sábado, novembro 21, 2009

Sobre aquilo em que não acreditamos

Antes de começar, eu preciso dizer que acredito em muitas coisas. Uma das coisas em que acredito é que não existem coincidências. As pessoas entram e ficam na sua vida não por acaso. Há sempre algo a aprender.

Eu estava em casa ontem quando recebi uma ligação no celular do número 00000000. Achei que era essa gente que não tem mais o que fazer e que liga no feriado para tentar vender alguma coisa. Ainda mais na hora do almoço: bem típico. Eles não almoçam, não namoram, não vão a praia. Ficam o tempo todo lá do outro lado do telefone dizendo: vou estar transferindo, vou estar atendendo, vou estar oferecendo etc. Enfim, silenciei o celular e deixei ele tocar. Daí, recebi uma mensagem da operadora dizendo que havia uma mensagem pra mim daquele número. Como assim? Ligam pra nossa casa e ainda têm a coragem de deixar uma mensagem?

Como mulher é um bicho curioso por natureza, resolvi ligar pra caixa postal para saber o motivo da mensagem. Era o meu chefe. Esqueci completamente que quando ele está fora do país, o número que aparece no visor não é o dele. E que onde ele está, não é feriado, então nada mais natural que ele ligar pra mim.

Tentei falar com ele e ele disse: Espera aí que eu ligo pra você! É que ele estava na rua, estava frio, pois era de manhãzinha, e ele precisava entrar no carro e ligar o aquecimento, caso contrário, ia congelar. Então, quando ele ligou, me explicou que sonhou comigo, e fêz questão de observar que quase não sonha, e quando sonha não lembra dos sonhos. E no sonho, que na verdade, era um pesadelo, eu abria a porta do elevador, e sem me dar conta que não havia elevador, caía no poço. Ele só me ouvia gritando por socorro e não podia fazer nada. E daí ele acordou no meio da noite e não dormiu mais.

E disse: Não é nada, não se preocupe. Mas tome cuidado ao entrar em elevadores, ok?

Eu dei risada, que coisa mais estapafúrdia! Eu e os elevadores, sempre eles. Lá no trabalho, alguém tinha comentado que nossos elevadores são bons, são amplos, ventilados, até até pra ficar preso neles sem problema. Eu, como já fiquei, não achei nenhuma graça do comentário. Mas, vamos ao sonho do meu chefe.

Ele esteve fora esta semana, e ficou me mandando notícias pelo Blackberry. Todo mundo ainda perguntou: por que ele só manda notícias para você????? Acho que é porque o meu e-mail é mais fácil de memorizar! Contou do evento, dos jantares, dos contatos, dos livros, perguntou se alguém queria algo relacionado ao "Crepúsculo" e a "Lua Nova", que lá estava cheio de stuff sobre isso, como ele mesmo escreveu.

Mas no meio das mensagens, ele escreveu algo tocante, em função dos acontecimentos da semana: "Take it easy! Keep cool!"

Ele sabia que o bicho estava pegando. Sabia que, sem a presença dele aqui, tinha gente que tinha resolvido botar as manguinhas de fora, e sabia o quanto eu ficava braba com isso. Acho que o meu chefe tem medo das minhas explosões, porque quando elas acontecem, os resultados são incontroláveis. Antes mesmo dele pedir, eu já havia me conscientizado que tinha que dar uma volta, respirar fundo, e, ao responder qualquer mensagem, precisava ficar calma, tranquila. Como diz uma amiga: respirar paz.

Mas, o ambiente corporativo é uma derrota, uma droga, todo mundo quer comer o fígado do outro. Quando você chega num estágio em que não precisa provar mais nada pra ninguém, aí é que os pobres coitados resolvem que tem que mostrar que são melhores do que você, pra mostrar que têm alguma competência. Precisa disso, não! É só se concentrar em fazer bem o seu trabalho e evitar problemas de comunicação, ruídos, e que tais.

Ao invés de trabalharmos juntos para melhorarmos nosso desempenho, estamos sempre atrás de sermos os melhores, e a tal competição nunca tem fim.


Anteontem, eu desabei. Foi uma semana muito complicada para mim. Quanto mais sapo eu engulo, pior eu fico. Quanto mais eu tenho que lidar com estas pessoas, mais eu sofro. Fico me perguntando às vezes se não teria sido melhor continuar na Universidade, estudando, publicando os meus artigos, dando as minhas aulas.

E o meu chefe, que não acredita em nada, acabou me dizendo, nas entrelinhas, que se preocupa, que sabe que não foi fácil, mas que é só tomar cuidado, que essas coisas são todas contornáveis! Valeu, chefe!

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