quinta-feira, dezembro 26, 2013

O dito pelo não dito

um almoço especial, com alguém especial


Chegou no local combinado 20 minutos atrasada. Com a ansiedade com a qual ele havia lhe telefonado anteriormente, ela supôs que ele já deveria estar lá. No entanto, o prédio estava fechado. Só abriria dali a dez minutos.

De repente, ao se virar, ele vinha na sua direção. Não havia mudado nada, só estava um pouco mais velho. Ela olhou para ele, os cabelos mais curtos, e sentiu seu coração bater na boca. Sempre se via emocionada quando o via. Ele tinha o poder de lhe suprimir o ar.

Falava com o pai ao telefone, alguma conversa que ela não compreendia bem, graças à eterna mania de só conversarem em italiano. Ele era seu príncipe italiano.

Aguardaram o salão do restaurante abrir, e quando perceberam, estavam os dois, sozinhos, de frente para o outro, naquele salão imenso. Como nunca, ela sentia uma saudade tão grande dele, que preferia olhar pra ele, sentir seu jeito familiar, beber suas palavras, sorver seu hálito e suas ideias. Era completamente vidrada por ele.

Havia um certo nervoso, uma tensão no ar. Podia ser paixão, talvez. Ele não tirava os olhos do seu colo, apesar dela usar uma blusa mais fechada que o normal. Mais tarde, olhando-se no espelho, percebeu que ele devia estar vidrado nos colares que ela usava, um cordão de ouro com pontos de brilhante, e um outro com um pingente em formato de grão de café. No espelho, ela percebeu que eles reluziam sob a incidência de luz.

Ela olhava para ele, que respirava ofegante enquanto falava. Tinha no segundo dedo da mão direita um anel antigo, com uma pedra azul marinho (água marinha?) e na lateral, uma coroa, como príncipe que era. A medida que falava, mudava o anel de mão, de dedo, olhava para a comida e para ela. Parecia não estar com fome de comida.

Somente uma vez, sorriu com o jeito de garoto que tanto a encantava. Quando sorri assim, ela simplesmente perde o prumo, é o sorriso mais encantador do mundo.

Ao sairem do restaurante, andando lado-a-lado, ele ainda ensaiou perguntar a ela: "quais são seus planos para 2014?"

"Envelhecer ao seu lado", ela pensou. Mas, como não foi capaz de lhe dizer o que pensava e sentia, este sonho oprimido pelo medo ficou só no pensamento...

Entrou no táxi com a pior sensação de incompetência que podia sentir como mulher...


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