domingo, maio 20, 2012

Traídos

 
Ele bateu a porta, deixando para trás 20 anos de vida em comum, 10 anos de prestações da casa própria ainda não pagas, muitas brigas, muitos sonhos e, principalmente, o amor da sua vida.

"Não tem volta!", pensou, "desta vez, não tem volta!".

Descobrira recentemente o caso de sua mulher. Não sabia se teria sido o primeiro. Já durava dois anos. Depois de um tempo de romance escondido, ela passou a lhe deixar pistas. Fazia de tudo para que ele descobrisse sua "pulada de cerca".

Ele, que havia meses já tinha percebido a mudança de comportamento de sua mulher, fazia que não via. "Ah, mas está bom assim. Ela mudou, se arruma mais, sai mais com as amigas, não me enche o saco e não me cobra mais aquele sexo banal de fim de semana. Ah, pra quê eu vou procurar saber o porquê. Está ótimo. Posso continuar aqui com o meu jornal".

Era isso que a torturava. Se sentia traída pela falta de interesse dele.

De repente, tudo ficou demais. Agora ela estava iluminada. Ria alto. Mudou o cabelo, emagreceu, fazia ginástica, yoga, pilates, com o maior afinco. Deu um jeito na carreira, arrumou novos amigos, saía para 'happy hours', vivia viajando. Ele havia sido relegado a um segundo plano bastante dolorido. "Não que eu me importe", pensava ele quando ela saía.

Ela já não falava mais com ele quando entrava em casa, não perguntava mais o que ele queria comer enquanto preparava o jantar e havia cismado em deixar a fatura do cartão de crédito aberta em cima da mesa... sempre!

Um dia, ele resolveu investigar onde ela gastava seu dinheiro. Começara a comprar numas lojas diferentes, lojas de homem, coisas que ele não vira pela casa, nem eram pra ele. Desconfiou, muito. Perguntada algumas vezes sobre aquilo, ela mudou de assunto, inventou descuplas rotas, saiu pela tangente. Mentiu de um jeito estranho, como que se não quisesse mentir.

Ele então sentiu falta de sua raquete de tênis, sa sua bola de voley, de tempos em tempos parecia que algo saía a passear com ela. Ela viajava a trabalho, mas levava maiô, chapeu de palha, chinelo e muitas, muitas roupas informais.

Um sábado de manhã, enquanto tomava seu uísque e esperava pelo almoço de família, assisitiu impávido a ela colocar um CD do Chico para tocar e sair cantarolando...


"...Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo por que choras, quando eu choro de rir
Te perdôo por te trair..."

"Aí, não". Catou o CD do Chico, mudou de roupa e saiu. "O Chico, não. Aí, não tem volta".


Música do dia: Mil perdões - Chico Buarque


domingo, maio 13, 2012

Casamentos

Hoje, eu finalmente vi "Sex and the City 2". Ao contrário do que todos os meus amigos disseram, e a crítica especializada também, eu não achei o filme ruim.


Ao contrário, ele me fez pensar num monte de coisas. Por exemplo, no que é um casamento feliz. Nesse dia das Mães em que, por causa de uma árvore caída e de uma chuva torrencial que causaram um nó no trânsito da Zona Sul do Rio, eu não consegui ver a minha mãe, o filme me fez pensar se o único casamento feliz é aquele no qual um casal constitui uma família, com uma prole gigante para dar continuidade aos seus genes.

Será que é esse mesmo o único casamento feliz? Será que esse será o meu casamento feliz?

Será que para estar casado, não é preciso muito mais do que isso? Não é preciso cumplicidade, ao menos, como passam Carrie e Big/John nesse papo "olho-no-olho" nessa cena aí em cima, já no finalzinho do filme?


Para se ter um casamento feliz, acho que é preciso tentar e tentar e tentar e tentar todo santo dia, da hora em que você acorda, até a hora de ir dormir.

Eu aceito. E você, aceita?

