quarta-feira, maio 28, 2008

Acidentes verbais

I

Era um dia comum, como qualquer outro. Dia que podia começar bem, ou não. Não me lembro de nenhuma característica especial daquele dia: se fazia sol, ou se estava chovendo, se estava calor ou frio, se eu estava bem ou mal humorada... enfim, era um dia normal.

Cheguei no escritório, comecei a tratar dos assuntos rotineiros, até que tive que ir ao pool de impressoras para buscar uma impressão. Fiquei observando as pessoas que chegavam e saíam, atraídas pelo café quente (que, por acaso, também fica à disposição de todos, próximo aos equipamentos de impressão e fotocópia, na configuração atual).

De repente, enquanto eu recolhia e classificava as cópias, um dos meus colegas entrou na sala, vestindo uma maravilhosa camisa cor-de-rosa de mangas compridas, enfiada em uma calça jeans azul escuro. Para mim, o traje perfeito para um casual day. Sem pensar no que dizia, proferi as terríveis palavras:

- Uau! Adoro homem de rosa! Fica perfeito! Parabéns pela escolha, a combinação ficou ótima!

Me arrependi quase que imediatamente. Meu colega ficou morrendo de vergonha, tentou se esquivar dizendo que quem havia escolhido a camisa fôra asua mulher, que a princípio ele não sabia se teria coragem de usá-la, mas que, agora, já estava se acostumando. Eu fiquei me sentindo como se tivesse escorregado numa casca de banana. Foi um acidente tamanho, que eu não sabia se dava tempo ou se valia à pena consertar. Só queria dizer a ele que aquilo não era assédio sexual, não era uma cantada. Eu só quis dizer que gosto de homem vestido de rosa, principalmente porque eu acho que o cara tem que ser muito macho para vestir rosa... Sorte minha que não haviam testemunhas...

E passei o resto do dia envergonhada com aquele mico, tentando não encará-lo todas as vezes que passava por ele.

II

Duas semana depois, meu chefe me pediu que o substituísse em uma reunião. Eu fui, sabendo que só os gerentes estariam lá. Minha obrigação era anotar tudo para contar ao chefe, evitando dar opiniões inadequadas (a esta altura eu já estava enquadrada na cultura da empresa).

Como fui uma das primeiras a chegar, fiquei brincando com o lápis, com a cabeça enfiada no caderno, aguardando os demais. Eles foram se acomodando um a um, atrasados como sempre, para desgosto do chefão, enquanto eu ia fazendo uma lista dos presentes no meu caderninho.

De repente, lá veio ela: a temida camisa rosa. Meu colega estava lá, vestindo a bonitona de novo. Eu olhei para ele e pensei: ai, meu Deus. Aquela camisa de novo, não! Deixa eu ficar quietinha aqui no meu cantinho!

Quando a reunião estava quase começando, as piadinhas de entrada estavam sendo servidas, o povo se acomodando, pedindo café ao garçom, água com gás, por favor, ele me solta essa, olhando para mim:

- Hoje quando escolhi esta camisa, pensei em você!

Não, isso não era uma cantada, podia pôr minha mão no fogo, mas foi um desastre. Todos me olharam. Eu, que ainda sou uma mulher à moda antiga, fiquei imediatamente vermelha, um pimentão! Ele, percebendo os terríveis pensamentos que inundaram a sala, certamente pensou em cavar um buraco, para enfiar a cabeça...enfim, silêncio total, todo mundo fazendo caretas em minha direção.

Foi quando lembrei do lema de uma amiga e respondi:

- Ficou ótimo, como sempre! Sua mulher tem muito bom gosto!

E a reunião começou, sem maiores burburinhos, voltando à burocracia do dia-a-dia. A propósito, o lema da minha amiga, que ela roubou do Garfield, é:

NA DÚVIDA, MANTENHA O CHARME!

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom