duto adicional ligado a este, em toda a extensão do trajeto, coletando o gás metano gerado pela decomposição do lixo e devolvendo este gás para a rede de abastecimento da cidade. Acho que ia ser show de bola!

Não há dificuldade nas coisas, o que há é falta de vontade política.


Infelizmente!



quarta-feira, maio 07, 2014

terça-feira, maio 06, 2014

Simplesmente Ana


Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei...
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.

Ana Cristina Cesar


segunda-feira, maio 05, 2014

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã...

Um novo sol, de um novo tempo...


Haviam se passado cinco meses. Cinco longos meses sem vê-lo. A lua estava diferente. Os dias estavam diferentes. No início, tudo parecia meio nublado, mas agora, o sol voltava a dar a sua cara e iluminava as manhãs outonais de modo especial.

De repente, um convite dele. E uma recusa dela. Um novo convite. E ela, respondeu com um "talvez, quem sabe".

Queria o quê ele agora? Queria a oportunidade de encenar a cena derradeira, na qual ele olharia para ela compadecido de tamanho amor não correspondido? Queria palco para ser novamente aplaudido pela sua "fã de carteirinha"? Ou então queria um tempo com ela para olhar em seus olhos e enxergar o tamanho da sua perda?

Sim, ele perdeu talvez aquela que tenha sido a sua maior amiga... sua companheira de jornada....

Ela, uma criatura indomável, que não aceitava cabresto de pai, mãe, namorado, marido, e que tinha escolhido ser dele, deixar-se domar por ele, estava agora recusando seus convites, seus chamados. Mudara de ideia. Não queria mais. Estava feliz e liberta sem a sombra daquele amor em sua vida. Tinha resolvido viver e sentir tudo de uma só vez, intensamente, e finalmente, percebera o quão ilusório era aquele amor. Havia optado por amar a si mesma. Corria leve pelos campos, ciente de sua força, capaz de mover montanhas e impulsionar o mundo... Corria leve, solta e feliz...

Por que então voltaria ao cárcere de livre e espontânea vontade? Não, não tinha porquê. O tempo de sombras e dúvidas havia passado. Só ele, o amor tão Barba Azul, não percebera. De todas as suas maldades, mantê-la à sua disposição sem lhe oferecer nada em troca foi a pior. Ela, que sempre quis tão pouco.

Mas, muito é muito pouco quando se trata de amor. E ela estava agora em busca de amor. Não seria uma migalha o suficiente para trazê-la de volta.

Por isso, um "talvez, quem sabe", com uma profunda certeza de "jamais"...