Essa é a temática do livro que Carrie Bradshaw está lançando no filme, falando das dificuldades dos dois anos de casamento, da saudade que ela sente da Carrie dos tempos de solteira. Acho que, nas entrelinhas, o que ela quer discutir são as diferenças, será que a gente aceita que o outro é diferente, pensa diferente, sonha outras coisas, tem outros desejos?

Ah, mas da vida de solteira dá saudade mesmo. Eu já senti esta saudade de mim várias vezes. Você começa a se questionar tanta coisa. Do que você gosta, de onde estaria se estivesse sozinha, das menores coisas, como o que fazer no seu tempo livre, ir às exposições, peças de teatro, filmes, baladas... tudo passa a ser negociado. Até na hora de dormir, você tem que dividir: a cama, o espaço, o silêncio, a temperatura do ar condicionado... Só com muito amor mesmo.


Estar casado é ainda mais difícil quando são muitos anos de vida em comum, nos quais a convivência, o hábito e a repetição do cotidiano se tornam maiores do que a lembrança do que é namorar. A gente se vê afogado em afazeres domésticos e quando a noite cai, se dá conta de que está cansado demais para pensar em sair, em curtir junto, em namorar de fato...

Por isso é que casamento é construção. É uma relação bilateral, os dois tem que querer. Se não, um dia você acorda e está simplesmente vivendo com alguém que divide as contas contigo. Só isso. Estar casado é uma das tarefas mais difíceis do mundo.

Mas, se não experimentá-la, como sabê-la?

quarta-feira, maio 09, 2012

Tudo que vem tem volta

Não, eu não quero acreditar na arrogância, no mal jeito e na falta de cuidado das pessoas. Estou cansada de ter que ser compreensiva, de levar desaforo pra casa, de ter que medir minhas palavras e ter todo o cuidado do mundo para não ferir suscetibilidades.

Não, não é isso que eu quero pra mim. Quero que me cuidem, e que me vejam como alguém que merece cuidado. Assim como eu cuido dos outros. Quero que me chamem num canto para me dar um feedback, seja ele negativo ou positivo. E que pensem duas vezes antes de me dar uma notícia ruim, em como vão me dar essa notícia ruim. Porque eu sofro, como todo mundo. Quero que respeitem o meu trabalho e que me vejam como uma profissional dedicada. Que é o que eu sou.

O que está faltando para que isso aconteça? Será que sou eu, ou será que as pessoas perderam a medida? Será que as empresas são todas umas casas de fabricar malucos?

Estou cansada de ser encarada como alguém forte, que tem o coração de pedra, durona, que aguenta qualquer tranco. Não, eu não aguento.



Fico pensando no que ando fazendo de errado. Se estou reclamando que algo não vem do jeito que eu gostaria, é porque talvez eu não esteja dando a mensagem correta. Mas, também, tem horas que a única coisa que eu quero dizer é que estou de saco cheio. E eu tenho esse direito, ou não?

Parem, parem, por favor, esse bonde que eu quero descer.

segunda-feira, maio 07, 2012

Vazios criativos e outras bobagens

Tem dias que a gente precisa tanto escrever, mas tanto, que... dá "chabú". Não sai nada. Nem aqui pro blog, nem pro trabalho!

Eu estou me devendo um artigo acadêmico. É, isso também faz parte do meu show. Preciso publicar urgentemente. A ideia até anda por aqui, eu sei sobre o que eu quero escrever, mas não consigo sair da inércia.

Foi assim também na época da tese de doutorado. Tentava, tentava e nada. Depois, segui os conselhos do meu professor de metodologia científica e a coisa andou: escrevi boa parte da tese à mão.

É, talvez seja isso que esteja me faltando. Um bom lápis e um caderno. Os livros que usarei como referência já estão separados. Os textos, lidos. Só falta juntar tudo, colocar no liquidificador e ... pronto!

 
Não adianta espremer o cérebro, não adianta pedir: "pelo amor de Deus, cabecinha, PRODUZA!" Tem que ter disciplina, tem que pensar em alguma coisa todo dia, quem sabe a nuvem vai embora e a gente consegue gerar algo que preste!

Porque não é só escrever por escrever. É escrever uma coisa bem bacana. Porque o que se produz fica pra semente, se espalha no vento, as pessoas lêem. Ah, pode ter certeza, as pessoas lêem e depois vêm até falar contigo... aí, há que se ter responsabilidade, não se pode ter vergonha não.

Penso que às vezes é o mundo da internet que me tira a atenção, o foco, pois eu começo a olhar uma coisinha aqui, outra ali, e quando vejo, já estou "viajando"...

Enfim, tomara que em breve eu tenha melhores notícias para dar a vocês.

domingo, maio 06, 2012

Equilíbrio

Eu adorei esse vídeo. Meu marido sentenciou: nossa, como é difícil de ver! Mas, eu achei a mensagem final muito incrível.


Filme: Balance-Exclusive Oscar Winning Cartoon (1989)


A gente só consegue entender no último minuto. Mas, uma pista é que a ênfase é na colaboração e não na competição. Se todos soubessemos disso!?

terça-feira, maio 01, 2012

Casa





Não adianta correres, garota. Tu estás a viver em uma casa de velhos, onde o piso e as portas rangem sem parar. Não tentes enganar o tempo, travando o despertador pela manhã. Nesta casa, tu tens que esperar a água aquecer e depois cair fraca sobre a sua cabeça e ombros.

Tens que entender das gambiarras e artimanhas constantes nos canos, torneiras e circuitos elétricos. Não tenhas surpresas, garota, não há de ser nada!



Se algo te vales de consolo, garota, tu tens hoje um pedaço desse castelo antigo, rodeado de plantas bem cuidadas, numa rua igualmente bucólica, um quê de aristocracia europeia, falida, ainda que seja, mas que podes reformar a qualquer tempo.



Não tenhas pressa, garota. Tens um tempo só teu, para usufruir da paz de tua casa, com seus barulhos e contratempos de todos os dias que são só teus.

Há que se acostumar com ela, garota, e sentí-la cada vez mais tua todos os dias!

Música do dia: O Paraíso - Madredeus

Alice in the Wonderland, de 2010


Quanta diferença! O filme de Tim Burton é repleto de efeitos especiais em 3D e deixa o espectador abismado com tanta tecnologia. É difícil dizer quem está melhor, mas o Jonny Deep como Chapeleiro Louco é incrível.



A história funciona como uma continuação.Alice, agora aos 19 anos, está em uma festa da nobreza em Londres, onde vive, até que descobre que está prestes a ser pedida em casamento. Desesperada, ela foge seguindo um coelho branco, e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou quando tinha seis anos mas não se lembrava mais. Lá ela é novamente saudada pelo Coelho Branco, a Dormidongo, o Dodô, os gêmeos Tweedledee e Tweedledum e várias flores falantes, no caminho ainda encontram a Rainha de Copas e a Rainha Branca. Eles discutem sobre a sua identidade como "a verdadeira Alice"... Ela precisa provar a todos que é a verdadeira Alice matando o Jaguardarte, porém, Alice não se lembra de nada de seu passado no País das Maravilhas, então ela toma uma escolha... só vendo o filme para saber o resto!

Aqui um poquinho do making-off  do filme...




Eu adorei, até escrevi sobre ele aqui no blog na época em que o vi no cinema. Para quem não viu, corra, veja já!

Quem observa a tecnologia presente no primeiro filme, o de 1903, e vê este do Tim Burton, consegue concluir sobre o quanto evoluimos no sentido de colocar a tecnologia em função do entretenimento e da diversão! É o mundo da Sociedade do Conhecimento, onde certas profissões são cada vez mais valorizadas e admiradas por todos nós, como esses editores fantásticos que agora criam sobre telas verdes de cromaqui.