Querida,
Não tenho pressa, mais cedo ou mais tarde sempre encontraremos nossos caminhos. Espero que os nossos sempre se cruzem.
do seu amigo,
José
jan/96
O livro? Demian, de Hermann Hesse. De birra, picuinha, ela nunca leu o dito. Deixou esquecido na estante. Não sabia porque ele havia escolhido este autor, nem este título. Aliás, mal se lembrava de onde havia surgido aquela paixão avassaladora.
O fato é que em janeiro de 1996, ela já havia virado a página, já estava em outra. Havia cansado de esperar por alguém que tinha grandes dificuldades em tomar decisões. O tempo passou, e seu cérebro tratou de apagar os traços de seu rosto, o tom da sua voz, seu número de telefone e endereço, que ela sabia de cór... enfim, foi apagando o amor assim como ele fez com ela.
Agora, lá estava ela, que por uma coincidência, havia encontrado uma foto dele numa busca no Google, e ele estava vivo. Depois de tanto tempo desaparecido, descobriu, com as poucas informações de que dispunha, que ele estava ao alcance de um telefonema. Ou um e-mail.
Talvez, sempre estivera ali, ao alcance da mão, ela é que não quis remexer naquele lodo por todo esse tempo. Foram 16 anos sem vê-lo. Agora, uma foto, um clique, e pronto. Ele era professor e talvez tenha até mantido seu lado empresarial.
Talvez tenha sido esse o jeito que ele encontrou para sobreviver àquilo tudo, indo embora, recomeçando do zero, saindo de cena.
Não, talvez não tenha sido coincidência. Talvez, do mesmo modo que ela o encontrou ali, ele a tenha chamado telepaticamente, por tê-la visto em fotos recentemente, por ter feito ele uma busca ao seu nome, talvez...
Como algo que nunca foi encerrado, e que não merece ser remexido, esse contato talvez deva mesmo ficar pra uma próxima... vida.
Música do dia: "Impossível acreditar que perdi você" - versão do Toni Platão