sábado, agosto 30, 2008

Comentários...

Vou ficar um tempo ausente. Preciso. Volto já.

Quero muitos comentários. Dos conhecidos e dos anônimos. Vamos lá! Conto com vocês!

Até a volta...

Crianças

Apesar de não ter filhos, me interesso muito pelo que elas pensam e são capazes de fazer.

Por isso, leio o caderno infantil que vem encartado no jornal, com um certo encantamento.

Hoje, li uma poesia da Jaqueline, de 9 anos, que não resisti em não publicar aqui. Lá vai a reprodução:




Meu pai*


Meu pai é sensacional.
Não. Não é argentino.
Nem inglês. É
nacional.
Meu pai não é pop
star, nem presidente.
É feliz, está sempre
sorridente.
A ele, eu agradeço,
com ele aprendi a
andar,
agora as escadas eu
subo e desço.
A primeira palavra
que eu disse foi
"papai".
Sabe por que?
Naquele dia eu estava
feliz, não brava.
Você é meu pai
e o orgulho da nação.
Você é também o meu
grande amigão.

*Jaqueline Mariquito de Sousa

Não é uma delícia? Vejam a quantidade de traços culturais embutidos neste texto, essa garota é uma fofa. E o quão feliz deve se sentir o pai dessa menina.

É por isso que eu penso que ainda há esperança...

A cara da morte

"A cara da morte" é o título de uma coluna do jornal O Globo. Traz a relação das pessoas que morreram na cidade, quem elas eram, o que elas fizeram e o que fizeram com elas.

7:30. Hoje. Pegamos o jornal em busca de uma notícia que explique o que aconteceu ontem. Encontramos. O nome da vítima é Jami-Noá. Levou dois tiros. Foi operado e está estável.

18:20. Ontem. Estou no banheiro, pintando o cabelo. Escuto seis disparos. É tiro! Corro para a janela. Os vizinhos também estão na janela. Na rua, um carro preto e muitas pessoas em volta. Alguém foi baleado.

18:23. Ligo para o 190. Peço uma patrulinha, com urgência.

18:30. Chega a ambulância do SAMU (192). Alguém chamou, graças à Deus. As pessoas gritam, pedindo pressa. Ele está vivo, penso. Retiram o homem do carro. Sai de ré a caminho de algum hospital. Me dá vontade de chorar pelo que estam fazendo com a minha cidade.

18:35. Chega o carro da polícia. Perguntam, perguntam, investigam. Atentado? Tentativa de assalto?

19:00. Chega a imprensa. Muitos flashes. Fotos para os jornais e internet.

20:00. Olho pela janela e o carro não está mais lá. Tudo volta a uma aparente normalidade.

7:35. Hoje. Leio no jornal que a vítima tinha acabado de pegar o filho de sete anos na escola e que ele estava no carro. Fico apreensiva com o que vai ser da cabeça desse menino. Sinto o medo que ele sentiu percorrer o meu corpo.

Mais tarde, lembro de Cazuza: "eu vi a cara da morte, ela estava viva..."

Entreouvido por aí...

17:30, esquina de Rua Gonçalves Dias com Sete de Setembro. Centro do Rio de Janeiro.

Dois homens caminham apressados. De repente, um se afasta do outro, andando mais rapidamente para atravessar a rua.

Um dos homens começa a gritar para o outro, como se ele e todos à sua volta precisassem ouvir:

Vamos pro puteiro? Vamos pro puteiro, cara? Vamos?

No que o outro respondeu, três vezes:

Não quero, cara. Não vou. Não tô a fim.

Prosaico, né?

quinta-feira, agosto 28, 2008

Carangos e motocas

Quando eu era pequena, eu via esse filme. Era um desenho animado encantador, e eu torcia sempre pelo Wheelie, um carrinho muito do simpático que tinha uma namoradinha-carrinho!




Eles eram sistematicamente atacados por um grupo de motocas (era esse o nome comum na época), que os infernizava, mas sempre se dava mal: Avesso, Chapa, Risada e Confuso.


O Confuso sempre dizia no final: "Mas, eu te disse, eu te disse. Mas, eu te disse, eu te disse". Era uma espécie de grilo falante!

Não sei porque isso me lembra tanto o mundo corporativo! Pior é que tem gente que não escuta nunca, que nem o Avesso!

quarta-feira, agosto 27, 2008

Músicas para se ouvir na viagem

Achei este post interessante num outro blog e resolvi copiá-lo aqui...

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A edição americana da revista Rolling Stones publicou uma lista com sugestões de 25 músicas para se ouvir durante uma viagem.

Se o tema não é lá muito criativo, as músicas listadas são de ótimo gosto e valem a pena serem baixadas caso você não conheça alguma, pois mais da metade delas não foram singles.

1. “Immigrant Song,”Led Zeppelin
2. “Born To Run,” Bruce Springsteen
3. “Highway to Hell,” AC/DC
4. “Runnin’ Down a Dream,” Tom Petty
5. “Truckin’,” Grateful Dead
6. “Ol’ 55,” Tom Waits
7. “Radar Love,” Golden Earring
8. “Tush,” ZZ Top
9. “The Passenger,” Iggy Pop
10. “Wanted Dead or Alive”, Bon Jovi
11. “Passenger Side,” Wilco
12. “Turn the Page,” Bob Seger
13. “No Particular Place to Go,” Chuck Berry
14. “Going Back to Cali,” LL Cool J
15. “Born to be Wild,” Steppenwolf
16. “Running On Empty,” Jackson Browne
17. “Take It Easy,” Eagles
18. “Award Tour,” Tribe Called Quest
19. “Taking the Long Way,” Dixie Chicks
20. “Roadrunner,” Modern Lovers
21. “Rearviewmirror,” Pearl Jam
22. “Gravity Rides Everything,” Modest Mouse
23. “No Sleep Till Brooklyn,” Beastie Boys
24. “Pink Houses,” John Mellencamp
25. “Travelin’ Band,” Creedence Clearwater Revival

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Para dar o crédito, http://blogsonoramus.blogspot.com/2007/05/msicas-para-fazer-as-malas.html

Quantas você conhece?

Depois, publico a minha lista!

Viagens e bagagens

Tenho horror a fazer mala. Acho uma incrível chateação. Se você sabe que vai a trabalho - e só - leva os terninhos básicos, um combinando com o outro, combinando com o sapato e com a bolsa, para não ocupar muito espaço. Mas, se a viagem é menos formal, aí, ferrou! Fico na maior indecisão, acho que tenho que ter opção de escolha, e acabo carregando a casa nas costas. Levo muita coisa ... M-E-S-M-O! E o travesseiro, que vai junto?

Acho que sou uma tartaruga.

Vasculhando minhas memórias, lembro do sofrimento que era fazer a mala para ir a Saquarema nas férias. Metade das roupas que eu levava iam na mala só para passear.

Como se cura isso?

terça-feira, agosto 26, 2008

Indefeza era a vovózinha


Detalhe da estampa da linda camiseta vendida através do site Camiseteria. Vale à pena conferir as outras opções!


Tags

Agora, com a palestra da nossa consultora portuguesa, entendi para que exatamente elas servem. Blogueiros do mundo, uni-vos, usem as tags! Elas facilitam tudo!

Pode isso?

Agora estou chocada! Que luta é essa, meu povo?

Que esporte violento! Me deu até medo da cara da moça (moça?)...

Duas ou três coisas que aprendemos com estranhos

Esta semana, recebemos dois consultores internacionais na nossa empresa. Um deles é inglês e a outra, portuguesa, mas vive em Londres há muito tempo. Ambos são muito simpáticos.

Vieram ao Brasil pela primeira vez para participar de um evento como palestrantes e visitar nossa empresa. Mas, não tiveram a oportunidade de visitar nossas instalações.

Adoraram o que viram por aqui. Nós os hospedamos num hotel de frente para a praia de Copacabana (ponto para nós) e pusemos um carro à disposição deles - o que eu acho que foi mais um ponto para nós. É, acho que nós acertamos!

Os ingleses não conseguem entender muito bem essa nossa falta de pontualidade. Eles são realmente pontuais. Até se surpreendem com o quão amáveis nós somos, mas acho que preferiam que fôssemos menos expansivos e mais responsáveis com o horário.

Realmente, os ingleses são bem formais, é um tanto difícil "quebrar o gelo". Se eles são tímidos, então, é quase impossível abordá-los. E na hora de cumprimentá-los com beijos? Chega a ser curioso notar o susto que eles levam quando as pessoas começam a se beijar e a beijá-los (ao se conhecer ou se despedir). Ainda mais, quando rola um beijo em cada bochecha. (Mas um aperto de mão já não estava bom?)

