domingo, setembro 09, 2012

Dois abraços, quatro braços

Chegou ao consultório sem pensamentos prévios. Deixou-se cair na cadeira e desabou a chorar.

Seu terapeuta esticou o braço para oferecer-lhe uma caixa de lenços de papel. "Chore, faz bem".

Ela não queria chorar. Tinha estado ali por longos anos, falando das mágoas, dos anseios, das dúvidas, dos medos e, de repente, quando tudo que ela queria podia se realizar, ela havia resistido mais uma vez.

Não tinha como contar. Sentia vergonha de si mesma. Quanto mais pensava na cena, mais ela se sentia infantilizada, incapaz de lidar com seus sentimentos sem a muleta do terapeuta para lhe explicar as coisas.

"Ele me abraçou, eu me desvencilhei do abraço". Quanto mais ela falava, mais as palavras pesavam. E sua voz amargava.

"Ele me puxou e me abraçou de novo. Queria me acalmar. Mostrar que estava ali, ao meu lado. Eu quis beijá-lo. Do contrário, dei-lhe a mão e reafirmei nossa parceria. Somos amigos, reforcei, olhando nos seus olhos."

O terapeuta ouviu-lhe com cuidado. Já não sabia mais quantas vezes a tinha visto declarar que o amava,... mas que amor era esse que não se realizava?

"Eu tenho medo de perdê-lo..."

Mas como é que se perde o que não se tem?

Ela chorou muito, a ponto de ficar com a cara inchada. O terapeuta ainda tentou extrair mais alguns fatos que justificassem o medo que ela tinha dele.

Seria por se sentir dominada por ele? Seria por adorá-lo, muito mais do que ele merecia? Por que? Qual a causa?

Ao encerrar a sessão e se encaminhar para a porta, pensou nos longos anos, no dinheiro investido, e na pessoa medrosa que era. Limpou o rosto de todas as lágrimas, e pensou que nunca mais voltaria naquele consultório.

"Se não consigo mudar sozinha, ao menos tenho que mudar de terapeuta"...

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