domingo, julho 31, 2011

Comprinhas mineiras

(*)

Não basta ir à Tiradentes. Tem que se controlar. Sim, porque lá é tudo-de-bom, a gente compra sem parar, se quiser.

De móveis, a objetos de decoração e paninhos para casa, bijoux de prata incríveis, cachaças, doces em compotas, em barras, enfim... uma perdição. Tem que segurar o cartão de crédito, moçada, senão volta falido.

Antes de sair do Rio, já tinha ouvido minha mãe falar que eu devia dar uma passada no Empório Neusa Barbosa. Eu bem que procurei, mas só encontrei bem na volta, quando já estava deixando a cidade (é que ficamos hospedados no lado oposto). Do carro, me pareceu uma loja bem completa, que vende de móveis a objetos de decoração. Não deu, mas quem sabe não fica pra próxima?

Adorei os móveis da loja Âncora Móveis, na Praça da Rodoviária. Tem umas réplicas de móveis da Indonésia que são uma graça, com o preço super em conta. Eles entregam no Rio de Janeiro. Em termos de qualidade, foram os móveis mais bem acabados que eu vi. Além disso, eles trabalham com decoração também.

Ao lado dessa loja, há uma cafeteria que expõe e vende os objetos do Empório Maria Monteiro, com destaque especial para quadros feitos com ferro fundido e as bonecas de janela.

No Largo do Chafariz, há a lojinha do Romer Resende, que trabalha principalmente com imagens de santos em barro (lindíssimas, por sinal) e réplicas em miniatura do casario da cidade (não há como trazer um pra casa). Fica no Largo do Chafariz, 36, telefone (32) 9906-3332.

Incrível também é a loja do designer Gregory Somers, que trabalha com louças super requintadas. Eu amei. O mais interessante é o sistema deles. Você compra uma peça, se algo acontecer a ela, eles fazem o reparo. É quase um serviço. Está certo, as coisas são mais caras, mas vale.

Na loja "Regina Lúcia Teve Infância", você vai encontrar roupas e acessórios artesanais, bem femininos, com adereços bastante inusitados e românticos. Você pode conferir o trabalho dela em crochê e fuxicos aqui.

No atelier da Graziela Guimarães, você encontra tudo em patchwork para enfeitar a sua casa. Peças incríveis, de extremo bom gosto.

No caminho para Bichinho, próximo à entrada que leva ao restaurante Pau de Angu, há uma loja que trabalha prioritariamente com découpage, com peças incríveis, de cachepôs a caequinhas e regadores de plantas.

E há também a loja do Francisquinho, que vende luminárias marroquinas pelo terço do preço das que são vendidas no Rio de Janeiro. Aquelas de jardim, que levam uma vela dentro e deixam tudo lindo...

O que assusta quando você chega em Tiradentes, é que tudo é mais barato do que no Rio de Janeiro, e sabemos que algumas lojas daqui revendem o que compram lá. No hall do hotel, eu já me encantei com a decoração e fui logo perguntando ao recepcionista de que loja eram aqueles móveis. Para minha surpresa, não eram de Tiradentes, eram de Santa Cruz de Minas, uma cidadezinha que fica entre Tiradentes e São João Del Rei, no caminho da Estrada Real. Santa Cruz de Minas vende tudo a metade do preço de Tiradentes, e por conseguinte, a 1/4 do preço daqui... Uma loucura. Considerando-se que o frete costuma ser R$80,00 para peças até R$1000,00 e 10% do valor da peça para móveis mais caros, acho que está valendo.

De Sta. Cruz, destacamos a Forjart, loja que também vende peças em ferro forjado, a Artesanato Móveis Rústicos São José (que tem umas peças incríveis a uns preços ótimos) e a SEC Móveis (cujo forte também são os móveis). Chegando no Rio, já dei uma pesquisada em sites de lá e vi que ainda tenho muito mais para conhecer. Faz uma busca usando a query "Santa Cruz de Minas" AND "móveis de demolição", para que você veja quanta coisa aparece....

E mais não conto, porque só tivemos três dias e meio para andar por ali. Mas, quando eu voltar... ah, vou conhecer T-U-D-O!!!!

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(*) A foto que ilustra este post é da revista Casa e Jardim, online. É de um especial sobre salas montadas com móveis de Minas Gerais, feitos de madeira de demolição. Como os que eu vi nas lojas que visitei. Bom, eu amei o armário do canto, com aquela pintura de pássaros. É meu obscuro objeto do desejo atual. Quem sabe um dia eu não compro um?

