quarta-feira, julho 07, 2010

Por onde andei [7] - a estrangeira

Hoje, estamos praticamente no meio da viagem. Até aqui, foram 17 dias de uma viagem muito interessante, de muito despreendimento e de um aprendizado enriquecedor. Do que eu mais sou grata: de ter aprendido a me abrir para o novo e de ter descoberto que eu preciso de muito pouco para viver.

O novo inclui pessoas, lugares, cheiros, comidas, bebidas e toda sorte de impressões que eu vivi. As pinturas que eu vi, tanto nas telas dos museus quanto nas paisagens, me fizeram acreditar que é possível viver no meio do belo. Que a gente não precisa aceitar a sujeira, a porcaria, a pixação, só porque dá trabalho manter tudo limpo e preservado. Mas, é assim que as coisas na nossa terra deveriam ser, conservadas, bem cuidadas, para que a gente tenha a impressão de que gastamos dinheiro com impostos bem aplicados.

Continuo a minha viagem acreditando na possibilidade da mudança. Quando percebi que ao devolver as garrafas pet de água ou suco no restaurante da universidade, cada pessoa ganhava um crédito de 0,10 Euros no seu cartão (porque lá, eles tem um cartão só para usar no restaurante), fiquei encantada com a possibilidade. E as pessoas voltam pra devolver por causa dos centavos. É que é um incentivo a reciclagem.

Também fiquei de boca aberta quando meus amigos de Frankfurt serviram uma salada com folhas da sua horta. Não é mesmo um luxo ter uma horta caseira e saber que tudo que se está comendo é orgânico, sem a adição de agrotóxicos?

Na última manhã em Frankfurt, antes de embarcarmos, demos uma voltinha ao redor da casa deles e eu pude conhecer uma pracinha pública para as crianças (playground ou public kindergarten) onde elas ficam numa boa, se esbaldando, e onde a prefeitura estava trabalhando para instalar aparelhos de musculação para os adultos, tudo de graça. A própria comunidade dá conta de conservá-los. Confesso que senti uma pontinha de inveja.

Também vimos diferentes plantações de milho, que pra mim pareceram mais com trigo, mas, eles me juraram que era milho... e tudo aberto, sem cercas, sem preocupações... você não precisa se preocupar com o vizinho, porque ninguém vai invadir o seu espaço, mesmo!

Sou uma estrangeira porque tenho aqui preocupações que não me servem para nada. Fico alerta a bandidos que não existem, tenho medo que me levem a máquina fotográfica, que rasguem minha mochila, que me tomem alguma coisa... Mas, eles não vou tomar, não preciso nem me preocupar... Eles respeitam muito a propriedade alheia, até porque eles não têm muito, não. É tudo contado.

E contados também são os amigos. É por isso que chamar alguém de amigo aqui tem outro significado, é muito diferente. Amigo aqui é quase gente da família. Não existe essa coisa de amigo de buteco, que não vai na casa do outro e não sabe nem um ai do seu passado. Aqui eles perguntam tudo, querem saber tudo, quem você é, o que você pensa, como você vive. E te dão o maior valor se você tem amigos...

Sou um estrangeira porque aqui passei a dar o maior valor ao tamanho do dia e da noite, porque quando anoitece às 22:30 e amanhece às 4:30, você dorme pouco, fica um tanto quanto zureta e só se dá conta do cansaço quando precisa descansar e não consegue pregar os olhos. Os dias balanceados que temos no Brasil o ano inteiro são uma verdadeira dádiva. No verão, quando anoitece às 20:30, a gente estranha, mas se acostuma. E o horário de verão é ótimo, só dá para saber tendo uma experiência como essa. Um calor infernal às 23:00 da noite!

E para ilustrar esse post, uma foto do maridão com nossos amigos de Frankfurt, Günther e Achim.

Um comentário:

Bia Prado disse...

Estou adorando acompanhar sua viagem, suas observações e suas mudanças. O novo é muito bom! Quando voltar, vamos combinar aquele almoço com muito tempo, para contar tudinho!
Muito bom te ver feliz assim.
Beijos, querida!