Dentro deste contexto de formalidade dos ingleses, eles adoram seguir uma agenda e uma pauta. Se alguma coisa dá errado ao longo da reunião, parece que não há jogo de cintura - como temos - suficiente para mudar o plano. Mas, há que se reconhecer, a competência deles é impressionante.

Ah, e como eles são ansiosos! Acho que se eles tivessem que viver imersos no nosso "regime burocrático" (no sentido mais pejorativo da palavra), sofreriam um enfarto por semana. Imagina receber a autorização para uma viagem internacional na véspera de viajar, se as diárias na mão, nem o bilhete emitido! Um atraso na emissão das passagens gerou uma troca de mais de 30 e-mails em menos de dez dias! Acho que a gente só tem paciência com eles porque eles são estrangeiros e, com certeza, eles não nos entenderiam...

Mas, eles são como nós, curiosos! Afinal, somo todos seres humanos, não é mesmo? Se bem que há quem eu ache que ainda não evoluiu e continua irracional! Ao chegar no Brasil, quiseram conhecer o que era típico do nosso país: frutas, sucos, comidas, pessoas, lugares! Adoraram ir a uma churrascaria, que, muito bem escolhida, fica de frente para o maior cartão postal do Rio de Janeiro: praia do Flamengo, Baía de Guanabara, Pão de Açúcar, Ponte Rio-Niterói, Aeroporto Santos Dumont. Para qualquer lado que se olha, há história para contar. Além do rodízio de carnes - que hoje eu já acho uma coisa assustadora! - a paisagem os impressionou bastante. Ficaram fascinados! Pena que a foto que tiramos não tenha capturado tudo o que vimos, muito menos a emoção que aquela paisagem nos causou a todos!

O inglês voltou do banheiro, ou restroom, como ele mesmo frisou, encantado (ou seria melhor dizer, perturbado?) com um desinfetante que encontrou nos mictórios, na forma de cubos de gelo. Nunca vira coisa igual! Para ele, era como se houvesse descoberto a pólvora. Disse que em nenhum outro lugar do mundo, viu uma inovação dessas. Foi quando um dos convivas brasileiros acrescentou que também serve para evitar a molhadinha, o respingo... (e eu que nem sabia que ela rolava!)...

Ainda sobre banheiro, eles se assustaram quando conheceram nosso protetor de assento - muito comum em banheiros femininos. Não é que, lá pela tantas, fez-se questão de ressaltar que o buraco do tal protetor é em forma de coração (mas, será que isto é uma questão de design, ou o que se quer é passar uma mensagem calorosa com o produto?)...

A portuguesa se encantou com o mostruário de sobremesas. Ficou tão doida por uma mousse de maracujá, que queria comer aquela ali mesmo. Quando botou a mão, aproveitamos para lhes contar: é falsa! Veja que interessante nossas "false desserts"! O inglês rolava de rir, a portuguesa sentiu um misto de vergonha, por não ter percebido antes, e surpresa, pela peculiaridade (Brasileiro é tudo doido mesmo!).

Como curiosos e observadores que são, repararam que a tábua de queijos oferecida pelo hotel cinco estrelas em que fizemos nossa reunião não trazia um só queijo nosso - típico, popular, como o de Minas. Hotel chique só serve queijo italiano ou francês: provolone, cottage, gouda, gruyére... Que bobagem! Quando é que vamos entender que chique é valorizar o que é nosso? Os gringos já entenderam!

Provaram o guaraná Antárctica e se surpreenderam ao descobrir que se tratava de uma "gasosa de fruta brasileira" - uma bebida sem álcool, ao contrário do que pensavam.

Foram nas Sendas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, e acharam o supermercado horroroso. Mas, ficaram surpresos em ver o sabão em pó OMO firme e forte na prateleira, a mesma marca, as mesmas cores. Segundo eles, esse sabão deixou de ser vendido na Inglaterra há trinta anos.

É difícil conversar com pessoas estranhas quando não se domina a sua língua, mas com um pouco de esforço, rolam umas "small talks", como eles dizem. Mas, para que esse relacionamento se desenvolva, não se pode ser apenas superficial. O caminho é árduo, mas possível.

Respeito, cordialidade, atenção e gentileza são palavras que, enfim, resumem o que aprendemos com eles. Daqui a pouco, vou aprender mais um pouquinho. Vou para a terra deles.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Ser diferente é normal...


Novos ídolos


Ver o Brasil no alto do pódio, em plena Olimpíada, é sensacional e realmente muito emocionante. Ver que o atleta vencedor passou por momentos muito difíceis e que deu a volta por cima, é inspirador. É o tipo de história que faz a gente ter fé na vida e fé na gente. É muito fácil desistir diante de uma adversidade, continuar brigando é que é complicado.

Se a vida fosse simples, ela não seria um caminho tão sinuoso. Seria reto, racional, previsível. E isso a gente sabe que ele não é.

Parabéns, Maurren Maggi, parabéns pela perseverança! Parabéns pelo ouro olímpico. A gente teria ficado igualmente feliz por você se ela não tivesse vindo, se fosse a prata ou o bronze, ... mas a medalha de ouro vem para coroar a sua trajetória.

Você me lembrou a parábola do bambu chinês, que reproduzo aqui:

Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente cinco anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.

Durante cinco anos, todo crescimento é subterrâneo. Invisível a olho nu, mas... Uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, ao final do quinto ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

Um escritor de nome Covey escreveu:
“Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes, não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu quinto ano chegará, e com ele virá um crescimento e mudanças que você jamais esperava...”.


O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos...

Em nosso trabalho especialmente, que é um projeto que envolve mudanças de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilização, devemos sempre lembrar do bambu chinês para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.

Procure cultivar sempre bons hábitos em sua vida: a persistência e a paciência.

“É preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão.”

Autor desconhecido
Fonte: http://espaco-da-alma.blogspot.com/2007_06_01_archive.html

Para lembrar...


Esse foi o livro do Mário Prata que ele indicou para ela: Purgatório. Conta a história de Dante e Beatriz. Dante é casado com Gema, mas seu verdadeiro amor é Beatriz, que há 25 anos vive na França. A temática que os envolve é a idéia de pecado e de culpa.
Ela pretende comprá-lo. Mas, certamente, não será para deixá-lo jogado na estante.

Gratas surpresas

Ela chegou no aeroporto carregando duas malas pesadas, fruto de uma terrível indecisão sobre o que vestir durante o curso que iria fazer no interior de São Paulo, e se deu conta de que havia esquecido o livro que estava lendo em casa.

Sabia que, no hotel onde ficaria quatro dias, o sistema se assemelhava a um SPA, e isso incluía não ter acesso a jornal, internet, rádio e televisão. Pensou imediatamente que ia pirar sem um livro.

Entrou na sala de embarque, porque já estava quase na hora, e tratou de se enfiar na Laselva e descobrir alguma coisa que prestasse. Pediu ajuda ao vendedor. Ele indicou um livro do Mário Prata e fez questão de frisar que tudo que o Mário Prata escrevia era bom, dizendo ter certeza de que ela ia gostar muito. Ela afirmou que podia imaginar que sim, e que como autor de teatro renomado que era, o Mário certamente devia ser um grande escritor. Ele se deu conta então que não sabia que o Mário era autor de teatro... mas, como?, está em todas as contra-capas de seus livros!

Já ia pagar pelo livro, quando esbarrou em um que chamava "O conto do amor", título nada interessante, aliás. O autor, ao contrário, chamou sua atenção: Contardo Calligaris. Ela trabalha com um senhor que tem o mesmo sobrenome e que é uma pessoa a quem ela admira muito. Leu a sinopse do livro e gostou. Resolveu substituir a indicação, guardá-la para uma outra ocasião, e levar o livro do Calligaris. O do Mário era bem mais grosso e mais pesado, e ela não teria espaço na mala para carregá-lo. O outro, mais fino, pareceu atender aos seus propósitos.