Restaurantes em Tiradentes

Em Tiradentes, uma das coisas mais legais de se fazer é conhecer os restaurantes e provar da deliciosa comida mineira. Antes de viajar, pedi aos amigos no Facebook que me ajudassem com um roteiro, já que eu não conhecia a cidade.

Todos eles foram unânimes em dizer que eu tinha que ir ao Tragaluz, restaurante premiado, na Rua Direita, que é muito concorrido porque é a melhor comida da cidade.

Chegando em Tirandentes, eu pedi logo ao rapaz da recepção da pousada que ligasse pra lá e fizesse uma reserva, porque era um programa imperdível. Passadas umas duas horas, ele então voltou com a notícia de que não haviam mais lugares para o Tragaluz naquele fim de semana. E olha que nós ainda estávamos na 5a. feira.

Eu perdi uns bons 30 minutos me amaldiçoando por eu não ter feito a reserva do Rio de Janeiro mesmo, mas tudo bem, nem tudo estava perdido.

No sábado, depois de assistirmos a um Concerto de Órgão e Coral na Matriz de Santo Antônio, pedi ao maridão que fôssemos até lá, só para checar. Já eram mais de nove horas, e o restaurante não costumava fazer reservas para depois desse horário.

Não é que conseguimos? E foi rápido!

Vale a dica: é maravilhoso mesmo! Olha algumas fotos...


Tudo é inspirador. Por exemplo, o texto que ilustra o jogo americano que forra a mesa é da Zenilca, avó das donas do restaurante, e conta um pouco desse nome - Tragaluz...

"Primeiro eu vi a bica. Depois eu vi que ela formava pequeno poço forrado de pedras. E a água era pura, transparente. Então - neste poço enfiei os pés. Água muito fria. E logo após, na água que caía enfiei as mãos, e com elas em concha deixei que delas a água transbordasse. Foi então que lavei meus olhos, e em seguida minha boca, fazendo renascer em mim paisagens esquecidas, palavras já não ditas, projetos guardados em lugares desconhecidos. Foi nesta pia que gravei no musgo a data deste batismo, e me vi com delicioso encantamento elaborar desenhos. Desenhos de sonhos; guardando entre os dedos pequenino ramo de delicadas flores, que guardada entre os papéis secaram com o tempo, permanecendo o pedido que fiz à natureza: - Que o novo Ano me TRAGA LUZ!"

Zenilca de Navarro

Quer conhecer mais antes de ir? É só clicar aqui.

Também fomos ao Viradas do Largo (restaurante da Beth), mas acho que não fomos lá muito felizes na escolha do nosso prato, que ganhou uma nota 7,0. Fomos ao Atrás da Matriz, fantástico, do mesmo nível do Tragaluz, cuja especialidade é bacalhau, que estava DEZ! Fomos ao Cantina Perrella, sofrível, apesar de cheio, e que não recomendamos (ô servicinho)...

Em Bichinho, fomos ao Tempêro da Ângela, em detrimento do Ora pro Nobis. Comida barata (R$16,00 e você come tudo o que puder), mas de fato, é uma bagunça que não me agrada. Eu prefiro outro estilo. Talvez o segundo fosse mais a minha cara.

Mas, a vida é isso, experimentos, experimentos, experimentos... que seríamos de nós sem eles?

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PS1: Na estrada para Bichinho, nos indicaram o restaurante Pau de Angu, que só funciona para o almoço (das 11:30 às 17:30hs). Estava cheíssimo, por isso, desistimos. Quem quiser conferir, o caminho é Estrada para Bichinho, km 4, telefone (32) 9948-1692.

PS2: Também nos recomendaram o Santíssima Gula, que é bacana. Mas, recebemos uma dica erradíssima de que estaria fechado. Não estava. Para saber mais, é só clicar aqui.

Trilha sonora da viagem

Antes de sair de casa rumo à Tiradentes, passei a mão em dois packs com CDs que eu havia gravado há muito tempo (já que eu temo ficar sem os meus originais, no carro só deixo as cópias)...

No caminho, ouvimos de tudo. Muita Amy Whinehouse, que precocemente nos deixou no sábado, e eu soube da notícia entre um cochilo e outro no meio da tarde. Confesso que mal pude acreditar.

Mas, voltando à nossa playlist, o que nos colocou no clima mineiro foi o fantástico CD "Boca Livre Convida, 20 Anos", que já tem uns 13 anos, mas que é simplesmente maravilhoso... Você conhece? Não? Bom, dá uma olhada nas faixas e nos convidados...


1. Bicicleta (c/ Claudio Nucci - David Tygel)
2. Toada (c/ Milton Nascimento)
3. Feito Misterio (c/ Chico Buarque)
4. Misterios (c/ Djavan)
5. Folia (c/ Beto Guedes)
6. Diana (c/ Paulinho Moska)
7. Gotham City (c/ Zé Ramalho)
8. Ponta de Areia (c/ Gal Costa)
9. Nenem (c/ Erasmo Carlos)
10. Ultimo Sinal
11. Quem Tem a Viola (c/ Frejat)

É tão, mas tão maravilhoso, que a gente vai cantando junto! É uma pena que não haja na Internet, vídeos desses encontros. É uma pena que não tenha virado DVD, eu teria comprado.

Segue aí uma sugestão de presente!


Quero o tempo que o tempo tem numa cidade do interior...

Tiradentes...

Igreja Matriz de Santo Antônio


À tardinha, numa rua bucólica de Tiradentes...


Criativa a dona dessa loja


Praça do Chafariz


À direita, a Rua Direita, onde está o restaurante Tragaluz, visita mais do que necessária...


João de Barro fazendo a sua casinha...


Charretes com motivo Hello Kit, é o progresso chegando às ruas de pedras...


Um adorável cãozinho, descansando ao sol...

<< o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem
o tempo repondeu ao tempo
que o tempo tem exatamente o tempo
que o tempo tem... >>

Conteúdo

Não é que eu não tivesse nada a dizer durante todos esses dias. É que eu estava mais para ouvir do que para contar. Li muito, ouvi músicas, fiz algumas descobertas, testei receitas, cuidei das plantas, aumentei minha horta, reencontrei amigos... enfim, aproveitei as férias...

Já, já, estou postando novamente... aguardem!

terça-feira, julho 19, 2011

Grande verdade

"O pior dos problemas da gente é que
ninguém tem nada com isso".

Mário Quintana
Para viver com poesia

segunda-feira, julho 18, 2011

Altas Horas

Eu não durmo mesmo. Dia desses, vendo o programa Altas Horas do Serginho Grossman, me deparei com uma festa de comemoração pelos 10 anos do programa com a presença da galera festeira dos anos 80. Era dia 26 de junho de 2011.

Estavam lá o Barão Vermelho, o George Israel, a Blitz com a Fernanda Abreu, os Titãs, o Rogério Flausino (entrando de bicão para cantar "Que país é esse?", da Legião), Negra Li, enfim, havia uma galera boa demais no programa para que se fosse dormir...

Você perdeu? Vê um pouquinho aqui...











Você sabe há quando tempo a Fernandinha não cantava com a Blitz? Muito, mas muito tempo... eu ainda era garota!



Você quer ver mais? Vê aqui ó...

Só pra registrar... eu ainda me lembrava da letra de TODAS as músicas... cantei junto... por que é que isso acontece mesmo? Pesquisas dizem que o quê nos marcou aos 14 anos define nosso gosto musical pro resto da vida. Que bom que eu fui bem servida!!!

domingo, julho 17, 2011

Sonhos

Assisti novamente no DVD hoje o filme "A Origem", que havia assistido no cinema no início desse ano. Novamente, fiquei impactada pela trilha sonora perfeita, pelos efeitos visuais, pela dramaticidade do roteiro, pela tensão... Mas, o que me comove mesmo neste filme é a história de haver uma possibilidade de você não se dar conta, num dado momento, do que é realidade e o que é sonho (ficção) na vida...

Ou seja, de tanto fantasiar, você pode ser tragado por uma vida de ilusões, que não necessariamente é a vida real, dura, crua, nua, boa, rica, do dia-a-dia.

Meu amigo argentino já tinha me dito que esse filme é baseado na obra de Jorge Luis Borges, e o diretor cita o Escher, quando fala da cena da escada de Penrose, que retrata aquela escada do Escher que não tem começo nem fim.

"O propósito que o guiava não era impossível, ainda que sobrenatural. Queria sonhar um homem: queria sonhá-lo com integridade minuciosa e impô-lo à realidade. Esse projeto mágico havia esgotado completamente o espaço de sua alma; se alguém tivesse lhe perguntado seu próprio nome ou qualquer traço de sua vida anterior, não teria dado com a resposta. (...) No início, os sonhos eram caóticos; pouco depois, foram de natureza dialética. O forasteiro sonhava consigo mesmo no centro de um anfiteatro circular que era de algum modo o templo incendiado: nuvens de alunos taciturnos exauriam a arquibancada..."
Jorge Luis Borges, "As ruínas circulares", In: Ficções, 1944.



