sábado, novembro 19, 2005

A espera

Enquanto ele se afastava, ela conferia os danos físicos daquele embate violento. Seus cabelos estavam encharcados de sangue...num leve toque de sua mão, a quantidade de sangue em seus dedos deu uma idéia de como o corte havia sido profundo.

Ela rezava para que ele ficasse tempo suficiente fora para voltar mais calmo e perceber que nada daquilo mudaria o rumo que suas vidas haviam tomado. Este tempo também seria útil para que ela refletisse um pouco sobre toda aquela raiva. De onde ela teria surgido? O que será que a teria desencadeado?

Foram dois anos daquele jeito, esperando por alguma coisa que nunca se acontecia: uma decisão, uma mudança, uma declaração...

Quanto mais o tempo se passava, mais eles percebiam o quanto se gostavam, o quanto queriam ficar juntos, o quanto tinham em comum.

No entanto, o custo para mudar suas vidas era muito alto. Ambos tinham suas famílias, seus casamentos, suas casas, suas rotinas...nenhum dos dois parecia ter coragem para mexer neste vespeiro.

Um dia, quando já não conseguiam mais manter seus relacionamentos oficiais, escondendo o sentimento que sentiam um pelo outro, ele resolveu que era hora para ambos tomarem a decisão, que eles já sabiam o que queriam e que tudo daria certo dali em diante. Ele resolveu e comunicou a ela que abriria o jogo com sua esposa no final de semana seguinte.

Em nenhum momento, ele perguntou a ela se estava disposta a fazer o mesmo com seu marido, por quem ela tinha tanto respeito, carinho e amizade. A última coisa que ela queria neste mundo era magoar seu marido, ele não merecia. Tinha sido um marido dedicado, desde que se casaram. O amor e a paixão que um dia chegaram a sentir um pelo outro já não era mais o mesmo, mas nem por isto ela queria vê-lo triste e sozinho.

Quando ele contou para sua esposa o que estava se passando, imediatamente ela pediu que ele saísse de casa. Ele fez uma pequena mala, com algumas roupas de trabalho e foi para um apart-hotel próximo dali. Sentiu uma estranheza muito grande, pois ela não se queixou, nem brigou, nem pediu para que ele reconsiderasse. Ele se sentiu um "merda". Ao se despedir dela, ela apenas avisou que a briga judicial entre eles estava apenas começando, e que ela queria ficar com tudo o que eles haviam construído até ali.

Como ele já estava trabalhando em outra cidade, a mudança foi pequena. No final do domingo, ele partiria e levaria consigo o que havia resgatado da casa de sua esposa. No apart-hotel, ele pensou em tudo o que havia acontecido, em como os seus filhos encarariam o problema e como ele faria para vê-los, se é que eles iam querer vê-lo...

(continua...)

Nenhum comentário: