domingo, outubro 26, 2008

Viver não é preciso...

Hoje, me lembrei de novo do Pessoa...

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,

transformada a forma para casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;

ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue

o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.


Tenho andado medrosa. Da rocha segura que eu aparento, por dentro tenho muito pouco. Às vezes, me dá vontade de chorar, mas os tempos imprecisos andam me deixando seca.

Primeiro foi a mamãe, e eu me vi leoa, enfurecida, querendo resolver as coisas no grito naquele hospital. Mas isso eu já sei que não funciona.

Depois, foi a mana que baixou o hospital, e me fez ver que as pessoas estão pouco se lixando para o seu problema. E elas quase me tiraram do sério.

O corpo andou pedindo arrego, pois a pressão no trabalho anda grande, e a porcaria da blefarite cismou em reaparecer.

E, quando eu pensei que o meu outubro negro já havia passado, o tio do meu marido teve um infarto. E ele agora está na UTI de um hospital, bem, mas em observação, vai fazer a segunda angioplastia na segunda-feira.

Quero a força dos marinheiros que tinham a consciência da imprecisão da vida. Quero não ter tanto medo. Quero que esta força me sustente.

De onde ela vem? Ainda não sei. Quero para mim o mesmo que o Pessoa, o espírito daquela frase. Se os marinheiros se recusavam a viajar durante a guerra e precisavam da frase para seguir adiante, também preciso eu de um mantra que me embale, e que me leve longe.

Quero para os meus a calma, a serenidade e a certeza de que a vida há de ser melhor.

3 comentários:

Letícia disse...

A vida é boa!!! Já viramos a página!
Esqueçamos as coisas ruins!!!! :D
"tudo, tudo, tudo vai dar pé!"
Beijos.

Letícia disse...

Novidade boa?
Qualquer uma.
Não precisamos delas?

Clarisse Bronté disse...

Como dizia Guimarães Rosa "viver é perigoso".
Perigoso de mais...