terça-feira, setembro 24, 2013

Gênios Indomáveis e solitários




Tenho pensado muito no filme Gênio Indomável esses dias por conta de algo que ocorreu no escritório. De novo, a cabeça fica rondando em torno do tema “Conhecimento tácito versus Conhecimento Explícito”.

Ocorre que há um tempo, um gerente me solicitou que indicasse um bom curso sobre Gestão do Conhecimento  no qual ele pudesse inscrever um dos membros de sua equipe, com menos de um ano de casa, de modo a acelerar o seu desenvolvimento. Eu, que já estava pensando em fazer o mesmo com os membros da minha equipe, sugeri que ele o inscrevesse num preparatório para a certificação MAKE (Most Admired Knowledge Enterprises, que ocorreria em SP, em pouco tempo).


Pelo que estava previsto na ementa do curso, este seria bastante completo e contaria com uma equipe fantástica de instrutores em sala de aula, profissionais vindos de fora, com bastante experiência no assunto.

Além do mais, para fazer o curso presencial, era preciso cursar um módulo introdutório pela internet, o que aumentaria ainda mais o nível de percepção e conhecimento destes empregados.


O profissional que este gerente resolveu inscrever no curso é um administrador a quem eu venho observando há um tempo, por considerá-lo um tipo bastante específico dentro do que chamamos “Geração Y”. Ele precisa de tudo mastigado em suas mãos, tem uma dificuldade muito grande de mergulhar em um assunto e debulhá-lo até extrair informação relevante para a sua vida e, consequentemente, para o seu trabalho. Diante das observações recentes que tenho feito a seu respeito, pude concluir que ele nada extraiu do material que eu passei para que ele lesse. Não uma ou duas páginas que eu julgasse relevantes, mas todas as páginas. 


No curso que estamos fazendo juntos, ele vem, seguidamente, reclamando com as professoras/instrutoras que elas não apontam a quais paginas do livro os assuntos mencionados nos slides estão se referindo. Olha, não faz tanto tempo assim que eu deixei a faculdade, mas, pelo que eu me lembro, os professores não se davam a esse trabalho. O que me leva a questionar: será que ele acha mesmo que as instrutoras têm que relacionar as páginas para facilitar a vida dele?


Pois voltando ao curso que ele fez em SP, junto com um rapaz da minha equipe. Perguntados, ao final do curso, qual era a sua avaliação, ele, a despeito de haver três PhDs na sala, e dois doutores, disse que preferia ter se restringido ao curso online apenas, onde ele podia retomar quantas vezes quisesse os assuntos que não tinha compreendido bem. Desprezou ali a importância de se construir um networking, de estar com pessoas experientes, que dominam o assunto, que entendem do que estão falando profundamente, e ainda, de tirar suas dúvidas pessoalmente, no face-a-face, muito mais interessante do que o ensino à distância.


Será que eles preferem mesmo o isolamento e a descoberta por si só?... Não é a toa que esta questão me remeteu a esta cena do filme “Gênio Indomável”, no qual o professor aponta para o aluno que o quê ajuda a construir conhecimento não são meramente os livros. São os sentimentos, as emoções, as vivências, a interação com outras pessoas, o degustar dos sabores, os cheiros... a integração com a natureza, a observação do entorno...



Tenho muito medo desta geração e me preocupo seriamente com o que estamos fazendo para dar conta destes desvios, criados e consolidados em função das tecnologias e da profunda falta de convivência social. Que será de nossas empresas no futuro? E se elas sobreviverem sem eles, o que será destes meninos, pequenos gênios solitários?

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