Isso acontece com todo mundo, repetições constantes. Eu me lembro de já ter passado por isso. Um sonho que se repete constantemente. Eu, na arrebentação, furando ondas e mais ondas, grandes, estou sozinha, o mar vai me puxando com força, me levando pra longe, estou sem ter para quem, nem como pedir ajuda. Por minha conta. Sempre associei este sonho à alguma mensagem do meu subconsciente, me dizendo que sou capaz de vencer qualquer desafio, seja ele de que tamanho. Mas, sempre acordo cansada quando tenho um sonho desses. Cansada, mas pronta pra luta.



Já tive a sensação de estar sonhando dentro de um sonho. Isso é muito louco. As cenas não fazem sentido, não se concatenam, parece que o tempo é muito maior quando estou dormindo do que acordada. Acho que é isso que nos liga ao filme. A gente percebe que mais do que um estudo sobre sonhos, o roteirista Christopher Nolan colocou ali, nos dez anos de pesquisa que fez para construir o roteiro, todo o tipo de percepção que tinha em relação aos seus sonhos.



Eu já me peguei dizendo pra mim mesma: "Acorda, idiota, isso é um sonho!"... ou num estado de semi-consciência, trabalhando loucamente, mas ainda dormindo, naqueles minutos cruciais que antecedem o despertar do relógio nos dias de semana. Ou tendo sonhos que mais parecem premonições.

O que realmente me aflige é não sonhar. Isso me dá a sensação de uma noite mal dormida. Bom, eu não entendo nada de sonhos, nem sei se isso é bom ou ruim mesmo. Mas, não lembrar dos meus sonhos me soa como desperdício. Eles são tão criativos...

Para quem viu o filme, recomendo que veja de novo. É ótimo para pescar detalhes que podem não ter sido compreendidos no cinema. Para quem não viu, veja!

E, afinal, aquele reencontro é sonho ou ficção no final?

A alma do negócio

Dizem que a propaganda é a alma do negócio. De uns tempos pra cá, tenho reparado como são criativos os publicitários que cuidam das marcas de desodorantes. Para o bem ou para o mal. Recentemente, percebi meu sobrinho de seis anos cantando uma musiquinha nojenta, e de repente, enquanto via tv, perecebi de onde via aquela musiquinha, que havia grudado na cabeça dele. É desse comercial aqui, do Rexona for men.



Ainda quando vejo isso, fico me perguntando de onde saiu o argumento para bolar uma propaganda dessas. É horrível. Trata-se da história de um cara que não consegue parar de transpirar, e sai assaltando todos aqueles que passam pelo seu caminho para roupar suas camisas / roupas / fantasias. E no final, depois que ele descobre o Rexona Men, ele deixa de transpirar e passa a ser alvo de algum outro maluco. Fico me perguntando se tem alguém que ganha para fazer isso. Ganha, né, gente, o pior é que ganha...

Em contrapartida, bolaram um comercial incrível para o desodorante Axe, também masculino, que foi chamado de Rubens. Tem uma forte relação com o trecho bíblico Gênesis 6:1, quando os anjos desejaram descer a Terra para ter relação com as filhas dos homens. É bem bolado, bem feito, e com uma trilha marcante (pelo que eu pude apurar a música é de um grupo chamado Air e se chama "Sexy Boys").




O comercial é muito criativo, diga-se de passagem. Tem até gente que diz que não gosta, que diz que ele é satânico. Mas, vamos combinar, é quase poético... Eu gostei.

Eu sei que já se fêz de tudo em matéria de propaganda de desodorantes, mas será que não dá mesmo para ser mais criativo? Ou será que precisaremos voltar ao começo e exibir corpos trabalhados em academias de ginástica se lambusando do aerosol do produto?

sexta-feira, julho 15, 2011

Jardins


Como é a sua vida? Ela é como o seu jardim pessoal? Você o rega todos os dias? Aduba? Escolhe sementes de flores para espalhar por ele? Seu jardim tem luz? Atrai abelhas, borboletas? Passarinhos? Beija-flores? O quanto você investe do seu tempo para cuidar do seu jardim?

