sábado, outubro 15, 2011

Cada um que aja de acordo com a sua consciência

Essa é a frase preferida do síndico aqui do prédio. Morador e proprietário de um apartamento na cobertura, ele não paga duas cotas de condomínio para ser síndico. É o que ele ganha. Basicamente, ele administra as contas e cobra multas dos condôminos atrasados. Mais não faz. Nunca vi ele comprar plantas novas pro jardim. Nunca vi ele mandar pintar o prédio internamente. Nunca vi ele mandar lavar a fachada de pastilhas do prédio. É fazer o mínimo e desaparecer sempre que possível para evitar reclamações.

Da última vez que achamos legítima a nossa indignação e resolvemos procurá-lo, a causa foi a construção irregular, sem o aval de um Responsável Técnico, de mais um andar no apartamento da cobertura da nossa coluna. Não fosse a perda de iluminação, porque o proprietário do referido apartamento prolongou o telhado, não fosse uma rachadura que apareceu no meu quarto e outra na saída do apartamento no corredor interno do prédio, não fosse a sujeirada que os empregados dexiaram na área interna, nós nem tínhamos nos dado conta da obra. Mas, aumentar a carga de um prédio construído num local de solo mole, do qual nós não sabemos como são as fundações, é preocupante, e por isso, só por isso, queríamos uma avaliação técnica da possibilidade daquela obra. Sem falar que isso representa aumento de IPTU, que ninguém quer pagar.

Nosso síndico encheu a boca e disse:
"Cada um que aja de acordo com a sua consciência!!!!"

Foi mais ou menos o equivalente a dizer: "Eu não me meto nessa história." Para quê, não é mesmo? Afinal, ele também fez o mesmo no apartamento dele e o prédio não caiu... Por enquanto...

Nós, então, resolvemos que íamos denunciar a Prefeitura, e assim o fizemos. Desconfiamos que o fiscal esteve aqui e, infelizmente, levou uma graninha do novo vizinho. O máximo que conseguimos foi o dito vizinho se dependurar na janela e gritar a plenos pulmões que:
"São todos uma cambada de invejosos!"

Ora, bolas, eu não invejo quem mora na cobertura do meu prédio. Invejo quem mora numa cobertura em Ipanema ou no Leblon, com aquele ar fresquinho da praia batendo, podendo caminhar à noite pelo calçadão, com um mar de bons restaurantes para escolher, noite fervilhante a apenas alguns passos... Não aqui. Sorry, sinto muito decepcioná-lo, vizinho!

A minha preocupação era legítima. Ninguém mais pode ter uma?

Isso me veio a cabeça por causa do infeliz acidente que ocorreu no Centro do Rio de Janeiro esta semana, no restaurante "Filé Carioca". A explosão, que mandou tudo pelos ares e matou, de cara, três pessoas, além de deixar 17 feridos, foi causada pelo uso de gás de botijão onde não era permitido.

Como diria meu síndico:
"Cada um que aja de acordo com a sua consciência!"

Mas, então, se algum dos vizinhos teve medo, preocupação e se deu conta de que estava em cima de uma bomba relógio, não podia reclamar? A quem ele reclamaria? Como garantir que alguma coisa seria feita para evitar aquele acidente? Como garantir que as leis seriam cumpridas, que alguém agiria para por um pouco de consciência na cabeça daquele proprietário, que ficou passando mal três dias por causa do absurdo e das consequências de seu ato irresponsável? Como garantir que o fiscal não levaria uma propina e ficaria tudo por isso mesmo?

É por estarmos apáticos, o tempo inteiro evitando as brigas e indisposições, com medo que o vizinho tenha uma arma e queira nos matar por nada, é que nos calamos. Nos calamos por tudo. E não é nada, não é nada, a vida vai ficando mais difícil. Ninguém mais quer seguir regras, só vale a "Lei do Gerson", onde cada um quer levar "vantagem em tudo", e que cada um aja de acordo com a sua consciência.

Eu tenho mais medo da apatia do que das bombas-relógio. Porque assim, vamos mal. Não chegaremos a lugar nenhum. Códigos de postura foram feitos para serem seguidos, leis e regulamentos técnicos também. Ensinem isso às novas gerações. Se queremos questionar alguma coisa, que o façamos nos órgãos corretos, junto às entidades competentes. Tudo bem, construir mais um andar num prédio todo mundo pode, mas se o prédio cair, se a laje ceder, se alguém se ferir, basta dizer que não sabia que não podia e ficar dias passando mal?

Não me convence. Convence a você?


Música do dia...

Nenhum comentário: