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terça-feira, setembro 17, 2013

Piruá

Tenho pra mim que a Martha Medeiros é uma sábia mulher, assim como a Lya Luft. Elas conseguem filosofar sobre coisas simples e cotidianas. Esses dias, li um trecho de um livro dela (tenho vários) que dizia...


"Pesquisando sobre o tema, descobri que o milho que não estoura se chama piruá. Sabe aquele milho que sobra na panela e se recusa a virar um floquinho branco, macio e alegre? Piruá. E aí tenho que concordar com o escritor Rubem Alves, que já escreveu sobre o assunto: tem muita gente piruá neste planeta. Gente que não reage ao calor, que não desabrocha. Fica ali, duro, triste e inútil pro resto da vida. Não cumpre sua sina de revelar-se, de transformar-se em algo melhor. Não vira pipoca, mantém-se piruá. E um piruá emburrado, que reclama que nada lhe acontece de bom. Pois é. Perdeu a chance de entregar-se ao fogo, tentou se preservar, danou-se."


Pois é, depois de velha, esse se tornou meu maior medo. Não estourar, virar piruá. Quero muito do mundo, da vida, quero realizações, como se eu tivesse que realizar algo todos os dias para ser feliz! Por isso, anoto tudo que eu faço, como num diário. E como se eu pudesse quantificar e qualificar minhas realizações, vou levando a vida. Certa ou errada, esse é meu jeitim de viver...



Só sei que essa gana de viver e de realizar me impulsiona a viver e a caminhar, mesmo naqueles dias piores, onde a gente não tem força nem para levantar da cama. E assim a gente vai vivendo, fazendo bonito...

A única coisa que falta é o RISCO. Tenho que me conscientizar que viver é correr riscos, e botar mais adrenalina na história... mas, isso é assunto pra outro post.

domingo, janeiro 23, 2011

Mais da Martha

A DOR QUE DÓI MAIS
Martha Medeiros

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

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Cara, ela disse tudo com esse texto.