domingo, setembro 15, 2013

Deus da Carnificina

Depois de anos querendo ver a peça de teatro, eu e meu marido resolvemos ver o filme, que passou no cinema há bem pouco tempo, mas que não havíamos conseguido ver. Uma tosse seca e insistente está me tornando companhia desagradável para quem está comigo no cinema, então, como ninguém merece isso, resolvi ficar em casa mesmo.


O filme é de 2011, do Roman Polanski, diretor que sempre arrebenta, baseado na peça homônima da escritora francesa Yasmina Reza. A história passa-se em um apartamento em Nova York, o que torna o filme extremamente barato. Mas, não são os efeitos pirotécnicos que tornam um filme interessante, não é?

Pois bem, o casal Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) vai até a casa de Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly). O motivo do encontro: o filho do primeiro casal agrediu o filho do segundo. Eles tentam resolver o assunto dentro das normas da educação e civilidade, mas, aos poucos, cada um perde o controle diante da situação.

O quarteto é composto de personalidades muito diferentes: Kate Winslet interpreta Nancy Cowan, mulher acostumada à elegância e à cordialidade, tendo sempre que se desculpar pelo comportamento inadequado de seu cínico marido, Alan Cowan, interpretado por Christopher Waltz. O outro casal é composto por Michael Longstreet (John C. Reilly), um homem acostumado à imagem de bondoso, mas que esconde um temperamento mais forte do que se esperava, e Penélope Longstreet (Jodie Foster), uma mulher guiada por rígidos princípios morais. Então a luta psicológica começa...

O que se revela neste filme é uma profunda hipocrisia de quem diz lutar pelos direitos humanos, uma tentativa dos envolvidos de se manterem civilizados, envolvidos que estão no conceito chato do politicamente correto, que muitas vezes, impedem as pessoas de se mostrarem como realmente são ou pensam. Alguns tipos são bem marcados: o marido Alan Cowan, pai do menino que revida uma agressão verbal com uma porrada de um pedaço de bambu que arrebenta a boca do primeiro e o faz perder dois dentes, atua como se não estivesse nem aí para nada além de seu próprio trabalho e por isso, não larga o celular; sua mulher, Nancy, quer fazer o tipo de elegante e sensata, mas acaba vomitando de nervoso sobre toda a coleção de livros de arte da anfitriã, e enche a cara de uísque depois disso; a anfitriã, Penélope, que diz defender os fracos e oprimidos da África, mas é incapaz de se colocar no lugar de qualquer pessoa, e, principalmente, de seu marido bundão.

Enfim, a gente vê muita gente assim por aí, aliás, parece que o mundo está cheio de gente tentando ser o que não é, deixando de lado a espontaneidade, a veracidade de seus atos. E o nome do filme, Deus da Carnificina, tenta nos aproximar do nosso lado animal, grotesco, aquele que reage violentamente quando somos atacados, e que só se mantém sob controle porque estamos sempre submetidos à rigorosas leis morais, éticas, e até religiosas, que nos guiam e nos impedem de explodir diante dos outros.

Se bem que o que se vê pelas ruas não é bem isso... A gente vê as pessoas cada vez mais interessadas em cuidar do seu, em garantir o seu pedaço do bolo, em desfrutar antes dos outros do que a vida lhes reserva, tornando tudo mais complicado e difícil...

Fico me perguntando, muitas vezes, de onde vem esse nível de estresse a que estamos constantemente submetidos e chego a conclusão de que há 10, 15 anos, as coisas eram bem mais tranquilas, a sociedade em geral estava bem menos estressada... Enfim, ninguém faz nada mesmo para mudar este estado das coisas...

O final do filme, ah, esse merece ver para saber. Você vai gostar! Quer saber mais, clica aqui.

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