segunda-feira, dezembro 14, 2015

Quem é você?

Quem é você? Eu não sei.
O que você quer? Dava tudo pra ter uma pista.
A tua vida é injusta, você não tem o que acha que merece, mas o quanto luta para ter? O quanto já se deu por vencido!? Muitas vezes?
Será realmente mais fácil deixar a vida te levar?
Será que o destino é amigo de quem faz pouco pelo teu desejo? Quantas vezes você já desistiu antes de tentar? Muitas vezes? Quantas vezes você não inventou para si mesmo desculpas para justificar mudanças de plano? Quantas vezes você não ouviu o precipício te chamar, ou olhou bem dentro de sua garganta?
Quantas vezes você optou por sumir apenas para não se sentir responsável por quem se importa com você? Você se importa com alguém além de você mesmo?
Eu não sei. Dava tudo para ter uma pista.
Quem é essa pessoa que insiste em não crescer? Quem é esse que insiste em não pensar no futuro? Quem é esse alguém que deixa tanta coisa e tanta gente pelo caminho?
Quem é esse que é julgado, que é taxado de malandro, que odeia isso, mas não se furta a julgar o primeiro que não faz o que você quer?
Eu não sei. Dava tudo para ter uma pista.

sexta-feira, dezembro 11, 2015

Breu

O tempo não passa quando se está sem luz. O que se vê são lares no escuro. E uma claridade incômoda na linha do horizonte, vinda de outro canto muito aceso. 

Ao fundo, se pode escutar uma criança resmungando. Pode ser de calor. Afinal, somos a  humanidade que não sabe mais viver sem ar... condicionado(s). Por todos os lados, um apito constante e fino. Aqui em casa. Em outras casas. São os "no breaks" dos lares modernos. Não se pode viver sem internet. Sem luz até, mas internet, nunca! 

Carros estacionam nas portas das garagens, impedidos de entrar. Dependem da energia que não há. Como fomos nos deixar ficar tão dependentes?

O vento assovia pela janela. Vem chuva aí. Eu daria tudo para ver as estrelas. Mas elas não me aparecem neste céu de cidade grande.

O breu já foi mais breu.

Sim...

Sim, eu vou chegar em casa. E vai estar tudo lá. O que construímos e o que ainda não fizemos. Os sonhos, os planos. Menos você.

Sim, é temporário. Eu sei que você volta, você sempre volta. Mas eu vou ter que conviver com a sua ausência, vou ter que preencher meus dias, e entender o que é esse vazio que eu vou sentir. Porque, sim, eu vou sentir.

Sim, eu vou sentir falta do teu corpo ali na cama, na hora de dormir. Vou sentir falta do teu ronco, da tua respiração. Eu vou dormir por muito tempo espremida no lado direito, mesmo que tenha a cama toda para mim. E vou esperar por cada chamada, cada telefonema, cada minuto que você resolver interromper a sua viagem, sua agenda cheia para lembrar de mim.

Sim, eu vou me sentir amada cada vez que você lembrar de algo que sabe que eu gosto, e mandar um whastapp ou sms para avisar que comprou para mim uma bobagem de um creme ou um batom de uma cor qualquer. E vou sentir meu coração bater mais forte, ao achar um recado escrito às pressas num pedaço de papel: "amor, te amo". Cada lembrança é como um ato de amor.

Sim, eu acho que isso é amor. Acho que com mais ninguém nesta vida eu vou sentir isso. Por mais eu que me apaixone mil vezes por um desconhecido na rua, eu acho que é ao teu lado que eu vou envelhecer. É com você que eu quero ficar, brigar, me enroscar, é com você que eu quero viajar, e é com você que eu quero tirar selfie dentro do carro no meio do engarrafamento.

Sim, eu acho que dá pé. Que a gente ainda consegue se entender, que a gente ainda tem muito tempo para pôr nossos planos em dia. Se você quiser, eu acho que a gente ainda tem muito para fazer juntos.

Sim, eu gosto que você cuide de mim, e eu gosto de cuidar de você. Se isso não é amor, não sei que nome se dá.

Sim, obrigada por você voltar. Por sempre voltar para mim.

sexta-feira, novembro 06, 2015

Um casal que se merece

Um homem centralizador. Uma mulher que, com o tempo, se tornou imprestável. Não consegue decidir a comida que vai dar aos próprios filhos. Tudo pergunta a ele.  Por incrível que possa parecer, isso existe, em pleno século XXI. Interioranos sim, mas viajados. Viajam o mundo todo. Mas de fato são dois "bois de botas". Ela ocupa um cargo de gestão numa grande multinacional, mas não consegue decidir a posição da vírgula. Tudo divide com ele. E ele, decide por ela. Cada vez que ele fala com ela ao telefone e ordena alguma coisa, sinto que a desmerece. Ele a torna tão pequena, tão dependente, que dá dó. 

Eu não tenho nada a ver com isso. Não são meus amigos, não tenho convivência. Mas me irrito. Ela é uma afronta à classe. Ela joga fora todos os dias a luta das que queimaram os sutiãs e foram atrás de sua independência, de suas escolhas, do seu caminho, do seu dinheiro, sem precisar do cabresto de macho algum. É, acho que é por isso que eu me irrito.
 
A propósito, como minha avó sempre disse: "só fazem com a gente o que a gente permite".

sábado, outubro 17, 2015

Perdido em Marte

Você já foi ver "Perdido em Marte"? Não?

Esqueça "Gravidade" e o que mais você já viu. Ridley Scott marcou um gol de placa. Num mesmo filme, ele discute Ética, Estratégia, Gestão de Pessoas (liderança e talentos), Gestão de Crise, Gestão de Risco, Justiça, Meio Ambiente, Botânica, Direito Internacional...

Ah, e você estuda Gestão do Conhecimento? Então, você PRECISA ver esse filme. É pra usar em sala de aula. O ego, a humildade, a empatia, a cooperação, a colaboração, o tácito, o explícito, o implícito... Está tudo lá.

E a trilha sonora? Um caso à parte! Um David Bowie surpreende no meio do filme...




Enfim... É longo, mas emociona. É uma ode ao conhecimento técnico norte-americano (Nasa), mas tem lá suas surpresas... Vale muito à pena!


Fiquei tão empolgada que bati essas fotos aí pra vocês...
Palmas para o Matt Damon!







terça-feira, outubro 13, 2015

Falta

Bateu na minha porta. Pediu ajuda. Era tarde. Temi em abrir, não sabia quem era. Olhei pelo olho mágico, ele estava lá. Subiu sem ser anunciado, nem sei como entrou no prédio. Demorei a abrir. Ele pediu de novo: abre! Deixa eu dormir num canto qualquer. Estou com fome, me dê de comer. Eu dei. 

Arrumei o sofá pra ele. Separei sabonete e toalha e lhe ofereci um banho quente. Sequei seus longos cabelos. Aparei-lhe a barba. Fiz-lhe um caldo para aquecer-lhe a alma. O corpo ficou enrolado no meu pobre roupão branco velho por um tempo. Aqueceu aos poucos e eu ali, olhando. Fui olhando para aquele homem de grandes cabelos e de grandes falhas na barba e quando me dei conta, tinha mergulhado no oceano daqueles olhos azuis. Eu teria dado a ele tudo que quisesse. A minha casa, minha esperança, minha força, meu carinho, minha gana de viver, meu amor, minha alma lavada... 

Ele só queria um lugar onde pudesse se recompor. Dormiu calmo, tranquilo, no conforto do meu sofá. Enquanto isso, eu, na minha cama, permaneci insone, pensando nele. No meio da noite, ajoelhei ao seu lado e toquei seus cabelos e cuidei dele como quem cuida de um príncipe. Ele abriu os olhos e voltou a fecha-los, segurando a minha mão. 

Amanheci ao seu lado, corri para preparar-lhe um café reforçado e aguardei calmamente que ele acordasse. Ele acordou, juntou os cachos do cabelo num rabo-de-cavalo e sentou-se à mesa. Comeu delicadamente, em silêncio, enquanto continuava me olhando. Eu ainda tinha em mim a sensação de que o mundo inteiro, o mundo de que eu precisava, estava dentro daquela cozinha. Eu o servi até que ficasse saciado e me dissesse para parar. Ele então limpou a boca e me deu um beijo no rosto. E saiu.

Eu nunca mais o vi.

quinta-feira, julho 30, 2015

Refletindo e meditando sobre a vida na metrópole-balneário...


Copacabana. Foto: Thiago Lontra, Agência O Globo

Momentos de reflexão, totalmente em silêncio. Enquanto tomo um café ou caminho, vejo/escuto as seguintes cenas:

Cena 1
Rapaz ao telefone, sentado à mesa do café de frente para uma moça. Diz que estão ali porque estão fazendo aniversário de casamento. A moça começa a ficar emburrada. Ele desliga e se põe a teclar loucamente. Ela pergunta duas ou três coisas, mas ele não escuta. Ela fala para irem embora, ele não escuta. Ela pergunta se ele já pagou a conta e ele faz que sim com a cabeça. Ela está visivelmente incomodada de "estar invisível". Eu a percebo perfeitamente.

Cena 2
Na Casa e Vídeo, uma senhora conversa com um rapaz bem novinho enquanto esperam por um embrulho. Ela pergunta se ele já arrumou o quartinho. Ele diz que precisa conversar sobre isso com ela, porque andou fazendo um levantamento de preços e viu que o hospital perto da casa dela (sua namorada) cobra em torno de R$ 6.000,00. Quer dicas de lugares que podem ser mais baratos para o parto. Ela quer saber mais. Não parecem mãe e filho, mas colegas de trabalho.


Cena 3
Na porta de um boteco, uma mulher bêbada diz a uma senhora aos berros que ela "não merece o filho que tem, não merece". A senhora baixa os olhos, consternada.


Cena 4
Um flanelinha muito louco ajuda uma mulher num 4x4 a estacionar e só manda a dita parar depois que ela já derrubou a moto que estava estacionada. Sob o meu olhar, ele me encara e grita pra mim: "Bem vinda à minha casa"...


Continuo a minha caminhada, minha reflexão e meditação. Chego a conclusão que estamos na cidade das almas perdidas...

Essa reflexão faz parte de uma experiência proposta por Howard Gardner no livro "O Verdadeiro, o Bom e o Belo Redefinidos", no qual ele propõe ao leitor que fique um dia sem fazer a avaliação sobre o que é verdadeiro, o que é bom e o que é belo, desconsiderando esta tríade grega.

Eu não consegui. Pela minha descrição das cenas, você pode perceber que eu fiz julgamentos em todas elas.

domingo, julho 26, 2015

O Sal da Terra

"Nós, os Humanos, somos o Sal da Terra". Assim, Wim Wenders tenta explicar o nome do documentário sobre Sebastião Salgado que o codirigiu com seu filho mais velho, Juliano Ribeiro Salgado.

Cartaz do filme exibido no Brasil.


"O Sal da Terra" não é um filme incrível apenas por contar a história de Sebastião Salgado, sua mulher Lélia e sua família e sua relação com a terra e com a Terra.

É também um filme de um diretor maravilhoso, Wim Wenders, que faz de cada imagem do próprio Sebastião uma fotografia a sua altura.

Wim Wenders


É um relato da dor que é ser um fotógrafo social, da dor que acomete a alma de quem fotografa e que, na maioria das vezes, nada pode fazer por aqueles que estão à frente de suas lentes. 

Mulher tuaregue cega, foto: Sebastião Salgado

"A força de um retrato é que, numa fração de segundo, você entende a vida daquela pessoa" - Sebastião Salgado


Foto: Coleção Exodus, Ruanda, Sebastião Salgado
"Nós, os humanos, somos animais muito violentos. A história da Humanidade é uma história de guerras. Uma guerra sem fim..." - Sebastião Salgado



É uma história da coragem de um homem e de um núcleo familiar que decidiram mudar seu destino e sua relação com sua propriedade (uma terra de 600 hectares em MG) e replantaram 2,5 milhões de árvores da Mata Atlântica, permitindo o renascimento de 1000 nascentes de água. 

Lélia e Sebastião a frente das mudas...


... que deram origem às milhões de árvores plantadas na propriedade da família. Hoje, Instituto Terra, propriedade de todos.

 O que dizer de mim? Estou embasbacada! E feliz de ter podido ver esse documentário hoje. Meu próximo passo: vou atrás deste Instituto Terra.

Férias acabando

Estes últimos quinze dias foram um período de intensa reflexão. De escolhas que mais se aproximavam de mim, e não do que o que era tendência. Busquei livros para estudar, filmes com a minha cara, passeios na minha cidade que eu nunca fizera, mas que eram o que eu queria fazer desde sempre. Vou contar deles aqui pra vocês...

Ontem, fiz duas boas escolhas. Dois filmes lindos, franceses, histórias muito bem delineadas.

O primeiro foi Belle et Sébastien, história linda de um menino órfão de seus seis anos que fica amigo da "besta", uma cadela selvagem que tem fama de comer ovelhas, mas que na verdade é uma fofa. Eles vivem nos Alpes franceses, na fronteira com a Itália e, em plena segunda guerra mundial, o vilarejo onde vivem está ocupado pelos soldados alemães.



Eu simplesmente me apaixonei pelos dois. O garoto é muito esperto. A história, muito bacana, e na refilmagem foram inseridos alguns elementos que a tornam atrativa não só para as crianças, mas também para os adultos. O cachorro é simplesmente lindo. E a música, do israelense Amrand Amar, é incrível! Recomendo!



Em seguida, decidi ver um outro francês, Pour une Femme, totalmente por acaso. Do mesmo ano que o anterior (2013), com música do mesmo israelense, este filme fala do pós-guerra, neste caso também a segunda, e mostra a caçada empreendida por alguns grupos contra os alemães nazistas, em busca de justiça pelas próprias mãos.

A história é bem amarrada, porém algumas situações são um tanto óbvias. É excelente para continuar a prática do francês, mas não chega a comover como o primeiro. De qualquer modo, é filme inteligente para gente inteligente. O que fica subentendido, a gente acaba entendendo no final.



Dos atores principais, Benoît Magimel fez um estilo Robert De Niro por todo o filme, com suas caras e caretas e seu jeitão de mafioso. E não pude deixar de lembrar da nossa Bruna Linzmeyer com a Mélanie Thierry. Olha eles aí...


Bom, é isso. Ando cansada do que vejo na tv. Estou em busca do alternativo, do francês, do alemão, do espanhol, do argentino... Um sopro de renovação no ar!

Espero que vocês aproveitem estas duas dicas! Mercy!



terça-feira, julho 21, 2015

A noite

A Noite
Tiê

Palavras não bastam, não dá pra entender
E esse medo que cresce e não para
É uma história que se complicou
E eu sei bem o por quê

Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você

E quando chega a noite e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na mão

Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de você

Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu
Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor
Essa paixão é antiga e o tempo nunca passou

E quando chega a noite, e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão