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quarta-feira, julho 22, 2009

Viver e morrer

"A morte já está acontecendo. Quer você a encare ou não, quer você olhe pra ela ou não, ela já está presente.

É exatamente como a respiração. Quando uma criança nasce, ela inala, ela inspira pela primeira vez. É o começo da vida. E quando um dia ela ficar velha e morrer, ela exalará.


A morte sempre acontece com a exalação e o nascimento com a inalação. Mas a exalação e a inalação estão acontecendo continuamente. Em cada inalação você nasce; em cada exalação, você morre.


Assim a primeira coisa a ser compreendida é que a morte não está em algum lugar do futuro, esperando por você, como ela sempre foi pintada. Ela é parte da vida, ela é um processo contínuo - não no futuro, mas aqui, agora.


Vida e morte são dois aspectos da existência, simultaneamente acontecendo juntos".


OSHO - Vida, amor e riso. Editora Gente. Pp. 71.

Esta semana, Ana Lúcia, uma colega de trabalho incrível, fêz a passagem. Foi seguir o seu caminho longe de nós. Ana foi acometida por uma doença que a tirou do nosso convívio cedo demais. Sentimos sua falta desde que ela teve que se aposentar e, agora, que ela virou mais uma estrela no céu, sentiremos mais ainda. Lembro sempre de seu senso de humor e das palavras carinhosas com as quais sempre se dirigia a mim.

"A vida é cheia de som e de fúria... e eu não entendo nada!" Mas, eu me esforço pacas.

sexta-feira, junho 26, 2009

O fim

O fim da gente é a morte. Se existe ou não outra encarnação, e se a gente passa um tempo vagando por aqui antes de partir de vez, estas respostas só temos quando partimos. O que deixamos é a nossa história, o que fomos e o que fizemos por aqueles que amamos.

A morte tinha chegado de repente com a queda do avião da Air France, no qual perdi uma aluna querida. Ontem, veio através do jornal, com as notícias das mortes do Michael e da Farrah. Ela estava lutando muito pela vida, fêz o que pôde. Ele, parecia que havia se entregado, que tinha deixado o fim chegar, que estava dando seus últimos suspiros.

Sempre achei a Farrah linda, e quando criança, só não dizia que queria ser a Pantera loura - porque bricávamos de Panteras na escola - por causa dos meus cabelos castanhos. Mas, eu a admirava tanto, com aquele jeito firme, e aqueles lindos cabelos em camadas. Uma barbie, magrinha, bem feitinha. Ela envelheceu como deu, com integridade.

O Michael se perdeu, se esbranquiçou, enlouqueceu, deu pena. Trocou as músicas dançantes pelas baladas tristes. Teve uma "Neverland" e se afundou em dívidas. Pra ele, não daria mesmo pra envelhecer.

O que me surpreendeu com estas duas mortes recentes foi que uma quase passou desapercebida, ofuscada pela segunda. E essa última virou festa, as pessoas cantando nas ruas as músicas do álbum de maior sucesso, Thriller, que eu ouvi-até-furar e que embalou a minha adolescência, sem medo, sem terror, apenas como se eu fosse um daqueles zumbis, que se divertia a valer com aquela dança.

As pessoas estavam lá, comemorando o Michael, que minha queria Clarisse disse ser 'o cara', enquanto ele deve estar por aí, vendo o quanto suas inseguranças eram infundadas, pois as pessoas gostavam mesmo de você, Michael, e isso era de verdade, senão não tinha tanta gente na rua querendo te homenagear.

E Farrah, querida, pra você eu deixo o meu descanse-em-paz, você que foi uma guerreira e que lutou contra a pior doença deste mundo.

Pra vocês, deixo a música que me é mais querida, do Michael, a eterna abertura do Video Show...



