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Tem gente que não gosta do estilo dela. Nem do da Lya Luft. Nem do da Thalita Rebouças. Nem do Paulo Coelho. Não, não os estou colocando no mesmo saco, até porque não gosto do Paulo Coelho, nunca li Thalita, nem sou muito fã da Lya. Mas, acho a forma como a Martha escreve muito, mas muito incrível. Porque é simples. E porque parece que ela viveu coisas muito parecidas com as que vivi.
Acho que esses escritores têm um grande mérito, que é o de conseguir se comunicar com as massas, e o de vender muito livro. Isso não é para qualquer um. E a Martha ainda tem algumas colunas nos jornais que a levam a escrever com uma regularidade boa, e nunca vi ela desprezar uma coluna com um texto medíocre, como acontece com alguns escritores por aí.
Das histórias do livro "Tudo o que eu queria te dizer", eu gostei de várias. Mas, a da atriz que não se considera boa e que não quer pra si o reconhecimento que o público e a crítica lhe proporcionam é realmente impactante, porque questionar-se diante do espelho, acredito, é dor de todo mundo. Destaco aqui três trechos:
"Pegue tudo o que eu já fiz e recolha, ensaque e jogue em qualquer terreno baldio. Ninguém vai dar por conta. Nem eu, e é o que deveria estar tratando num divã. (...) Não faço falta.
Durante esses anos todos, duas ou três frases foram verdade. Os "eu te amo" mais sinceros foram para quem não amei. E os homens que amei não escutaram. Eu não sei o lugar certo de dizer. A hora certa de ser humana. Tenho a sincronia de um espantalho. Paralisada. Ninguém precisa de assustar comigo. Eu sou de mentirinha.
Gostar é uma sofisticação. Perdi essa aula, não aprendi a manifestar meu afeto. De mim, gostei uma época. Hoje me repudio com mais honestidade. Dei muito errado, e poucos notam. E que nota nem se dá ao trabalho de me vaiar. O desprezo dos que percebem a farsa dói tanto quanto a adulação dos cegos".
Quantas e quantas vezes a gente não duvida de si mesmo nessa vida? Não se sente incompetente? Não acha que alguma coisa está errada? Mesmo que saibamos da nossa competência, do que somos capazes, não dá pra ser seguro o tempo todo. É aquela palavra mal colocada, aquele feedback mal dado, um cliente que não sabe pedir e que por isso não gosta de nada que entregamos, enfim, existem milhões de coisas que nos deixam inseguros... Ah, e o amor então? Esse, nem se fala...
"Meu quarto, por que devo deixá-lo todas as manhãs? A cama. O colchão. Bem deitada é a minha posição favorita. O teto me conforta, as paredes, estar protegida. Veria televisão pra sempre, se pudesse".
Eu tenho essa terrível sensação de vez em quando. A de não querer sair da cama. Mas, o relógio do celular toca insistentemente por 30 minutos {na função soneca} antes que eu consiga desistir de começar o dia, então, lá vou eu. Sei que um dia vou voltar a ter tesão de levantar e trabalhar... essa nuvem negra vai passar, tenho certeza.
"E de agora em diante não existe tempo. É só uma reticência da rotina. Vou continuar sendo quem eu sou, aquela que não é. A mulher que eles me vêem (...)"
Como não se comover com uma mulher/escritora que consegue expressar as mesmas angústias que sentimos todos nós? Como não pensar que essas dúvidas filosóficas são as dúvidas de todo mundo e que viver é duro pra todos?
O bom da vida é essa nossa incrível capacidade de se regenerar!!! Eu gosto disso! Gosto mesmo!