segunda-feira, janeiro 12, 2009

O homem do botão - Quintana

Quando esta velha nave espacial do mundo for um
dia a pique
Não haverá iceberg nenhum que o explique... Apenas
Um de nós, em desespero
- como quem se livra de uma terrível dor de cabeça
com uma bala rápida no ouvido -
Vai apertar primeiro o botão:
Clic!
Tão simples... E os mais espertos venderão,
A preços populares, arquibancadas na Lua
Ou caríssimos camarotes de luxo
Para que possam todos assistir à nossa ÚLTIMA
FUNÇÃO.
O perigo
É que a arquibancada desabe
Ou que a própria Lua venha a cair no caldeirão fervente.
Enquanto isso, Deus, que afinal é clemente,
Põe-se a cogitar na criação, em outro mundo,
De uma nova humanidade
- sem livre-arbítrio -
Principalmente sem livre-arbítrio...
Mas com esse puro instinto animal
Que o homem do botão atribuía apenas às espécies
inferiores.

Mario Quintana. In: Quintana de Bolso - Rua dos Cataventos & Outros Poemas. Porto Alegre, L&PM, 1997.

2 comentários:

Simone Couto disse...

Quintana é um baú de Espantos!

Clarisse Bronté disse...

´"Eles passarão, eu passarinho..."
Mario Quintana

Bj.