domingo, julho 17, 2011

Sonhos

Assisti novamente no DVD hoje o filme "A Origem", que havia assistido no cinema no início desse ano. Novamente, fiquei impactada pela trilha sonora perfeita, pelos efeitos visuais, pela dramaticidade do roteiro, pela tensão... Mas, o que me comove mesmo neste filme é a história de haver uma possibilidade de você não se dar conta, num dado momento, do que é realidade e o que é sonho (ficção) na vida...

Ou seja, de tanto fantasiar, você pode ser tragado por uma vida de ilusões, que não necessariamente é a vida real, dura, crua, nua, boa, rica, do dia-a-dia.

Meu amigo argentino já tinha me dito que esse filme é baseado na obra de Jorge Luis Borges, e o diretor cita o Escher, quando fala da cena da escada de Penrose, que retrata aquela escada do Escher que não tem começo nem fim.

"O propósito que o guiava não era impossível, ainda que sobrenatural. Queria sonhar um homem: queria sonhá-lo com integridade minuciosa e impô-lo à realidade. Esse projeto mágico havia esgotado completamente o espaço de sua alma; se alguém tivesse lhe perguntado seu próprio nome ou qualquer traço de sua vida anterior, não teria dado com a resposta. (...) No início, os sonhos eram caóticos; pouco depois, foram de natureza dialética. O forasteiro sonhava consigo mesmo no centro de um anfiteatro circular que era de algum modo o templo incendiado: nuvens de alunos taciturnos exauriam a arquibancada..."
Jorge Luis Borges, "As ruínas circulares", In: Ficções, 1944.



Isso acontece com todo mundo, repetições constantes. Eu me lembro de já ter passado por isso. Um sonho que se repete constantemente. Eu, na arrebentação, furando ondas e mais ondas, grandes, estou sozinha, o mar vai me puxando com força, me levando pra longe, estou sem ter para quem, nem como pedir ajuda. Por minha conta. Sempre associei este sonho à alguma mensagem do meu subconsciente, me dizendo que sou capaz de vencer qualquer desafio, seja ele de que tamanho. Mas, sempre acordo cansada quando tenho um sonho desses. Cansada, mas pronta pra luta.



Já tive a sensação de estar sonhando dentro de um sonho. Isso é muito louco. As cenas não fazem sentido, não se concatenam, parece que o tempo é muito maior quando estou dormindo do que acordada. Acho que é isso que nos liga ao filme. A gente percebe que mais do que um estudo sobre sonhos, o roteirista Christopher Nolan colocou ali, nos dez anos de pesquisa que fez para construir o roteiro, todo o tipo de percepção que tinha em relação aos seus sonhos.



Eu já me peguei dizendo pra mim mesma: "Acorda, idiota, isso é um sonho!"... ou num estado de semi-consciência, trabalhando loucamente, mas ainda dormindo, naqueles minutos cruciais que antecedem o despertar do relógio nos dias de semana. Ou tendo sonhos que mais parecem premonições.

O que realmente me aflige é não sonhar. Isso me dá a sensação de uma noite mal dormida. Bom, eu não entendo nada de sonhos, nem sei se isso é bom ou ruim mesmo. Mas, não lembrar dos meus sonhos me soa como desperdício. Eles são tão criativos...

Para quem viu o filme, recomendo que veja de novo. É ótimo para pescar detalhes que podem não ter sido compreendidos no cinema. Para quem não viu, veja!

E, afinal, aquele reencontro é sonho ou ficção no final?

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