Mostrando postagens com marcador filosofia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador filosofia. Mostrar todas as postagens

terça-feira, setembro 17, 2013

Piruá

Tenho pra mim que a Martha Medeiros é uma sábia mulher, assim como a Lya Luft. Elas conseguem filosofar sobre coisas simples e cotidianas. Esses dias, li um trecho de um livro dela (tenho vários) que dizia...


"Pesquisando sobre o tema, descobri que o milho que não estoura se chama piruá. Sabe aquele milho que sobra na panela e se recusa a virar um floquinho branco, macio e alegre? Piruá. E aí tenho que concordar com o escritor Rubem Alves, que já escreveu sobre o assunto: tem muita gente piruá neste planeta. Gente que não reage ao calor, que não desabrocha. Fica ali, duro, triste e inútil pro resto da vida. Não cumpre sua sina de revelar-se, de transformar-se em algo melhor. Não vira pipoca, mantém-se piruá. E um piruá emburrado, que reclama que nada lhe acontece de bom. Pois é. Perdeu a chance de entregar-se ao fogo, tentou se preservar, danou-se."


Pois é, depois de velha, esse se tornou meu maior medo. Não estourar, virar piruá. Quero muito do mundo, da vida, quero realizações, como se eu tivesse que realizar algo todos os dias para ser feliz! Por isso, anoto tudo que eu faço, como num diário. E como se eu pudesse quantificar e qualificar minhas realizações, vou levando a vida. Certa ou errada, esse é meu jeitim de viver...



Só sei que essa gana de viver e de realizar me impulsiona a viver e a caminhar, mesmo naqueles dias piores, onde a gente não tem força nem para levantar da cama. E assim a gente vai vivendo, fazendo bonito...

A única coisa que falta é o RISCO. Tenho que me conscientizar que viver é correr riscos, e botar mais adrenalina na história... mas, isso é assunto pra outro post.

domingo, setembro 15, 2013

Deus da Carnificina

Depois de anos querendo ver a peça de teatro, eu e meu marido resolvemos ver o filme, que passou no cinema há bem pouco tempo, mas que não havíamos conseguido ver. Uma tosse seca e insistente está me tornando companhia desagradável para quem está comigo no cinema, então, como ninguém merece isso, resolvi ficar em casa mesmo.


O filme é de 2011, do Roman Polanski, diretor que sempre arrebenta, baseado na peça homônima da escritora francesa Yasmina Reza. A história passa-se em um apartamento em Nova York, o que torna o filme extremamente barato. Mas, não são os efeitos pirotécnicos que tornam um filme interessante, não é?

Pois bem, o casal Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) vai até a casa de Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly). O motivo do encontro: o filho do primeiro casal agrediu o filho do segundo. Eles tentam resolver o assunto dentro das normas da educação e civilidade, mas, aos poucos, cada um perde o controle diante da situação.

O quarteto é composto de personalidades muito diferentes: Kate Winslet interpreta Nancy Cowan, mulher acostumada à elegância e à cordialidade, tendo sempre que se desculpar pelo comportamento inadequado de seu cínico marido, Alan Cowan, interpretado por Christopher Waltz. O outro casal é composto por Michael Longstreet (John C. Reilly), um homem acostumado à imagem de bondoso, mas que esconde um temperamento mais forte do que se esperava, e Penélope Longstreet (Jodie Foster), uma mulher guiada por rígidos princípios morais. Então a luta psicológica começa...

O que se revela neste filme é uma profunda hipocrisia de quem diz lutar pelos direitos humanos, uma tentativa dos envolvidos de se manterem civilizados, envolvidos que estão no conceito chato do politicamente correto, que muitas vezes, impedem as pessoas de se mostrarem como realmente são ou pensam. Alguns tipos são bem marcados: o marido Alan Cowan, pai do menino que revida uma agressão verbal com uma porrada de um pedaço de bambu que arrebenta a boca do primeiro e o faz perder dois dentes, atua como se não estivesse nem aí para nada além de seu próprio trabalho e por isso, não larga o celular; sua mulher, Nancy, quer fazer o tipo de elegante e sensata, mas acaba vomitando de nervoso sobre toda a coleção de livros de arte da anfitriã, e enche a cara de uísque depois disso; a anfitriã, Penélope, que diz defender os fracos e oprimidos da África, mas é incapaz de se colocar no lugar de qualquer pessoa, e, principalmente, de seu marido bundão.

Enfim, a gente vê muita gente assim por aí, aliás, parece que o mundo está cheio de gente tentando ser o que não é, deixando de lado a espontaneidade, a veracidade de seus atos. E o nome do filme, Deus da Carnificina, tenta nos aproximar do nosso lado animal, grotesco, aquele que reage violentamente quando somos atacados, e que só se mantém sob controle porque estamos sempre submetidos à rigorosas leis morais, éticas, e até religiosas, que nos guiam e nos impedem de explodir diante dos outros.

Se bem que o que se vê pelas ruas não é bem isso... A gente vê as pessoas cada vez mais interessadas em cuidar do seu, em garantir o seu pedaço do bolo, em desfrutar antes dos outros do que a vida lhes reserva, tornando tudo mais complicado e difícil...

Fico me perguntando, muitas vezes, de onde vem esse nível de estresse a que estamos constantemente submetidos e chego a conclusão de que há 10, 15 anos, as coisas eram bem mais tranquilas, a sociedade em geral estava bem menos estressada... Enfim, ninguém faz nada mesmo para mudar este estado das coisas...

O final do filme, ah, esse merece ver para saber. Você vai gostar! Quer saber mais, clica aqui.

terça-feira, julho 24, 2012

Culpa


Nada é mais profundo
do que uma pessoa com os olhos vidrados de culpa. Pessoas sem culpa são monstros morais. O discurso segundo o qual a culpa é uma forma pensada de controle dos mais fortes sobre os mais fracos (em que pese o fato de que a culpa pode ser mesmo manipulada, como tudo o mais que é verdadeiro na vida humana) é falso e indica antes de tudo uma mentalidade infantil, na medida em que se sentir culpado é um dos modos mais típicos da consciência moral.
Em assuntos como esses, melhor do que a argumentação pura e simples é a experiência. Você, caro leitor, já fez mal a alguém? Alguém que não merecia? Se a resposta for não, você é um mentiroso.
-- Pondé, Luis Felipe, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, 2012

A imagem acima me é interessante porque toda vez que a gente 
aponta o dedo contra alguém, tem sempre 4 dedos apontados na nossa direção 
- e são os nossos. Quem nunca errou na vida que atire a primeira pedra.