Surpreendeu-se com o início do livro, um thriller sobre um filho que sai a investigar a vida de seu pai depois da sua morte...Não desgrudou mais dele... a leitura foi fluindo levemente e ela o foi devorando com gana de saber o seu final.
O mais interessante do livro é que ele versa sobre a história da arte, principalmente sobre os pintores italianos e as pessoas que analisam suas obras. Sempre admirou quem tem essa capacidade de analisar uma obra de arte e perceber que uma figura está deslocada do contexto, que a outra não está vestida de forma adequada para a época, que os personagens secundários estão vestidos de preto-e-branco porque, no passado, estas eram as tintas mais baratas... enfim, aqueles que conheciam a história do que havia por trás da intenção do pintor.
Realmente, ele foi excelente companheiro. Foi com ela para todos os cantos, em todos os momentos livres e a ajudou a passar o tempo... ela terminou a leitura do livro ao retornar para casa, com pressa e satisfação por ter tido essa sorte na escolha. Curtiu o final e pensou: minha irmã vai gostar de ler isso!

O reino das tarraxas perdidas

Eu sempre imaginei que havia um reino onde algumas coisinhas que caem das nossas mãos ficam perdidas... coisa assim de duendes brincalhões, que gostam de nos pregar peças.

Hoje, chegando de viagem cansada, estressada por conta do trânsito de São Paulo e do Rio, tirei o meu brinco, e como se eu já pudesse imaginar, uma das tarraxas caiu no chão.

Em segundos, lá estava eu, de quatro, investigando em baixo da minha cama, olhando cada cantinho do quarto, com o auxílio da luz mais forte do abajour, para recuperar a tarraxa antes que o duende a levasse de vez.

É nesse reino que eles escondem as continhas dos colares que eu me proponho a fazer de vez em quando, os clipes, os alfinetes de fralda, enfim, tudo que é pequenino o suficiente para desaparecer.

Procurei, procurei, procurei, e ... nada!

Pedi a ele, então, que me deixasse ficar só com essa, que eu gosto muito desse brinco e que não é qualquer tarraxa que serve nele, porque algumas ficam frouxas e aí é um custo para manter o brinco na orelha.

Como num passe de mágica, ele me atendeu: lá estava ela, reluzente, sobre o tapete. Como se sempre estivera ali, se exibindo para mim, mesmo depois que eu bati o tapete, passei a mão sobre ele, analisei cada trama com a ajuda da luz do abajour... lá estava ela.

Se o duende me fez este favorzinho hoje, o que será que ele vai querer de mim depois?

segunda-feira, agosto 18, 2008

O Metrô (homenagem a uma amiga blogueira)

Era um dia comum de trabalho, antes das oito, e ela já estava atrasada. Pegou o metrô na estação Afonso Pena, esperando que ele lotasse no Estácio. Encontrou um lugarzinho num cantinho, tentando se proteger.

Dito e feito. No Estácio, entrou uma galera desesperada, enlouquecida, falando alto, reclamando, uma loucura. Ela logo foi empurrada... empurra daqui, empurra dali... e começou a mal-dizer a hora que entrou naquele vagão.

Na estação Central, um rapaz meteu-se no aperto daquele vagão, empurrando seu corpo contra o da outras pessoas, como se não houvesse amanhã. Ele dizia:

- Dá licença, estou atrasado! Dá licença, por favor! Vou descer daqui a pouco, me deixa passar para o outro lado!

O cara ia saltar estação seguinte... e para descer nesta estação, teria que alcançar a porta do outro lado do vagão lotado!

Aperta daqui, aperta de lá, o rapaz conseguiu vencer a multidão. Já estava quase rolando um bolão para saber se ele conseguiria, mas o feito se deu antes do povo dar os seus lances...

De repente, a porta se abriu. Como um creme que é espremido para fora do tubo da pasta de dente, ele tentou sair. A massa que entrava, contra a massa que saia, não o deixava... Ele finalmente conseguiu, mas ficou com o pé direito preso entre as duas portas, que se fecharam contra o seu corpo.

Ele se esforçou e se esforçou, e o condutor vendo que o rapaz estava preso não dava a partida. De uma hora para a outra, conseguiu soltar seu pé do tênis, que ficou preso na porta.

O que se sucedeu foi fantástico. Silêncio absoluto na casa de apostas. De súbito, a gargalhada foi geral. O cara estava usando uma meia vermelha, e ela estava furada na altura do dedão.

A pressa é mesmo inimiga da perfeição. Alguém se ofereceu para segurar o tênis até a outra estação e o pobre, que estava atrasado, teve que esperar o trem seguinte para buscar seu tênis com um desconhecido que o esperaria na próxima estação.

Se vê cada coisa no metrô!

domingo, agosto 17, 2008

As feias que me perdoem...

