domingo, junho 08, 2008

Paulicéia desvairada

Faz um tempo que, todas as vezes que vou a São Paulo, dou de cara com um engarrafamento do tamanho do mundo. Não me lembro mais desta cidade sem engarrafamento.

Dias agradáveis, ensolarados, dias nublados, dias de chuva. A cidade parece ter sempre a mesma cara, com pessoas resignadas ao volante, numa fila de carros a dez quilômetros por hora.

Da última vez, não fui feliz e reservei um hotel muito distante do meu destino. Não fosse a habilidade do motorista do táxi que eu tomei, teria levado um século para chegar.

Mas nem sempre é assim. Se você pega a Marginal, e encontra um engarrafamento, precisa começar a rezar. Para ter a paciência que o paulista tem, é preciso tomar remédio. Tarja preta. Será que os postos de saúde estão oferecendo estes remedidos para a população? Deveriam!

Dessa vez, tive mais sorte, e pude ir andando, o que é um grande feito em se tratando de São Paulo.

A violência no trânsito também assusta. E como toda grande metrópole, São Paulo não está imune a ela. Então o que se vê são, ora pessoas anestesiadas, que fingem não ver o que se passa ao seu redor, ora completamente alteradas, capazes de cometer qualquer barbaridade, como fez aquele homem que ameaçou uma mulher grávida, em cena filmada por um cinegrafista amador, que foi parar na TV.

E para mim, o que é mais grave é o desprezo pelo tempo dos outros. Dizemos tanto que estamos na sociedade do conhecimento, onde conhecimento e o tempo das pessoas, principalmente, estão sendo supervalorizados... como podem as pessoas perderem horas para ir de um ponto a outro, percorrendo pequenos trechos? Além do impacto na saúde das pessoas, uma cidade constantemente parada gera transtornos no trabalho, já que não se consegue pontualidade para nenhum compromisso, e altera a rotina das pessoas, que já não se deslocam para longe por medo de levarem o mesmo tempo que levariam se estivessem na carruagem no início do século passado.

Que bom seria se todos pudessem morar próximo do local de trabalho!!! Para aqueles que podem, duas alternativas: de um lado da marginal, favelas e mais favelas. Com um grande e luxuoso shopping crescendo ao seu lado. Do outro, os prédios mais loucos do mundo, 40 andares, vários tipos de apartamentos (simples e pequeno, um-por-andar e grande, um pouco maior e duplex, muito maior e triplex) numa edificação só, enfim, modernidade para os ricos. Isso é Sampa!

Esse é o preço que se paga por não exigirmos dos nossos governantes que cuidem do sistema público de transporte, além do crescimento exacerbado das cidades. Enquanto formos os que não falam, não vêem, não escutam e, principalmente, não cuidam dos nossos votos, teremos que arcar com este custo.

Espero estar viva para ver essas mudanças, quando tivermos cidades onde a vida é viável.

Um comentário:

Claudia Moema disse...

Segundo os especialistas, São Paulo para em 5 anos e o Rio e Belo Horizonte em 10 anos. Talvez assim se comece um movimento de reciclagem do tempo.Talvez se realize um sonho: trabalhar perto de onde se mora.