quinta-feira, julho 30, 2015

Refletindo e meditando sobre a vida na metrópole-balneário...


Copacabana. Foto: Thiago Lontra, Agência O Globo

Momentos de reflexão, totalmente em silêncio. Enquanto tomo um café ou caminho, vejo/escuto as seguintes cenas:

Cena 1
Rapaz ao telefone, sentado à mesa do café de frente para uma moça. Diz que estão ali porque estão fazendo aniversário de casamento. A moça começa a ficar emburrada. Ele desliga e se põe a teclar loucamente. Ela pergunta duas ou três coisas, mas ele não escuta. Ela fala para irem embora, ele não escuta. Ela pergunta se ele já pagou a conta e ele faz que sim com a cabeça. Ela está visivelmente incomodada de "estar invisível". Eu a percebo perfeitamente.

Cena 2
Na Casa e Vídeo, uma senhora conversa com um rapaz bem novinho enquanto esperam por um embrulho. Ela pergunta se ele já arrumou o quartinho. Ele diz que precisa conversar sobre isso com ela, porque andou fazendo um levantamento de preços e viu que o hospital perto da casa dela (sua namorada) cobra em torno de R$ 6.000,00. Quer dicas de lugares que podem ser mais baratos para o parto. Ela quer saber mais. Não parecem mãe e filho, mas colegas de trabalho.


Cena 3
Na porta de um boteco, uma mulher bêbada diz a uma senhora aos berros que ela "não merece o filho que tem, não merece". A senhora baixa os olhos, consternada.


Cena 4
Um flanelinha muito louco ajuda uma mulher num 4x4 a estacionar e só manda a dita parar depois que ela já derrubou a moto que estava estacionada. Sob o meu olhar, ele me encara e grita pra mim: "Bem vinda à minha casa"...


Continuo a minha caminhada, minha reflexão e meditação. Chego a conclusão que estamos na cidade das almas perdidas...

Essa reflexão faz parte de uma experiência proposta por Howard Gardner no livro "O Verdadeiro, o Bom e o Belo Redefinidos", no qual ele propõe ao leitor que fique um dia sem fazer a avaliação sobre o que é verdadeiro, o que é bom e o que é belo, desconsiderando esta tríade grega.

Eu não consegui. Pela minha descrição das cenas, você pode perceber que eu fiz julgamentos em todas elas.

domingo, julho 26, 2015

O Sal da Terra

"Nós, os Humanos, somos o Sal da Terra". Assim, Wim Wenders tenta explicar o nome do documentário sobre Sebastião Salgado que o codirigiu com seu filho mais velho, Juliano Ribeiro Salgado.

Cartaz do filme exibido no Brasil.


"O Sal da Terra" não é um filme incrível apenas por contar a história de Sebastião Salgado, sua mulher Lélia e sua família e sua relação com a terra e com a Terra.

É também um filme de um diretor maravilhoso, Wim Wenders, que faz de cada imagem do próprio Sebastião uma fotografia a sua altura.

Wim Wenders


É um relato da dor que é ser um fotógrafo social, da dor que acomete a alma de quem fotografa e que, na maioria das vezes, nada pode fazer por aqueles que estão à frente de suas lentes. 

Mulher tuaregue cega, foto: Sebastião Salgado

"A força de um retrato é que, numa fração de segundo, você entende a vida daquela pessoa" - Sebastião Salgado


Foto: Coleção Exodus, Ruanda, Sebastião Salgado
"Nós, os humanos, somos animais muito violentos. A história da Humanidade é uma história de guerras. Uma guerra sem fim..." - Sebastião Salgado



É uma história da coragem de um homem e de um núcleo familiar que decidiram mudar seu destino e sua relação com sua propriedade (uma terra de 600 hectares em MG) e replantaram 2,5 milhões de árvores da Mata Atlântica, permitindo o renascimento de 1000 nascentes de água. 

Lélia e Sebastião a frente das mudas...


... que deram origem às milhões de árvores plantadas na propriedade da família. Hoje, Instituto Terra, propriedade de todos.

 O que dizer de mim? Estou embasbacada! E feliz de ter podido ver esse documentário hoje. Meu próximo passo: vou atrás deste Instituto Terra.

Férias acabando

Estes últimos quinze dias foram um período de intensa reflexão. De escolhas que mais se aproximavam de mim, e não do que o que era tendência. Busquei livros para estudar, filmes com a minha cara, passeios na minha cidade que eu nunca fizera, mas que eram o que eu queria fazer desde sempre. Vou contar deles aqui pra vocês...

Ontem, fiz duas boas escolhas. Dois filmes lindos, franceses, histórias muito bem delineadas.

O primeiro foi Belle et Sébastien, história linda de um menino órfão de seus seis anos que fica amigo da "besta", uma cadela selvagem que tem fama de comer ovelhas, mas que na verdade é uma fofa. Eles vivem nos Alpes franceses, na fronteira com a Itália e, em plena segunda guerra mundial, o vilarejo onde vivem está ocupado pelos soldados alemães.



Eu simplesmente me apaixonei pelos dois. O garoto é muito esperto. A história, muito bacana, e na refilmagem foram inseridos alguns elementos que a tornam atrativa não só para as crianças, mas também para os adultos. O cachorro é simplesmente lindo. E a música, do israelense Amrand Amar, é incrível! Recomendo!



Em seguida, decidi ver um outro francês, Pour une Femme, totalmente por acaso. Do mesmo ano que o anterior (2013), com música do mesmo israelense, este filme fala do pós-guerra, neste caso também a segunda, e mostra a caçada empreendida por alguns grupos contra os alemães nazistas, em busca de justiça pelas próprias mãos.

A história é bem amarrada, porém algumas situações são um tanto óbvias. É excelente para continuar a prática do francês, mas não chega a comover como o primeiro. De qualquer modo, é filme inteligente para gente inteligente. O que fica subentendido, a gente acaba entendendo no final.



Dos atores principais, Benoît Magimel fez um estilo Robert De Niro por todo o filme, com suas caras e caretas e seu jeitão de mafioso. E não pude deixar de lembrar da nossa Bruna Linzmeyer com a Mélanie Thierry. Olha eles aí...


Bom, é isso. Ando cansada do que vejo na tv. Estou em busca do alternativo, do francês, do alemão, do espanhol, do argentino... Um sopro de renovação no ar!

Espero que vocês aproveitem estas duas dicas! Mercy!



terça-feira, julho 21, 2015

A noite

A Noite
Tiê

Palavras não bastam, não dá pra entender
E esse medo que cresce e não para
É uma história que se complicou
E eu sei bem o por quê

Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você

E quando chega a noite e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na mão

Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de você

Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu
Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor
Essa paixão é antiga e o tempo nunca passou

E quando chega a noite, e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão

o vazio


Sem se dar conta, não percebe sua aproximação. Sente uma gastura, uma falta, uma inquietação. Causa uma aflição, um desassossego. E se instala. O vazio. Nada o preenche, ele sabe. Não é externo, é existencial. Por vezes, causa dor física. Não lhe impele a fazer algo, ao contrário, clama pelo ócio. Faz com que ele o confunda com preguiça. Mas não é. O vazio o leva a olhar o branco do teto. Encontra rachaduras, pequenos insetos nos cantos, percebe sujeiras, restos de teias. O vazio o oprime. É como o calor de verão no Rio de Janeiro, abafado. Perde água. Pede água. O vazio é a falta dela, tem o cheiro do perfume do cabelo dela, faz o barulho do andar dela, do mastigar dela, do gargalhar dela. O vazio é úmido, e seco. O vazio é ela.

o que importa é ser feliz...

Bateu uma porta. Bateu a segunda porta. Saiu pela porta da rua, batendo a terceira porta. Estava cansada daquele casamento.

Passou pelo porteiro do prédio, sem sequer vê-lo. Ao bater o portão, olhou pra um lado, olhou para o outro e teve a sensação de que tinha que andar, tinha que sair por aí, esfriar a cabeça.

Caminhou até a rua mais movimentada, onde decidiu tomar um táxi. Sabia onde gostaria de estar. Deu ao taxista apenas o nome do bairro, pois não sabia seu endereço.

Ao chegarem, o motorista perguntou a ela: "para onde vamos?" Ela simplesmente não sabia. Mas decidiu que aquela viagem não teria retorno.

Ligou pra ele e aguardou ansiosamente que ele a atendesse. "Oi, estou aqui por perto, posso passar na sua casa?" Surpreso, ele disse que sim. "Mas eu não tenho seu endereço. Pode passar pra mim?"