...mas beleza é fundamental.

O cara estava em casa ouvindo música no sábado à noite. Toca o telefone, é seu primo:

- Escuta, estou com duas beldades aqui em casa, são irmãs gemêas. Você não quer dar um pulinho aqui?

- Já estou indo, não tenho mesmo nada para fazer hoje.

O cara veste uma roupa bonitinha e sai às pressas. O primo não mora longe. O que ele não sabia era que "beldade", no conceito do seu primo, era "mulher feia".

Ele toca a campainha. Uma das irmãs abre a porta, ele se assusta, e diz:

- Caraca! Leve-me ao seu líder!

A moça era mesmo um ser do outro mundo, um E.T.!

Ela diz, com um sorriso desengonçado: - João está lá dentro com a minha irmã. Você não quer entrar?

Que jeito, né? Já estou aqui, pensou ele.

Pra puxar conversa, ela emenda: - Sabe que quando eu era criança eu era feia?

E ele: - hã?!?!

Precisa ter mesmo senso de humor. Mas, como dizem por aí, não existe mulher feia, precisa é beber um pouquinho mais...

sábado, agosto 16, 2008

Morre Dorival Caymmi, aos 94 anos

Caymmi, vai com Deus! Que ele te abençoe! Que ele te guarde!



O MAR...

O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito
O mar...
pescador quando sai
Nunca sabe se volta,
nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito

Pedro vivia da pesca
Saia no barco
Seis horas da tarde
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todas
Rosinha de Chica
A mais bonitinha
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá

Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite
Não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá

Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece
Que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Andando rondando
Dizendo baixinho
Morreu, morreu, morreu, oh...
O mar quando quebra na praia

Esquina...

Centro do Rio, hora do almoço. Sete companheiros tentam encontrar um local para um almoço em conjunto. Difícil tarefa, está tudo lotado.

Um deles, temporariamente deficiente (risos), manca de uma perna, o que torna mais difícil atravessar a rua fora do sinal. Peraí, moço, que a gente está passando.

De repente, na esquina do outro lado da rua, inicia-se uma discussão entre um homem que insiste em parar o seu carro sobre a faixa de pedestres e um vendedor ambulante que, com uma engenhoca montada sobre uma bicicleta para vender panos de chão, de prato e flanelas, insiste em permanecer ali para concretizar seus negócios. Excelente ponto. Ambos estão errados.

Do meio do nada, um dos sete aventureiros decide parar para comprar um paninho. Um, não, vários. A briga rolando e ela perguntando preço. Esses paninhos são sensacionais, moço! Não acho nenhum com qualidade igual a dos seus!

O homem no automóvel começa a buzinar histérico. Sai daí, eu quero parar!

O homem dos panos quer fechar negócio. Ela paga e sai satisfeita. Os sete seguem caminho rumo à Treze de Maio e a discussão continua.

Carioca não é surreal?

Marcas e logomarcas

Outro dia, recebi um power point irritante, daqueles com musiquinha, que trazia um texto a favor do povo tibetano. Eu concordei com muita coisa do que li, mas confesso que não sei dos detalhes, então, não posso dizer quem está certo: Tibet ou China.

Ocorre que o autor do arquivo power point mostrou como a logomarca dos Jogos Olímpicos de Pequim se parece com um homem sendo fuzilado, grudado numa mancha de sangue. Repara só:



Nunca mais consegui vê-la de outro jeito. Pena!

Justa homenagem...


Ontem à noite, fiquei realmente emocionada. O jovem Cesar Cielo transformou sonho em realidade ao ganhar a medalha olímpica de ouro da natação (50 metros livres).

Ver o povo comemorando na rua como se fosse um título de copa do mundo foi sensacional. A gente estava precisando disso.

O menino foi valente, guerreiro, emocionou-se. Choramos com ele. Foi lindo vê-lo receber a medalha no podium. Amei!

Que diferença a sua comemoração das monótonas comemorações do Michael Phelps!!!

Que lindo vê-lo socando a água de alegria!



Esse menino é herói!

Entreouvido por aí...

Duas moças se despedindo afetuosamente na frente do restaurante onde, provavelmente, haviam acabado de almoçar...

"Então fica combinado assim: nem eu te ligo, nem você me telefona..." (beijos, beijos)

E eu, não me furto a pensar: carioca é mesmo um povo surreal!

Sobre direitos e avessos

Minha irmã me deu um livro do qual gostei muito, do professor emérito da UNICAMP, Rubem Alves. Chama-se "Ostra feliz não faz pérola". Bom a gente ler coisas assim.

Separei um trecho para postar aqui no blog. Rapidinho, diz assim:

"Consulte sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos..."

Meus avessos andam dando o ar de sua graça. Já não consigo controlá-los. Esse Rubem Alves é fantástico!

quinta-feira, agosto 14, 2008

Como será que me acharam?

Vejam o que recebi por e-mail...


Onde será que fica essa Rua Independencia, 417? Buenos Aires, Argentina?
¿ Será que soy loca?
Mistério!

A Rosa deu a volta no Cravo...

19:30. Ela checa o relógio do computador, depois o do seu pulso. De repente, toca seu celular pessoal, número que ela já tem há muito tempo.

Oi, lembra de mim? Tudo bem com você?

Quem seria, ela não lembra. Reconhece a voz como familiar, mas não lembra do rosto do seu dono. Uma onda de desconforto lhe invade o corpo, varrendo dos seus pés a cabeça.

Vamos lá, vai dizer que você me esqueceu?

Ela ainda não conseguia lembrar, mas sentia algo estranho. Era como se ela não quisesse lembrar do dono daquela voz. Respondeu, de modo firme:

Não, não lembro. Acho que felizmente.

O dono da voz emudeceu. Depois suspirou, bem fundo. Fez-se uma pausa. Ela esperou que ele lhe dissesse alguma coisa.

Sinto sua falta...

(Mas, eu não, ela pensou).

Eu achei que tivesse aprendido a viver sem você. Eu fui muito duro contigo da última vez que nos vimos. É que eu queria que você me odiasse. Eu precisava disso para fazer o que fiz... sabe, tentar outras experiências... Eu tinha muitas dúvidas. Agora, sei que errei muito. Todos me avisaram, mas a ficha demorou a cair...

Cinco anos. Cinco longos anos foi o tempo que a ficha levou para cair. Ela, enfim, se lembrou dele. Tinha sido seu namorado, noivo, quase marido. Depois de muito tempo juntos, a deixou sozinha, com seus planos, seus móveis, seus sonhos, sua auto-estima, todos despedaçados, como o Cravo, quando briga com a Rosa... e ela põe-se a chorar... Trocou a antiga namorada por uma novidade, fresquinha. Tempos depois, a novidade viu que ele era uma bela propaganda enganosa e dispensou-lhe, do mesmo modo que ele fizera com sua namorada. E ele não conseguiu mais nenhum par de pés gelados para dividir o cobertor depois disso. Estava arrependido. Pensava que conseguiria mais alguma coisa ali... tolo!

Ela viu que o Ivan Lins era piegas, mas "começar de novo e contar comigo" era realmente um verso lindo... Reaprendeu a viver. Gostou do que encontrou, depois da tempestade. Chorou muito, mas se viu amparada por uma 'rede' de amigos. Fez análise, redescobriu pequenos prazeres, voltou a fazer tudo aquilo do qual ele andava se queixando no final do namoro: saiu, bebeu, brincou, pulou, dançou, desenhou, encontrou os amigos, fez novos amigos, enfim, viu a vida pulsar de novo em suas veias...

Ia ser mesmo muito chato dividir a vida com alguém que queria ter uma vida tão modesta. Ela queria mais, queria se divertir, queria viajar, queria curtir... queria viver o presente ao qual ela tinha direito e não o que ele vinha oferecendo a ela... Ele a acusou de só pensar no futuro: muitas vezes, foi por pensar que o futuro poderia ser melhor que ela permaneceu ao lado dele, evitando pedir coisas, sugerir programas e gastar um dinheiro que ele não tinha para gastar. O que ele fora ao seu lado? Um encostado. E isso, ela percebeu - finalmente! - que não precisava. Queria um homem que a amasse, que a encantasse, que a fizesse feliz, e que quisesse muito vê-la feliz, tanto quanto ela a ele.

Incrível como ela havia demorado a lembrar da sua voz! Para se lembrar dele, como pôde demorar tanto?

Ela suspirou de desgosto e respondeu...

Moço, acho que você ligou para a pessoa errada. Não sei quem você é. Não te conheço. Não preciso ouvir suas lamurias. Se você me dá licença, está na minha hora...