Aproveitem e dancem com ele!

sexta-feira, outubro 17, 2008

Deu no jornal de hoje

Ela abriu o jornal como faz todas as manhãs antes de ir para o trabalho e foi logo olhar o obituário. Seus amigos dizem que isso é coisa dos mais velhos, que procuram por amigos mortos. Ela não concorda. Foi olhando o obituário que descobriu a morte do seu hematologista. E depois, do seu gastroenterologista. Foram antes de mim, graças à Deus, ela pensou.

Agora, que seu jornal preferido tinha dado espaço para os eventos terríveis de sua cidade, mortes, assassinatos, chacinas, atropelamentos e execuções estavam na ordem do dia. Ela passava os olhos por eles, mas tentava não se deter, pois não era lá um jeito muito gostoso de começar o dia.

Só que especialmente hoje, uma notícia lhe chamou a atenção:

Amante traído mata o novo amante a tiros
Mulher casada tinha caso com assassino há 2 anos, mas
há 3 meses, havia arranjado outro
Num bairro de São João de Meriti, o Bigorrilho, 45 anos, foi preso por ter matado
o novo amante, de 49 anos, da sua amante, de 39. Os três mantinham um
triângulo amoroso, apesar de serem casados.
(Mas, então não era um pentágono? Ou um hexágono?, não ficou claro!)
Segundo Bigorrilho, sua amante estava conversando com o outro amante e
caminhando em direção a um motel, na Estrada São João Caxias. Segundo a mulher,
Bigorrilho perguntou quem era o homem ao seu lado e, como não obteve
resposta, descarregou o revólver calibre 38 no cara.
(Como assim um assassino chamado Bigorrilho? Catar os amantes na estrada?)
De acordo com o delegado da 64 DP, Bigorrilho cometeu homicídio qualificado
por motivo fútil e pode receber de 12 a 30 anos de prisão.
(Vai sair da cana com, pelo menos, 51 anos! Quanto tempo perdido por nada!
E o marido da Dona, é corno duas vezes?)

Seria cômico se não fosse trágico! Ela não teve como não lembrar da música do Bigorrilho:

Lá em casa tinha um bigorrilho
Bigorrilho fazia mingau
Bigorrilho foi quem me ensinou
A tirar o cavaco do pau
Trepa Antônio
O siri tá no pau
Eu também sei tirar o cavaco do pau
Dona Dadá, Dona Didí
Seu marido entrou aí
Ele tem que sair, ele tem que sair.
E procurando pelo significado desta palavra, descobriu que Bigorrilho é um indivíduo reles, desprezível. Fechou o jornal, e foi trabalhar.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Fifteen

O Fifteen é um dos restaurantes do Jammie Oliver. Ser Jammie Oliver não é para qualquer um. O cara trabalha à beça, tem um monte de restaurantes, um website, um programa de tv, várias fundações etc, etc.


Meu amigo esteve lá e adorou, voltou cheio de fotos. Disse que o restaurante do cara é o máximo, que a comida é saborosíssima e que o astral é o maior barato. O rango foi salada caprese e risoto. Tudo de primeiríssima, assim, bem superlativo mesmo.

A foto que eu mais gostei foi a das placas indicativas dos toilettes. Muito fofas, não? Adorei a criatividade. Agora, por que será que eles estão apertados, heim?





Meu amigo não viu o Oliver, ele estava cuidando das suas empresas. Mas, adorou a experiência.

Sábado, vendo o programa do Oliver em sua investida pela Itália, vi uma cena que não sai da minha cabeça.

A cena do Oliver matando uma ovelinha, para cozinhá-la para o jantar de uma família local. Tudo muito natural, como ele mesmo disse. Me disseram que a ovelinha não grita quando vai morrer. Mas, ela chora.

sábado, agosto 30, 2008

A cara da morte

"A cara da morte" é o título de uma coluna do jornal O Globo. Traz a relação das pessoas que morreram na cidade, quem elas eram, o que elas fizeram e o que fizeram com elas.

