domingo, novembro 17, 2013

No teu deserto, livro querido

Um livro repleto de amor. Um amor não realizado. Um amor entre um homem maduro e uma menina jovem, que sabe pouco da vida. Quem nunca viveu isso?

Eu me emociono toda vez que penso na história, penso que podia ser a minha história. Toda vez que empresto este livro, dou ele como perdido. Perdido para o reino dos amores impossíveis. O reino das histórias que tocam o coração das pessoas. Daí vou a livraria mais próxima, e compro outro, com gosto. Esse já é o quarto que compro, um livro que eu gosto de ter. Eu acho que estou enriquecendo o autor.

O nome do livro? "No teu deserto", do Miguel Sousa Tavares.

"Nesta noite, quando chegámos ao quarto que partilhámos no hotelzinho em Argel (e porque tu tiveste medo de dormir num quarto sozinha e, já que inofensivamente tínhamos partilhado um camarote na noite anterior a bordo do Ciudad de Oran, achámos igualmente inocente partilhar aquele quarto onde só havia uma cama de casal), tu foste tomar banho em primeiro lugar. E porque a porta da casa de banho não encostava bem - e não sei se reparaste nisso -, de onde eu estava, estirado na cama, a repousar das oito horas ao volante mais o resto, vi-te a despir, a ficares toda nua e a entrares na banheira de água quente e nem por um momento me ocorreu deixar de o fazer. Estava cansado demais para desviar o olhar".
 
No Teu Deserto, escrito em Portugês de Portugal,
lindo demais!



Como se o livro pudesse me ajudar a expressar o que sinto, o desejo contido, a vontade de encher a boca para dizer "EU TE AMO" desde sempre, eu também já o dei de presente. Mais um livro jogado numa estante, nenhum comentário, nada que desse brecha a um comentário extra, um adendo, nada.

As histórias emocionam as pessoas de forma diferente, fazer o quê?

É por estes caminhos tortuosos, que a gente vai encontrando a si mesmo.

O tempo passa, e o que a gente precisa ter é cuidado para que o NADA do deserto não nos invada de assalto e arrebate a vida, tornando-a estéril, vazia, sem propósito, sem amor. Estar só pode não ser uma opção, mas estar solitária, aí sim.

Sinopse:
Um jornalista relembra uma travessia do deserto do Saara feita com uma garota quinze anos mais jovem. Durante quarenta dias, o narrador e Cláudia atravessaram as paisagens áridas do continente africano e viveram uma experiência marcante, que vai se projetar por muito tempo na vida de ambos. A viagem aconteceu em 1987 e o narrador se põe a contar a história vinte anos depois.

Ele é racional e impetuoso. Ela, impulsiva e imatura, mas também espontânea e encantadora. Eles partem de Lisboa num jipe abastecido de comida enlatada, alguma bebida alcoólica, uma bússola e um mapa militar dos anos 1950. Os demais integrantes da excursão (mais uma dezena de jipes) vão pelo Marrocos, mas o casal entra no continente africano pela Argélia, pois dependem de uma licença de filmagem expedida em Argel. O jornalista capta imagens que usará em reportagens para revistas e uma televisão portuguesas.
A princípio marcada pela distância, a relação entre os dois aventureiros se intensifica ao longo da viagem na luta contra o tempo, no enfrentamento da burocracia e da corrupção argelina, na confusão das cidades africanas e no dia a dia de acampamento e improvisos. A intimidade avança para um sentimento amoroso, que nasce da cumplicidade naquela situação adversa: solidão, viagem, silêncio, paisagens inóspitas.

Vinte anos depois o narrador descobre casualmente que a moça morreu e decide contar a história desse amor para, de alguma forma, reter a felicidade desse encontro na memória. O romance é um acerto de contas emocionado desse jornalista-narrador para com a memória de Cláudia, de quem ele guarda poucas fotografias, mas numerosas e intensas lembranças.


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