segunda-feira, novembro 12, 2007

Babel

Entrou no cinema sem saber do que se tratava aquele filme. Não se lembrava de ter visto o trailer e o resumo que o jornal trazia era simplório, não dava detalhe algum. Havia gostado do título e acreditava na força da atuação da dupla de protagonistas. O filme era "Babel", com Brad Pitt e Cate Blanchett, e ainda contava de quebra com a participação do Gael García Bernal.

À medida que a estória ia se desenrolando, ela ia ficando assustada, enjoada, desconfortável com a realidade nua e crua das cenas que iam aparecendo na telona, se descortinando diante de seus olhos. Todas elas lhe faziam refletir muito, sem exceção...chocou-se com a cena das crianças marroquinas que, sem noção do perigo e sem pensar nas consequências, brincam com uma arma de caça... com o pai irresponsável que dá a crianças de dez, doze anos no máximo, uma arma daquelas... com a mulher que fica entre a vida e a morte num vilarejo esquecido no Marrocos, onde ela não tem a menor condição de ser atendida e salva de uma bala perdida...do marido que se sente impotente ao ver a mulher à beira da morte e ele pouco pode fazer para salvá-la...dos companheiros de viagem que não são nem um pouco solidários com o casal, principalmente com a mulher, e agem como se não tivesse nada a ver com aquilo...




Assistindo ao filme, ela se pergunta o que passou pela cabeça do roteirista ao escrevê-lo? Como pode um diretor fazer algo tão impactante como aquilo, sem usar quase nenhuma tecnologia? Ela já havia tentado assistir a outro filme do mesmo diretor Alejañdro Gonzáles Iñárritu - "Amores Perros" - sem muito êxito. Desistiu, justamente por ser forte demais!

Agora, estava completamente aturdida com aquelas cenas... com a babá mexicana que decide ir ao casamento de seu filho no México, levando consigo os dois filhos do casal que está do outro lado do mundo, no Marrocos, vivendo o drama de uma bala perdida... com o sobrinho da babá que decide abandoná-la com as crianças americanas à sua própria sorte no deserto depois que eles são descobertos pela polícia de emigração americana... com a polícia americana que deporta a babá sem permitir que ela retorne à sua casa para buscar tudo o que conquistou durante 16 anos de trabalho ilegal nos EUA - a razão para viver fora de seu país... com a adolescente japonesa que tenta suicídio por ser surda-muda e nunca ter tido um namorado... com seu pai, um homem viúvo, que cinco anos antes havia presenteado um guia camponês marroquino com uma espingarda de caça, que daria início a essa história...



O que a chocou neste filme foram os acontecimentos em cadeia. Mostra-se, com tintas muito fortes, uma verdade inquestionável: o que se faz num determinado ponto do planeta tem consequências indiretas num outro ponto qualquer, ou em mais de um. Mesmo que não nos demos conta disso, temos que ser responsáveis pelos nossos atos.

Ela saiu do cinema ciente de que havia assistido a um grande filme, que lhe havia marcado para sempre. Mas, ao contrário do que ela imaginava, a repercussão em seu país não foi grande. Ela colocou então mais um item nas listas a fazer: comprar o DVD de "Babel", para rever o filme.

E você já viu "Babel"? Se não, vá até a locadora mais próxima: alugue, assista e reflita.

Um comentário:

Claudia Moema disse...

Ao ler o roteiro do filme, me decidi por não vê-lo. Sabia que era uma bom filme mas não quis me colocar de frente com essa realidade. Uma realidade que passa sem a plástica hollywoodiana em nossas tvs em programas sobre o "mundo cão", em nossas esquinas nas quais rezamos ao atravessar sem ser atravessada...

"O efeito borboleta" foi um filme do tipo conto de fadas, "Babel" é um filme do tipo "bofetada com direito a dedo no olho".

Temos a idéia de que não fazemos parte da vida, do planeta, do universo. Eu estou meio reclusa, tentnado achar meu próprio caminho, achar minha paixão por mim. Ao ver , ler e ouvir sobre como nós, humanos, nos tratamos, fico com mais vontade de ficar quietinha...

Adorei sua postagem.
Bitocas
CM