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domingo, novembro 04, 2012

Terapia





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Eu sempre quis fazer terapia de casal com o meu marido. Sinto que temos questões importantes da nossa vida a dois que não conseguimos tratar por nós mesmos. Então, imaginei que fazer terapia de casal pudesse ser uma solução para nós.

Nunca fizemos. Continuamos sem tocar em alguns assuntos. Discutir a relação o aborrece muito e então fazemos o que sabemos fazer melhor, colocamos os assuntos embaixo do tapete.

O que ganhamos?

Algumas coleções de mágoas. Elas ficam por aqui, rondando a cabeça, sempre prontas para vir à tona a qualquer momento. Nas grandes brigas, elas são o estopim que falta para que percamos a cabeça. Às vezes, consertar isso sai mais caro do que se tentássemos conversar.

Faço terapia há muito tempo. Agora numa segunda vez, com uma terapeuta diferente, que tem me ajudado a chegar a algumas boas conclusões. Sempre acho uma hora muito pouco. Queria mais às vezes. Noutras, queria menos. Aliás, não queria nem ir.

Talvez tenha sido por isso que o seriado "Sessão de Terapia", no GNT, me atraíu e que eu esteja tentando acompanhá-lo. Digo tentando porque é muito difícil pelo horário, 22:30, e porque tem dias que eu chego apagando em casa, de tão cansada do trabalho.

Todos os sábados e domingos tem maratona. Os cinco episódios da semana são apresentados em sequência, mais de 2:30h de programa. Meu marido tem acompanhado comigo.

Hoje, assistindo a um dos programas que trata de um personagem difícil, um policial que matou uma criança de dez anos durante uma troca de tiros, meu marido me pediu que eu explicasse a reação do terapeuta. Fiquei impressionada com a minha capacidade de sintetizar-lhe a estória, com meu pragmatismo, e a simplificação que fiz de algo tão complexo. Será que estou levando este pragmatismo também para as questões da minha vida? Tenho medo de tornar-me muito fria...

E duas das sessões apresentadas esta semana foram terapia de casal. Daí minha vontade de escrever sobre isso. Achei que deve ser profundamente desconfortável discutir assuntos pessoais na frente de uma pessoa estranha. Como confiar no terapeuta seus segredos mais profundos? Como se abrir para uma pessoa que - francamente - está ali te julgando, na frente de seu parceiro de vida?

Quando se faz terapia, é a sua verdade que você expõe. Ou pelo menos, o seu lado da estória. Se você finge, mente, transforma a estória para se beneficiar e ficar bem na foto, é a você que você está enganando. Ponto. É o seu dinheiro que está sendo gasto numa coisa inútil.

Não há, em nenhum momento, alguém para lhe apontar o dedo e dizer "não, não foi bem assim, você está inventando coisas!!" Então, é como se, com o outro presente, você tivesse que lidar com duas verdades, mais o juiz! Ou não?

Sinto que quando eu e meu marido assistimos às sessões dos outros, isto gera uma certa tenção no ar. Ficamos tensos. Como se os personagens dissessem um para o outro o que nos falta também dizer. Quase como se quiséssemos estar ali, naquela situação, mas certamente com muito menos desenvoltura para passar por ela. Então hoje, depois de dois lances difíceis, quando a maratona do programa finalmente acabou, nos abraçamos e nos beijamos. Quase cúmplices.

Como se soubéssemos que ainda que não falemos, nossos problemas são um pouco menos difíceis do que aqueles apresentados na tela. São, principalmente, fruto das distintas tintas com que pintamos a nossa vida.

Do drama à comédia de costumes, encontrar nosso ponto de equilíbrio é o desafio.

A propósito, o site do programa faz um quiz para sabermos com qual personagem mais nos assemelhamos. Esta é a minha resposta...


"Talvez por ser tão idealista e sensível, você goste tanto de ajudar o próximo e não de competir com ele. Só que, às vezes, dedicação demais aos outros pode representar uma fuga da nossa própria vida. Estar consigo pode ser mais difícil do que parece. Só se consegue ser inteiro com o outro quando estamos inteiros conosco. Este é o seu desafio."

domingo, setembro 09, 2012

Dois abraços, quatro braços

Chegou ao consultório sem pensamentos prévios. Deixou-se cair na cadeira e desabou a chorar.

Seu terapeuta esticou o braço para oferecer-lhe uma caixa de lenços de papel. "Chore, faz bem".

Ela não queria chorar. Tinha estado ali por longos anos, falando das mágoas, dos anseios, das dúvidas, dos medos e, de repente, quando tudo que ela queria podia se realizar, ela havia resistido mais uma vez.

Não tinha como contar. Sentia vergonha de si mesma. Quanto mais pensava na cena, mais ela se sentia infantilizada, incapaz de lidar com seus sentimentos sem a muleta do terapeuta para lhe explicar as coisas.

"Ele me abraçou, eu me desvencilhei do abraço". Quanto mais ela falava, mais as palavras pesavam. E sua voz amargava.

"Ele me puxou e me abraçou de novo. Queria me acalmar. Mostrar que estava ali, ao meu lado. Eu quis beijá-lo. Do contrário, dei-lhe a mão e reafirmei nossa parceria. Somos amigos, reforcei, olhando nos seus olhos."

O terapeuta ouviu-lhe com cuidado. Já não sabia mais quantas vezes a tinha visto declarar que o amava,... mas que amor era esse que não se realizava?

"Eu tenho medo de perdê-lo..."

Mas como é que se perde o que não se tem?

Ela chorou muito, a ponto de ficar com a cara inchada. O terapeuta ainda tentou extrair mais alguns fatos que justificassem o medo que ela tinha dele.

Seria por se sentir dominada por ele? Seria por adorá-lo, muito mais do que ele merecia? Por que? Qual a causa?

Ao encerrar a sessão e se encaminhar para a porta, pensou nos longos anos, no dinheiro investido, e na pessoa medrosa que era. Limpou o rosto de todas as lágrimas, e pensou que nunca mais voltaria naquele consultório.

"Se não consigo mudar sozinha, ao menos tenho que mudar de terapeuta"...