sexta-feira, agosto 22, 2008

Gratas surpresas

Ela chegou no aeroporto carregando duas malas pesadas, fruto de uma terrível indecisão sobre o que vestir durante o curso que iria fazer no interior de São Paulo, e se deu conta de que havia esquecido o livro que estava lendo em casa.

Sabia que, no hotel onde ficaria quatro dias, o sistema se assemelhava a um SPA, e isso incluía não ter acesso a jornal, internet, rádio e televisão. Pensou imediatamente que ia pirar sem um livro.

Entrou na sala de embarque, porque já estava quase na hora, e tratou de se enfiar na Laselva e descobrir alguma coisa que prestasse. Pediu ajuda ao vendedor. Ele indicou um livro do Mário Prata e fez questão de frisar que tudo que o Mário Prata escrevia era bom, dizendo ter certeza de que ela ia gostar muito. Ela afirmou que podia imaginar que sim, e que como autor de teatro renomado que era, o Mário certamente devia ser um grande escritor. Ele se deu conta então que não sabia que o Mário era autor de teatro... mas, como?, está em todas as contra-capas de seus livros!

Já ia pagar pelo livro, quando esbarrou em um que chamava "O conto do amor", título nada interessante, aliás. O autor, ao contrário, chamou sua atenção: Contardo Calligaris. Ela trabalha com um senhor que tem o mesmo sobrenome e que é uma pessoa a quem ela admira muito. Leu a sinopse do livro e gostou. Resolveu substituir a indicação, guardá-la para uma outra ocasião, e levar o livro do Calligaris. O do Mário era bem mais grosso e mais pesado, e ela não teria espaço na mala para carregá-lo. O outro, mais fino, pareceu atender aos seus propósitos.

Surpreendeu-se com o início do livro, um thriller sobre um filho que sai a investigar a vida de seu pai depois da sua morte...Não desgrudou mais dele... a leitura foi fluindo levemente e ela o foi devorando com gana de saber o seu final.
O mais interessante do livro é que ele versa sobre a história da arte, principalmente sobre os pintores italianos e as pessoas que analisam suas obras. Sempre admirou quem tem essa capacidade de analisar uma obra de arte e perceber que uma figura está deslocada do contexto, que a outra não está vestida de forma adequada para a época, que os personagens secundários estão vestidos de preto-e-branco porque, no passado, estas eram as tintas mais baratas... enfim, aqueles que conheciam a história do que havia por trás da intenção do pintor.
Realmente, ele foi excelente companheiro. Foi com ela para todos os cantos, em todos os momentos livres e a ajudou a passar o tempo... ela terminou a leitura do livro ao retornar para casa, com pressa e satisfação por ter tido essa sorte na escolha. Curtiu o final e pensou: minha irmã vai gostar de ler isso!

Um comentário:

Letícia disse...

Então manda! Antes que eu comece a ler a biografia imensa do Mago! ;)