Há um mar revolto, em plena ressaca, com ondas de 2, de 3 metros, quebrando raivosas e destruindo calçadas, assolando uma praia deserta tomada por um vento frio e cortante.
Não há paz dentro de mim.
Há um vendaval persistente, que destelha casas, que arranca do chão árvores centenárias por suas raízes, que derruba postes e destrói sonhos e esperanças.
Não há paz dentro de mim.
Há uma chuva intensa, constante, assoladora, que inunda ruas, isola casas e pessoas, transborda rios, destruindo pavimentos e tudo o mais que se pensava sólido e indestrutível.
Não há paz dentro de mim.
Há apenas um sol escaldante, um tempo seco e árido, sem umidade, sem saliva, sem lágrima. Um tempo tórrido, a esturricar pensamentos, tecidos e pele, a tornar a pele seca e áspera. Um ar sufocante.
Não há paz dentro de mim.
Há uma voz que quer virar grito, que está travada na garganta, que impossibilita o diálogo, que dissimula sentimentos, que não se expande, não cresce, não vira eco, e que encobre qualquer sensação de calmaria que alguém pode ter.
Não há paz dentro de mim.
Há uma ausência do toque, do carinho e da atenção dos seres humanos. Uma ausência que preenche espaços internos de solidão vasta e agúda, uma ausência da palavra, do contato, do amor fraterno com o qual deveríamos nos tratar a todos.
Quando você me olha e me vê sorrir, não vê essa falta de paz. Não vê esse vazio que, volta e meia, me toma de assalto e me faz chorar baixinho. Sorrindo, eu te transmito uma paz que há muito tempo eu já não sei onde achar.
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2011.
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