quinta-feira, janeiro 10, 2008

Devastados

Um dia, durante uma sessão de análise, usei o termo "devastado" para me referir ao homem que tinha sido o meu primeiro amor e que eu havia encontrado ocasionalmente no shopping.

Hoje, assistindo a um debate na TV, ouvi de novo este termo, tão pouco usual. A idéia discutida envolvia o vazio causado por uma ausência devastadora. Pais que se foram, amores perdidos, grandes lacunas, que não há como se preencher.

Meu primeiro amor foi um homem comum, nada especial para a maioria das pessoas, sem uma beleza rara. Para mim, ele foi mais do que especial, pois foi com ele que eu pude vivenciar um sonho e revelar tudo de bom que havia em mim. E, depois do fim do nosso romance, foi com ele que conheci tudo de ruim que havia em mim, pessoa que eu nem conhecia, nem sabia existir.

Meu primeiro amor não olhou para mim nesse encontro no shopping, mas me viu. Eu já o sabia ressentido, magoado. E o quê eu vi foi a pessoa que ele era quando eu o conheci: descuidado, barba por fazer, mal vestido, abandonado de si mesmo. Verdadeiramente "devastado".

Eu já não podia dizer o mesmo de mim. De lá para cá, tornei-me uma pessoa mais vaidosa, aprendi "grandes" pequenos truques femininos e adquiri novos bons hábitos de saúde e beleza. Estava bem, mas não sei quem ele enxergou.

Se ele manteve dentro dele a capacidade de me ver e me enxergar, percebeu que ao vê-lo daquele jeito, eu me senti igualmente devastada, como floresta queimada, tentando voltar a vida. O fogo queimou rápido naquele tempo, destruiu tudo de belo que havia entre nós, mas o carvão do tronco das árvores continuou aceso, queimando por muito tempo, trazendo fortes influências para muitos dos meus relacionamentos que vieram a seguir. Foram as pedras que eu não consegui abandonar pelo caminho.

Ah, como eu quis viver novos amores como aquele! Tentei várias vezes, com homens diferentes, busquei outros estereótipos, mas nenhum deles foi capaz de estabelecer comigo o mesmo grau de intimidade.

Até hoje, quando fecho os olhos, lembro da emoção que senti quando nos beijamos pela primeira vez. Era perto do Natal... e o Natal não teve as mesmas cores desde então - ele usava uma roupa verde e branca naquela época. Lembro também da música que embalou a nossa primeira vez - no amor, no sexo e na vida. Ela às vezes toca no rádio e eu não tenho como impedir que o seu cheiro invada o ambiente e preencha esse vazio devastador que ficou.

Se eu pudesse dizer alguma coisa a ele, com a certeza que ele fosse me ouvir, eu diria que aprendi - e que já não cometo mais os mesmos erros. Sei que ele ficou no passado, que ele é em mim esse grande vazio, uma saudade com a qual tenho que conviver. Mas, aprendi e continuo aprendendo todos os dias.

Lembra que o trato era ficarmos bem?

Um comentário:

O_PRG disse...

fiquei com inveja.
beijos