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sábado, outubro 06, 2012
alguém que não está lá
um abraço furtivo no meio da rua, uma busca eterna, uma procura por carinho. não há resposta. ela sente que abraça uma pedra, alguém que não está lá.
um pedido para ir a praia, molhar os pés, pra terminar a noite. calmamente, como se não tivesse escutado, ele dirige em direção a casa. como alguém que não está lá.
um choro convulsivo no meio da noite, um pesadelo. ela acorda pedindo um carinho, um abraço. ele reclama que não consegue dormir, e sai batendo as portas em direção ao sofá da sala. como alguém que não está lá.
um jantar preparado em silêncio, sem gosto, sem sal, sem carinho. como tem sido a vida. há tanto tempo.
como alguém que nunca está lá pode vê-la, senti-la, amá-la? como ela pode acreditar nele quando ele diz que a ama? que amor é esse o de alguém que nunca está lá?
como ela pode querer estar lá... com ele?
domingo, setembro 09, 2012
Dois abraços, quatro braços

Seu terapeuta esticou o braço para oferecer-lhe uma caixa de lenços de papel. "Chore, faz bem".
Ela não queria chorar. Tinha estado ali por longos anos, falando das mágoas, dos anseios, das dúvidas, dos medos e, de repente, quando tudo que ela queria podia se realizar, ela havia resistido mais uma vez.
Não tinha como contar. Sentia vergonha de si mesma. Quanto mais pensava na cena, mais ela se sentia infantilizada, incapaz de lidar com seus sentimentos sem a muleta do terapeuta para lhe explicar as coisas.
"Ele me abraçou, eu me desvencilhei do abraço". Quanto mais ela falava, mais as palavras pesavam. E sua voz amargava.
"Ele me puxou e me abraçou de novo. Queria me acalmar. Mostrar que estava ali, ao meu lado. Eu quis beijá-lo. Do contrário, dei-lhe a mão e reafirmei nossa parceria. Somos amigos, reforcei, olhando nos seus olhos."
O terapeuta ouviu-lhe com cuidado. Já não sabia mais quantas vezes a tinha visto declarar que o amava,... mas que amor era esse que não se realizava?
"Eu tenho medo de perdê-lo..."
Mas como é que se perde o que não se tem?
Ela chorou muito, a ponto de ficar com a cara inchada. O terapeuta ainda tentou extrair mais alguns fatos que justificassem o medo que ela tinha dele.
Seria por se sentir dominada por ele? Seria por adorá-lo, muito mais do que ele merecia? Por que? Qual a causa?
Ao encerrar a sessão e se encaminhar para a porta, pensou nos longos anos, no dinheiro investido, e na pessoa medrosa que era. Limpou o rosto de todas as lágrimas, e pensou que nunca mais voltaria naquele consultório.
"Se não consigo mudar sozinha, ao menos tenho que mudar de terapeuta"...
segunda-feira, junho 25, 2012
O rio diante do mar
"Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, o cume das montanhas, o longo
caminho sinuoso através dos povoados e vê à sua frente um oceano tão
vasto que entrar nele é desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Voltar é impossível na existência, pode-se apenas ir em frente. O rio precisa arriscar-se e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano o medo desaparece, porque apenas, então, o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano..."
Tudo que Deus reservou pra você, Ele reservou pra você e mais ninguém. Se é teu, um dia você pisca os olhos e está aí, diante de ti. Basta aguardar... perdas e ganhos são inevitáveis ao longo do caminho; o resultado final, pra quem merece, é muito aprendizado.
Música do dia: Time do Say Goodbye - Andrea Bocelli & Sarah Brightman
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Voltar é impossível na existência, pode-se apenas ir em frente. O rio precisa arriscar-se e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano o medo desaparece, porque apenas, então, o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano..."
Tudo que Deus reservou pra você, Ele reservou pra você e mais ninguém. Se é teu, um dia você pisca os olhos e está aí, diante de ti. Basta aguardar... perdas e ganhos são inevitáveis ao longo do caminho; o resultado final, pra quem merece, é muito aprendizado.
Música do dia: Time do Say Goodbye - Andrea Bocelli & Sarah Brightman
domingo, setembro 04, 2011
25 dias de prisão domiciliar

É assim que eu me sinto. O dia está lindo, posso ver pela janela. Céu azul, clima ameno, ideal para um passeio ao ar livre. E eu aqui esperando. Esperando o corpo vencer a batalha, para voltar ao meu normal. Não ao normal dos outros. Ao meu.
Enquanto espero, me contento com as ligações que recebo, com as poucas visitas. Elas me acalentam, me mostram algum carinho. Eu ainda me pergunto porquê tudo isso, porque uma crise tão intensa. Por que demoro tanto a ficar bem?
Hoje, abri o "Livro do Desassossego", do Fernando Pessoa, numa página qualquer, e era isso que dizia...
"144. Depois dos dias todos de chuva, de novo o céu traz o azul, que escondera, aos grandes espaços do alto. Entre as ruas, onde as poças dormem como charcos do campo, e a alegria clara que esfria no alto, há um contraste que torna agradáveis as ruas sujas e primaveril o céu de inverno banal. É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer. (...) Todas essas coisas não têm importância. São, como tudo no comum da vida, um sono dos mistérios e das ameias, e eu olho, como um arauto chegado, a planície da minha meditação. (...)"
A vida é mesmo cheia de mistérios, a sensação que tive foi que, por não ter tamanha competência, havia incomendado esse trecho ao Pessoa para ilustrar o meu 25o. dia de prisão domiciliar.
Música de hoje:
terça-feira, agosto 30, 2011
Meu universo particular, entre Facebooks e sonhos memoráveis
Lidar com a ignorância das pessoas e também com a tua sobre a doença é algo que irrita, a maior parte do tempo.
Rolam os mais variados comentários, que às vezes viram boatos: "Ela vai morrer...", "Ela está estressada", "Ela vai ter que ser operada de emergência...", "Tadinha dela, somatiza tudo...".
Para cada um que telefona, é preciso dar a mesma explicação: "Não, eu não vou morrer, não dessa vez"; "Não, eu não estava estressada com o trabalho, imagina!"; "Não, eu não vou ser operada agora, não se opera ninguém no meio de uma crise se for possível esperar"; "Não, não tem nada a ver com somatização, não dessa vez"...
Em resumo, meu corpo só precisa se recuperar sozinho - ele precisa de TEMPO, só isso!
Então, como se não bastasse toda essa incomodação, ainda há aqueles que te infantilizam e insistem em te tratar como uma criança de 5 anos de idade. Para esse povo que faz isso, só tenho uma coisa a dizer:
Ah, não enche!
Está bem, está bem, eu deveria estar / ser menos agressiva. Mas é que paciência tem limites, e eu estou com os meus por um fio.
Aí entra em cena o título deste post. Enquanto hávidaláfora.com.br, eu fico aqui, esperando nem sei o quê. Imagina uma pessoa que, há três dias, não conseguia ir ao laboratório fazer os exames médicos por causa do efeito dos buracos no asfalto na cabeça da coitada. Não dava pra dizer ao condutor do táxi: "Moço, toma cuidado para não passar em nenhum buraco, que eu estou com enxaqueca..." Impossível, pois nesta cidade, só tem buraco, não dá para desviar de um sem cair em outro!
De casa, vejo a vida pela tv, é claro, porque já não se vive sem ela, então nem conta mais. Pela varanda, mas o máximo que eu observo são as flores do meu bouganville nascendo, crescendo e atraindo mais e mais passarinhos e depois, sendo levadas pelo vento. E, finalmente, pelo Facebook, onde uns postam que vão à praia, outros vão fazer piquenique com a família. Uns vão fazer uma pequena cirurgia, outros oferecem palestras online gratuitas. Uns vão tomar café da manhã com os amigos no Leblon, outros saíram de férias e foram viajar. Uns perderam o emprego, outros estão como Deus quer, curtindo o ócio.
Tudo isso, mais os telefonemas que recebo, mais o que vejo na tv, formam uma louca colagem que dá origem aos meus sonhos. Dos me que lembro, só posso dizer que são muito, muito sem sentido. Borjes gostaria de usá-los como inspiração para os seus livros, tenho certeza. Costumam "ressussitar" pessoas que há muito já não dão o ar da graça na minha vida real.
E por falar em dar o ar da graça, tem outra coisa engraçada nessa coisa de estar doente. Alguns amigos assumem que não posso receber visitas porque não posso me contaminar (Hã !!!!????). Outros, me ligam dizendo que estão passando aqui, e não vêm, e sequer ligam para avisar que não vêm. Tudo bem, eu entendo que a vida de todos é corrida demais, que são muitas atividades, trabalho demais, que final de semana é pra passear e não para visitar gente doente. Eu também vivo uma vida corrida quando estou bem.
Mas se esse é um tempo de aprendizados, esse é mais um: não prometa o que você não vai cumprir. Quem está do outro lado, pode estar precisando de você.
Música do dia:
domingo, agosto 28, 2011
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