quinta-feira, julho 01, 2010

Por onde andei [5]

Quando você está fora da sua casa, tudo passa a ter uma nova perspectiva. Quando você fica num lugar mais de sete dias, começa a perceber como é que aquele povo vive, com que que o povo se preocupa, quais são os reais problemas deles, e o que eles têm de bom...

O que me chamou a atenção aqui foi a consciência ecológica, logo de primeira. Eles se preocupam com tudo. Por exemplo, eles separam o lixo todo. O que é orgânico, das latas, dos papéis, das garrafas de plástico. E não tem essa de uma lixeira por andar, não. Todo mundo tem que descer com o seu lixo, para por numa área no prisma interno de ventilação. Eles pagam uma taxa para o Governo para recolher o lixo orgânico e outra para que empresas privadas recolham o lixo reciclado. E quase não usam latas, porque elas são mais caras de fabricar e gastam mais energia.
Ah, e como os prédios são baixos, não tem essa de elevador, não. Eles simplesmente usam a escada para tudo. A galera acaba ficando sarada. Eu até pensei que conforme o tempo fosse passando, eu iria me habituar a subir e a descer as escadas. Só que não foi bem assim: em alguns dias tem sido simplesmente terrível... porque a gente anda muito, o tempo todo, então quando chega em casa, tudo o que quer é conforto e não fazer um spinning às onze da noite!

Tudo o que se compra é literalmente consumido. Não tem essa de deixar as coisas estragarem. Isso simplesmente não rola aqui: se você comprou morangos, é pra comer os morangos e não deixá-los estragar ao tempo. Eles são muito preocupados em evitar o desperdício. Muitas vezes, convidamos os nossos amigos para sair e a resposta que ouvimos foi: "não, obrigada, temos comida em casa que temos que consumir". E não é que eles não queiram estar conosco, é que eles racionalizam tudo, sem exceção.

Aliás, tudo tem um porquê aqui, não tem essa de romantismo. As pessoas são o que são e se fazem alguma coisa, não se furtam a te dizer o porquê. Com o tempo, você começa a compreender o idioma, ou as intonações que as pessoas usam, e consegue entender quando eles estão fazendo hora com a sua cara, quando estão p... da vida, ou quando querem simplesmente ser amáveis. Mesmo com essa língua danada que é a deles, onde parece que está todo mundo brigando... Quero ver quando eu chegar na França qual a sensação que eu vou ter a respeito dos franceses.
Quanto mais o tempo passa, vai me dando uma sensação cada vez mais forte de ser uma estrangeira. Estou sempre descobrindo, as coisas se revelam pra mim como se eu fosse de outro planeta, e sou capaz de me encantar com as coisas mais simples e corriqueiras deles. Hoje, por exemplo, foi o dia das crianças. O Erê estava solto. Todas as crianças que encontrei na rua sorriram para mim, e eu brinquei com elas, e o dia foi leve. Ganhei caras e caretas, as mais deliciosas do mundo.

No bairro onde estamos, praticamente todos os moradores fazem parte de uma comunidade turca. A sensação que eu tenho é que estamos no Méier, com o mesmo tipo de casario e de prédios, o mesmo comércio, e as mesmas pessoas, mais agitadas, mais falantes, mais expansivas. À medida que o tempo passa, percebo que eles vão nos reconhecendo e creio que se eu tentasse cumprimentá-los, receberia um "Hallo" de volta, como eles falam.

É incrível ter metrô para todos os lados. A malha viária deles é sensacional, você consegue ir para todo canto usando transporte público. Não dá para dizer que não foi possível chegar por falta de transporte. Agora, o mais incrível é a falta que o ar condicionado faz. Não há ar condicionado em lugar algum. O tempo passa e, ao longo do dia, a gente vai ficando molhado, grudado, encebado, e não há desodorante que segure. Eu não tenho conseguido evitar tomar mais de um banho por dia (pelo menos dois), apesar das recomendações que recebi de poupar água. Não sei como eles conseguem reciclar tanta roupa. Eu tenho lavado a minha com frequência e usado um varalzinho que tenho aqui na varanda mais do que eu gostaria.

Agora, o mais complicado é a sensação de exílio, da falta da terra da gente. Ficamos loucos por saber notícias de todo mundo, mas as pessoas acham que vão nos incomodar, então não nos escrevem. Nossa, como eu queria ter notícias do Brasil. Os sites de notícias mostram sempre as mesmas coisas, as mesmas tragédias, e não é isso que a gente quer ver. O que queremos é nos reconhecer no nosso idioma, nas nossas coisas, nos nossos problemas cotidianos de chuva, falta de água, calor, até ... violência... por incrível que pareça!

Graças à Deus, estamos rodeados de amigos, que estão empenhados em nos mostrar toda a cidade, a nos manter ocupados. Temos andado com eles para todos os lados, e estamos até perdendo a cerimônia que ainda tínhamos com eles. No final, tudo o que teremos é muita história pra contar.

Amanhã, teremos um jantar com os amigos do maridão num barco e, no final de semana, rumamos para Frankfurt!

Nas fotos, um pouco do nosso pequenino apto. Na última foto, no cantinho à esquerda, o meu pior pesadelo, o hidrômetro na porta da cozinha!

2 comentários:

Letícia disse...

Uma graça o apê!
Saudades.

Unknown disse...

Oi Raquel, adorei seus posts! Conte mais histórias p/ a gente, tá?!
Saudades,
Satya.