sexta-feira, novembro 18, 2005

A briga

- Me larga! Me solta! Você está me machucando e estou falando sério! - ela gritou com ele. A batalha estava só começando.

- Não solto! Não adianta você pedir! Não adianta gritar também, porque eu escolhi muito bem este lugar, e ninguém vai te ouvir!

Ele realmente estava enfurecido. Com uma das mãos, segurava o braço direito dela; com a outra, cravava os dedos da outra mão em seu rosto, como se quisesse impedir que ela falasse, respirasse e mal tivesse chance de abrir um dos olhos. Ele queria ferí-la, tomá-la com força, domá-la, mostrar que ele estava no controle. Não tinha a intenção de matá-la, mas estava com muita raiva. Com todo o peso que imprimira naquele ataque, ele a tinha encurralado num dos cantos do quarto.

Ela sabia que não poderia ficar naquela posição por muito tempo. Em fração de segundos, lembrou-se das lutas de boxe das madrugadas de sábado e pensou que tal submissão poderia conduzí-la a uma derrota... e ela não sabia onde tudo aquilo ia dar.

De repente, buscando uma força que nem sabia possuir, ela sacudiu aquele corpo musculoso e o deixou um pouco tonto, mas não o suficiente para impedir que ele a jogasse de encontro a outra parede. Neste momento, foi ao chão e espatifou-se o abajour que ladeava a cama. A iluminação, que já era bem reduzida, ficou restrita apenas a uma arandela que havia no hall de entrada. Ela bateu a cabeça com força contra a parede, abrindo-se um corte na parte posterior. O sangue começou a escorrer por seu cabelo e ela teve medo, pois ele a olhava sem pena.

- Fala, sua desgraçada! Fala o que eu quero ouvir! Por que você planejou tudo isto? O que você ganhou indo embora? Fala! - aos berros, ele exigia que ela dissesse o motivo que a tinha levado desistir de viver aquele amor, que mais parecia ter se transformado no maior ódio do mundo.

O cheiro daquele quarto infecto pareceu invadir seus pulmões. Ela teve mais um segundo para olhar em volta, e ver o quão sujo estava aquele lugar escuro. As paredes tinham marcas de pés. Os lençóis estavam amarelados. As fronhas que envolviam os travesseiros cheiravam a suor. O pequeno sofá de dois lugares que compunha o mobiliário estava manchado em vários pontos e alguns pedaços do tecido que o revestia já haviam esgarçado.

No instante seguinte, ele já estava por cima dela, forçando violentamente seu braço esquerdo para trás, num desejo cruel de quebrá-lo. Ela já parecia resistir menos.

- Por favor, não me machuca, eu não fiz nada, eu só fui embora! Não me machuca! Por favor!

- Isto para você não é nada?! Eu mudei a minha vida inteira para ficar com você, eu deixei minha família, mudei de cidade, comprei apartamento, troquei de emprego, abandonei meus filhos e você vem agora me dizer que não fez nada?! O que é o AMOR para você? O que você conhece da vida? Agora eu vou te ensinar...

Num golpe mais perverso e violento do que os anteriores, ele a pôs de joelhos. E puxando sua cabeça para trás, segurando os cabelos grudados no sangue escorrido, ele a fez olhar em seus olhos...

- Olha para mim!!! Olha para mim, sua vadia!!! Você quer saber o que é NADA? Isto é NADA! Eu sou NADA! Foi a isto que você me reduziu! Sua cachorra! Eu te odeio! Eu te odeio!

Ela olhou para ele com o amor que ele buscava. E também com muito medo. E, de repente, sem conseguir encará-la por mais tempo, sem conseguir encarar o resto de amor que ainda havia dentro dele, ele a soltou. Ela caiu para trás, como se faltasse chão embaixo de seus pés.

Ele saiu e bateu a porta. Fechou todos os trincos e a deixou lá.

- Eu volto, sua vadia! A gente vai acertar nossas contas.

(continua...)

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