quinta-feira, abril 21, 2011

Ser x Estar - dramas de uma mulher contemporânea

Ai, eu não quero levantar não!
Esse negócio de malhar é muito chato!



Eu sempre fui magra. 51 kg distribuídos em 1,74 m. As rótulas dos meus joelhos saltavam das minhas pernas, "carinhosamente" chamadas pelos mais próximos de "gambitos". Meus braços eram muito magros e eu me achava estranha quando me olhava no espelho.

Por causa de uma anemia crônica, diagnosticada pelos médicos quando eu tinha 7 anos, sempre que mamãe levava a qualquer médico e dava essa informação, ouvia a mesma recomendação: fazer poucos exercícios físicos, nada de musculação.

A musculação, a partir dos 14 anos, teria resolvido muita coisa, mas, não deu. Se ao menos eu tivesse conseguido manter o corpo em movimento ininterruptamente, com disciplina, tudo tinha se resolvido por si só. Eu teria ganhado "corpo"(massa muscular) com o tempo, na medida certa.

Lembro que fiz um pouco de balé na escola, jazz, natação, volei, futebol de salão, mas nada por muito tempo. Bem, a natação eu fiz por mais tempo, ainda adolescente, quando aprendi a nadar e depois mais velha, já namorando o meu marido. Mas, não foi tempo suficiente para me transformar em uma desportista.

Eu sempre quis ter um corpão, para me olhar no espelho e gostar do que via. Isso aconteceu por volta dos 25 anos, quando então eu comecei a comer demais, a tomar comprimidos de levedo de cerveja, a ingerir bombas calóricas no meio da tarde (duas bananas com meia lata de leite condensado, por exemplo) e, assim, achava que estava fazendo a coisa certa. Qual o quê.

Depois de muito tempo de engorda, hoje sou uma pessoa pesada, com um sobrepeso considerável. A gente se acostuma a comer muito, é fato. Como a maioria das mulheres, a gordura se concentra na barriga, nos quadris e nos glúteos. Ao contrário do que possa parecer, hoje eu já consigo me sentir até bem com essa minha nova figura, mas tenho saudades do tempo em que todas as roupas que eu usava me caíam bem.

Hoje, sou uma pessoa que pode comprar o que quer - demorei quase 40 anos para isso. Mas, ao contrário do que eu gostaria, é muito mais difícil lidar com sobrepeso sendo uma pessoa relativamente alta. O que me angustia é em que todos os lugares que vendem roupas com uma modelagem que me serve, a moda é para mulheres que estão, pelo menos, uma geração a frente da minha, o que me faz ter que pensar sempre ao comprar uma roupa: "essa roupa me envelhece?"

Essa semana, minha terapeuta me perguntou como eu me sinto em relação a isso. Confessei a ela que me sinto muito, muito triste, chateada mesmo. E, ao que parece, as luzes das cabines de provadores são luzes da verdade: mesmo que você não se veja gorda, aquelas luzes te darão 10 kg a mais.

Esse sobrepeso foi resultado da Síndrome do Mestrado/Doutorado: uma combinação de sedentarismo com solidão. Fazer um Doutorado em seguida a um Mestrado, com uma terrível crença de que não há tempo para nada além de estudar e produzir artigos e monografias, num isolamento de amigos e familiares, gera isso. Mas, de fato, ninguém precisa prescindir de uma vida normal para realizar uma empreitada dessas. Essa solidão foi algo que me impus inadvertidamente. Não é preciso buscar isolamento nem trocar festas familiares para ficar debruçada sobre os livros. Amigos, lembrem-se disso sempre.

Se a gente acaba o dia lendo, lendo, lendo, na companhia de um pacote de biscoitos, e uma garrafa de refrigerante, a tendência é essa mesmo, ENGORDAR!

Perder peso é algo que requer um esforço sobrenatural. Difícil, complicado e nada agradável. Precisa gastar energia, malhar, andar, se exercitar... afe! Cansa! Só de pensar, dá preguiça de sair da cama...

Ainda mais quando se ama os bolos, os pudins, os biscoitos recheados, os chocolates, os sorvetes... Amo mesmo, confesso. Tenho que fugir deles, não comprar. Chego a sentir água na boca quando passo pela banquinha em frente a minha empresa, mas tento não passar por lá, ou se passo, não páro.

E o que me resta agora é perseverança pra entrar na linha, pra retomar algo que chamam por aí de auto-estima. Porque eu posso ESTAR gordinha, mas não quero SER gordinha... isso é meta de futuro (médio, longo prazo, quem sabe?). Com vontade, determinação e fé.

Porque a luz no fim do túnel não é a de um trem vindo na minha direção.

Um comentário:

Clarisse Bronté disse...

Você é linda amiga!