segunda-feira, junho 19, 2006

Dona da raiva

A raiva resolveu me invadir hoje,
sem pedir licença,
sem ligar pro fato
de que eu não baixei a guarda.

Tirou-me do sério,
deixou-me como louca,
transtornada,
bradando impropérios
aos ventos.

Nestas horas,
sinto que as pessoas não me ouvem,
não me vêem.
Vêem como a um bicho acuado,
irritado, que não mobiliza,
nem imobiliza,
apenas cai no descrédito.

Nestas horas, não sou eu,
sou apenas um resto do que
outrora eu gostaria de ter sido.
Sou apenas um ser desprezível,
que não se controla,
que não sabe que calar
é muitas vezes mais importante
do que gritar, do que expelir
a raiva contra o outro.

A raiva é teimosa,
esquenta, arrebenta com a voz,
tortura e deixa um gosto amargo
do que foi dito intempestivamente,
sem reflexão,
com o coração exposto,
pronto para ser fatiado
e assado num espeto de churrasco.

A raiva maltrata e machuca os outros.
Mas machuca mais a mim,
que sofro pelo descontrole,
pelo desabafo
mal dado,
mal dito,
maldito!

Hoje a raiva me invadiu,
me tornou insana,
me enfraqueceu a alma.
Me quebrou.

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