E desligou.

Ele se sentiu um merda, pois tinha quase certeza de que ela o havia reconhecido. Ela saiu e foi encontrar com a galera, que já a estava esperando. Era hora do happy-hour de quarta-feira.

terça-feira, agosto 12, 2008

Eu queria ter escrito isso... eu queria levar isso mais a sério!

Mulheres Possíveis
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Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.

Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho. Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.

É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir. Porque nossa existência* não é* contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.

*Martha Medeiros - Jornalista e escritora**

Boas metáforas

"A ausência passageira é a metáfora da ausência definitiva"
(Rubem Alves)

Precisa explicar?

domingo, agosto 10, 2008

Bandeiras tibetanas


Sempre me surpeendeu que os tibetanos sejam um povo tão cheio de fé, mesmo vivendo tudo que eles vivem sob o domínio da China. Terra arrasada, coração fértil de amor.

A tradição no Tibet é de colocar, presas em varais, bandeirolas com orações, para que o vento leve por toda a eternidade os pedidos que o povo faz, pedindo paz e conforto a Deus.


No filme que vi ontem, quando visitam as altas montanhas no Tibet, o personagem de Morgan Freeman (Carter Chambers) pergunta ao personagem do Jack Nicholson (Edward Cole) se:
* Ele já havia encontrado alegria na sua vida.

* Se ele trouxe alegria para a vida de outras pessoas.

Perguntas difíceis, da tradição oriental. Era assim que se avaliava se alguém estava pronto para entrar no Paraíso, o que quer que este "lugar" seja, para o descanso da sua alma. Lembrei-me de uma senhora, que não está mais entre nós, e que nessa encarnação foi minha avó. Ela era alegre, cheia de vida, adorava gargalhar e fazer os outros rirem com suas brincadeiras. Faz falta hoje no dia dos pais.

Mas, se para entrar no céu, ela teve que responder a estas duas perguntas, ela está lá hoje, ao lado de Deus.

Baratas

Deu no jornal de sexta-feira passada. Um homem, vestido de branco, por volta do meio dia, parou nos bueiros da esquina das ruas Sete de Setembro e Avenida Rio Branco e borrifou inseticida fervorosamente contra eles.

Em pouquíssimo tempo, começaram a emergir dos bueiros baratas e mais baratas - desesperadas com o produto tóxico, desorientadas, considerando a tudo e a todos como inimigos, achando que qualquer lugar era esconderijo.

As pessoas que por ali passavam ficaram desesperadas com a cena. As mulheres, menos corajosas, gritaram de terror. Os donos das lojas colocaram hordas de empregados, de vassouras em punho, para defender seus estabelecimentos do ataque. Sob o olhar atento do dono, e na pressão em que se encontravam, a eles nada restava a fazer se não matar as baratas e defender as lojas da invasão, lembrando-se de dizer aos passantes que aquilo ali não era um estabelecimento mal cuidado, tentando evitar denúncias a Vigilância Sanitária.

O homem fatídico, de branco, sem identificação, tratou de fugir.

Lembrei-me de uma passagem da minha vida, quando estava com minhas mãe e irmã próxima à igreja de São Jorge, junto à Praça da República, no centro da cidade. Tirava uma cópias de documentos, para cadastrar-me e ter acesso ao acervo da biblioteca pública municipal, na Presidente Vargas, quando, de repente, uma barata - que a minha irmã chama de "barata-trem", de tão grande - subiu pela minha perna, dentro da calça jeans. Meu único impulso foi fazer um falso "torniquete" com as mãos, para evitar que ela alcançasse minha região pélvica e todo o resto (que vocês podem imaginar...). O nojo era tamanho, que eu só conseguia me movimentar de modo a fazê-la cair, mas ela não descia. Parecia que só tinha um objetivo: continuar subindo! Eu parecia um mamulengo, me contorcendo na rua. Minha mãe e minha irmã não conseguiam entender o que se passava e eu comecei a chorar de nojo!

Quando finalmente a torturadora saiu da minha calça, eu estava lívida, e sabia que ia me lembrar daquilo para o resto da minha vida. Nunca mais eu páro próxima a bueiros, nem que seja para atravessar a rua.

Elas já venceram a guerra, vão sobreviver à bomba atômica. Nós, não.