domingo, setembro 04, 2011
25 dias de prisão domiciliar
É assim que eu me sinto. O dia está lindo, posso ver pela janela. Céu azul, clima ameno, ideal para um passeio ao ar livre. E eu aqui esperando. Esperando o corpo vencer a batalha, para voltar ao meu normal. Não ao normal dos outros. Ao meu.
Enquanto espero, me contento com as ligações que recebo, com as poucas visitas. Elas me acalentam, me mostram algum carinho. Eu ainda me pergunto porquê tudo isso, porque uma crise tão intensa. Por que demoro tanto a ficar bem?
Hoje, abri o "Livro do Desassossego", do Fernando Pessoa, numa página qualquer, e era isso que dizia...
"144. Depois dos dias todos de chuva, de novo o céu traz o azul, que escondera, aos grandes espaços do alto. Entre as ruas, onde as poças dormem como charcos do campo, e a alegria clara que esfria no alto, há um contraste que torna agradáveis as ruas sujas e primaveril o céu de inverno banal. É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer. (...) Todas essas coisas não têm importância. São, como tudo no comum da vida, um sono dos mistérios e das ameias, e eu olho, como um arauto chegado, a planície da minha meditação. (...)"
A vida é mesmo cheia de mistérios, a sensação que tive foi que, por não ter tamanha competência, havia incomendado esse trecho ao Pessoa para ilustrar o meu 25o. dia de prisão domiciliar.
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