quarta-feira, maio 04, 2011

Somatização

Onze da manhã, eu andava pelo quarto do hospital impaciente e uma dor lancinante no peito me consumia. Mas, eu só conseguia pensar: "Você não pode ficar doente, você não pode ficar doente! Afinal, tem tanta gente precisando de você."

Eu sabia, racionalmente falando, que estava somatizando o medo, ou melhor, o pânico que eu estava sentindo com a cirurgia da minha mãe, que estava demorando mais do que eu esperava. É lógico que eu estava confiante, tinha fé que daria tudo certo, que a equipe médica era competente, que ia dar conta do recado, que ela ia voltar bem, mas,..., eu tinha pego um tremendo engarrafamento numa via que tinha tudo pra ser "expressa", e demorado exatos 8 minutos a mais para chegar ao hospital antes dela ser levada para a sala de cirurgia. Acho que estava com medo do "E SE...?", ainda mais porque mamãe sempre falou - com todas as letras - que tinha pavor de anestesia... "E se alguma coisa acontecesse e eu não tivesse conseguido vê-la antes?"

Meia hora depois, meu marido dá a deixa: "Amor, eu acho que eu vou embora, porque eu estou gripado, estou com febre, não dormi direito..." Então tá, a primeira coisa que eu pensei foi: "Esse homem está com febre? Opa, a coisa é séria. Que ir embora que o quê, você está num hospital"... E não deixei ele sair. Depois, enquanto esperava pelo atendimento na emergência, me dei conta de que, com o problema da minha mãe, eu nem tinha olhado pro meu marido hoje de manhã... e fui cuidar dele.

A essas alturas, a dor no peito já tinha passado, pois eu tinha que estar alerta, para cuidar da minha mãe, do meu marido com suspeita de dengue (pois é, foi a primeira coisa que a médica aventou...), do meu pai, que estava tão nervoso quanto eu, mas estava tentando se segurar, enfim, de todos, porque eu sou a "Mulher Maravilha" !!!!

O dia passa, a gente se espreme entre as dezenas de pessoas que aguardam atendimento na emergência do Barra D'Or e, ao final do expediente (das 8 às 5, ficamos por lá), saímos do hospital sem um diagnóstico conclusivo, e o marido com febre (mínimo de 38,5 oC). Ainda...

Na yoga, vem o resultado de tanta tensão: TUDO DÓI... Assim como na acupuntura desta semana, em que todas as agulhas me doeram terrivelmente, todas as posturas de hoje foram torturantes, eu fiz um esforço hercúleo para terminar tudo direitinho, e o professor ainda me fez uma cara de interrogação no final... "Ah, professor, foi a minha lombar que doeu muito, você sabe, 8 horas de sala de emergência no hospital, não dá pra não ficar quebrada"... no que ele retruca: "Você tem que ter disciplina, se são 8 horas numa cadeira desconfortável, são 8 horas sem encostar nessa cadeira, são 8 horas em posição de asana..."

Hã? Hellooooooooo.... como assim?

A minha mãe recém-operada, meu marido reclamando de febre e dor no corpo, meu pai murchinho de dar dó, eu com dor no peito e ainda tenho que ser disciplinada?

Se a coluna dói, é porque a gente tem essa mania de carregar o mundo nas costas. E uma grande lição que eu aprendi é que tudo que você faz com muita iniciativa para todo mundo, se é algo que se repete por muito tempo, acaba virando obrigação, ou seja, acaba sendo o seu defaut, aquilo que todos esperam de você, pois, aliás, nem requer muito esforço seu pra fazer, não é mesmo?

Ai, como esse mundo moderno nos cobra perfeição, não?

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