7:30. Hoje. Pegamos o jornal em busca de uma notícia que explique o que aconteceu ontem. Encontramos. O nome da vítima é Jami-Noá. Levou dois tiros. Foi operado e está estável.

18:20. Ontem. Estou no banheiro, pintando o cabelo. Escuto seis disparos. É tiro! Corro para a janela. Os vizinhos também estão na janela. Na rua, um carro preto e muitas pessoas em volta. Alguém foi baleado.

18:23. Ligo para o 190. Peço uma patrulinha, com urgência.

18:30. Chega a ambulância do SAMU (192). Alguém chamou, graças à Deus. As pessoas gritam, pedindo pressa. Ele está vivo, penso. Retiram o homem do carro. Sai de ré a caminho de algum hospital. Me dá vontade de chorar pelo que estam fazendo com a minha cidade.

18:35. Chega o carro da polícia. Perguntam, perguntam, investigam. Atentado? Tentativa de assalto?

19:00. Chega a imprensa. Muitos flashes. Fotos para os jornais e internet.

20:00. Olho pela janela e o carro não está mais lá. Tudo volta a uma aparente normalidade.

7:35. Hoje. Leio no jornal que a vítima tinha acabado de pegar o filho de sete anos na escola e que ele estava no carro. Fico apreensiva com o que vai ser da cabeça desse menino. Sinto o medo que ele sentiu percorrer o meu corpo.

Mais tarde, lembro de Cazuza: "eu vi a cara da morte, ela estava viva..."

sexta-feira, novembro 23, 2007

Tsunami

As coisas estavam mudadas. Era como se a Terra tivesse levado dois anos para dar a volta ao redor do Sol. O tempo estava meio congelado, lento, devagar.

Durante esse período, ela sofrera com as mudanças inconstantes das marés, alterando sua regulação hormonal. Esteve duas vezes muito próxima do outro lado: como o bêbado que entrega a sua vida ao desequilíbrio no parapeito do terraço no alto do edifício, ela entregara a sua ao mesmo anestesista, fornecendo-lhe uma aura mística que ele não pedira, mas insistindo em debater-se como alguém que é quase um "herói da resistência".

Se em momentos de maré alta, ela fortaleceu-se, revelando-se uma mulher guerreira e corajosa, nos de maré baixa, ela surpreendeu-se e quase entregou os pontos. Entretanto, agora ela sabia que a grande onda estava de volta, feito tsunami, a devastar com a sua energia o que encontrasse pela frente.

Parte de um oceano sem memória, mas imponente e inebriante, a onda dificilmente a reconheceria. Não se lembraria que havia passado por ela há dois anos e levado tudo que ela possuía, deixando-a viva para assistir à reconstrução do mundo. Ela se perguntava se seria poupada, se a ela seria concedido o direito de sobreviver à onda, a chance de ver o desastre e ser imune a ele novamente. Se, ao menos, sofreria menos ao ver a morte alheia.

Ela sabia que o medo paralisa, mas, como dizia Vinicius, era preferível viver que ser feliz. O ritual era sempre o mesmo, havia um toque de sedução no ar, um cortejo, como que se fosse a preparação para aquela iniciação. A onda era tão forte, tão poderosa, ao mesmo tempo devastava, mas deixava saudade. Ela sentia arder dentro de si a energia. Como se pedisse a sua volta.

O dia da grande onda estava quase chegando. Só ela, como uma das pouco sobreviventes, havia recebido os sinais, havia sentido sua presença. De repente, a lua cheia se firmou no céu, deixando a todos mais sensíveis e abertos às mudanças, criando um clima de quase devoção àquela luz. No horizonte, só se podia ver a retração do mar.

Ela parou em frente à praia e abriu os braços. A brisa da noite enluarada envolveu-lhe o corpo. Pisou a areia úmida e esperou.

E, em segundos, em pleno janeiro de Capricórnio, sem medo, sem dor, sem razão, ela que sempre sonhou com o mar, olhando para aquele paredão de água salgada, entendeu o mistério da vida...