Em cinco minutos, ela estava em pé na porta do seu apartamento, esperando por ele. "Posso dormir aqui?"

Notadamente, ele estava sem jeito por apresentar a ela uma casa displicentemente arrumada. Parecia que ele não tinha apreço por aquele lugar. Ela entrou, caminhou por todos os cômodos acompanhada por ele, mas não reparou nos detalhes, apenas procurou senti-lo ali, percebê-lo o mais em praticamente possível.

"Vejo que você estava escrevendo. Pode continuar. Eu só preciso de um cantinho para dormir".

"Estava sim. Mas você não quer conversar um pouco?" "Não, estou muito triste, preciso de um canto para dormir um pouco, posso?" "Pode, dorme na minha cama, eu vou varar a madrugada escrevendo, se isso não te incomoda".

Ela então tirou os sapatos, os brincos, os anéis, a calça jeans, ficando apenas de camiseta. Foi até a sala, e pediu a ele apenas um favor, tinha medo dos cachorros. "Você teria como manter os cachorros longe do quarto, eu tenho medo deles?"

"Claro, claro, eles não vão te incomodar. Pode dormir tranquila, eu vou ficar por aqui".

Assim que ela se deitou, ele encostou a porta e voltou ao trabalho. Ainda pôde ouvi-la chorando baixinho. Não sabia muito bem como agir, nem como tratá-la, nem o que fazer para agradá-la.





Embarcou novamente no trabalho, desconectando-se daquele problema, mas, de tempos em tempos, a imagem dela voltava a sua mente. No meio da noite, resolveu checar se ela estava bem. Foi até o quarto, abriu a porta que estava entreaberta, e sem acender a luz, caminhou em direção da cama.




Subitamente, ele decidiu que não ia apenas olhar pra ela. Deitou-se ao seu lado. Num impulso, passou a mão por seus cabelos desalinhados, como se pudesse tirar dela todo o sofrimento que ele sabia que ela sentia. A vida inteira, desde que se conheceram, sempre foram muito próximos, e ele sabia o que ela sentia, sabia o tamanho daquele vazio.

Ao tocar nela, ela acordou, mas não fez nenhum movimento, sequer abriu os olhos; ficou ali, sentindo o prazer daquele toque, um toque que há muito tempo ela não tinha. Relaxou o corpo. Percebendo que a tinha agradado, ele aproximou seu corpo do dela, encaixou-se em concha, passando o braço por sobre os seus seios. Encostou seu rosto no rosto dela e ficou em silêncio, sentindo a sua respiração. Ela estava onde sempre quisera estar, nos braços dele.





Ela sabia que qualquer movimento poderia afastá-lo. E por isso, decidiu apenas ficar ali, na segurança daquele abraço. Passaram alguns minutos abraçados, e ele também começou a sentir uma paz, uma
tranquilidade, uma plenitude... Mas tinha medo. Um movimento em falso poderia pôr a perder uma amizade de uma vida inteira.

Eles finalmente dormiram. Quando amanheceu, deram-se em conta que haviam dormido abraçados. Com sua voz grave, ele disse em seu ouvido: "bom dia, moça, dormiu bem?" Percebeu então que seu braço estava adormecido. Ela finalmente virou-se para ele, e depois de abrir um sorriso, o beijou delicadamente. "Esse é o jeito que eu tenho pra te agradecer por ter me deixado dormir aqui. Muito obrigada".

Ele resolveu retribuir o beijo. Deu um, mais um, e mais um. Ela, que já tinha achado que não havia intimidade maior do que dormirem juntos, resolveu finalmente que era tempo de ser feliz, entregando-se a ele. Naquela manhã, ela se sentiu plenamente feliz. E ele também.





E aquela casa desarrumada, de repente passou a fazer sentido. E com a presença dela, ele passou a ter vontade de arrumar aquela casa, enfeita-la, encher de flores, perfumes, odores, essências, matizes, temperos...


Ela veio por uma noite, depois mais uma, e mais outra, e encheu a vida dele de sentido. O que era bom quando eram apenas amigos, ficou mais consistente, mas não ganhou nome, para não estragar. Porque o que importa para os dois é estarem felizes...