Um amigo me perguntou isso hoje... eu respondi: "É claro que eu cuido do meu jardim..."

E cuido mesmo... os passarinhos me visitam, há luz, e essa luz é intensa até... mas, eu também conto um pouco com a sorte, porque tem dias que eu nem vou lá. Fecho as cortinas da sala que dão para a varanda, onde fica o meu jardim, e esqueço que ele existe.

Às vezes, faço o mesmo com a vida. Fecho os olhos subitamente, quando chego do trabalho, e durmo pesado, até o momento em que desperto, muitas vezes perdida sem saber se ja é hora de começar um novo dia, ou se ainda há uma noite inteira pela frente. E é nessas horas em que eu esqueço do mundo, ... de regar, cultivar, podar, semear, adubar e cuidar do meu jardim pessoal.

Meu amigo ainda me disse: "Olha, na vida a gente não pode jogar as sementes displicentemente e largar o jardim aos cuidados de um espantalho abandonado. Há que se ter responsabilidade, porque um dia a vida acaba." É duro, mas ela acaba, pelo menos nesse plano.

Eu sei bem disso. Nos meus vasinhos de planta, nascem ervas daninhas e matinhos indesejáveis frequentemente. Como na vida, quando a gente menos espera, já tem um "vampirinho" querendo morder nosso pescoço. Muitos seres vivem de simbiose, outros são apenas parasitas. A gente precisa ser capaz de reconhecê-los para afastá-los de nós, porque eles roubam a nossa luz.

Meu amigo hoje usou uma metáfora para me dar uma grande lição. E para dizer, à sua maneira, que se preocupa comigo. Ele certamente vai ler esse post aqui no blog. Eu só queria dizer obrigada. De novo.

domingo, julho 10, 2011

Sem voz

Dos tempos vividos no Rio, nunca esse inverno foi tão frio. Depois de um ano sem inverno, a esquentar miolos nos 40 graus europeus, esse no Rio me parece mais castigado, mais intenso. Com uma gripe que há muito eu não tinha, só penso na minha cama e no meu cobertor. Quisera não mais falar, ficar muda, perder a voz... de vez. Falar pra quê? Gastar o meu latim em vão? São tantos os sonhos que se vão num piscar de olhos, nem adianta tentar falar deles, ou tentar registrá-los. O vento frio que invade a casa, traz com ele uma certa melancolia. Nem o sol me anima a sair. Nem o verbo me anima a agir. Estou só. Nublada, envolta de névoa. Mas, não posso parar...



Esse que está cantando é o Jack Nicholson, no filme "Alguém tem que ceder", que eu revi hoje...

terça-feira, junho 21, 2011

Pequeno conto de fadas xadrez

Evitando perder o rei, entregou a rainha ao bispo negro. Deu sua cabeça numa bandeja de prata e torceu para achar saída que lhe permitisse manter o reino. A rainha obteve clemência e sua cabeça de volta. Colocaram-na em seu corpo, mas restou-lhe a cicatriz. Estava lá, para lembrar-lhe que, na hora de maior ameaça, de nada lhe servira a fidelidade ao reino, ao rei. Vão se as rainhas, ficam-se os anéis. Manteve-se ao lado do rei, ainda que magoada, por medo de se aventurar em outras terras, em aldeias longínquas. Não mais como rainha, mas como criada. Optou pela dor a lidar com o desconhecido. Mas, ao contrário do que esperava, a mágoa corroía-lhe o corpo, marcava-lhe o rosto, envelhecia a rainha, pobre e medrosa rainha. Tinha estado tão bem ali e por tantos anos. Quanto ao rei, quanto mais ela permanecia ao lado do rei, mas ele se enfraquecia. Perdera seu bem mais precioso: o respeito dos súditos. Um dia, em visita àquele reino, um trapezista do circo concedeu à rainha um grande ensinamento. É preciso voar, se aventurar, mas não sem antes assumir o seu lugar... de rainha. E foi então que ela despiu-se da capa do medo, que há anos lhe acompanhava e acolhia e partiu. Viveu grandes momentos felizes, até que a cicatriz finalmente desapareceu...

quinta-feira, junho 16, 2011

Ombro amigo

Um dia, conversando com uma amiga que frequenta aqui o blog, ela me relatou uma experiência sobre uma de suas amigas que a tinha associado a um momento ruim de sua vida e que, por conta disso, tinha se afastado dela, o que a princípio, a havia deixado muito triste. Mas, depois ela entendeu.

Aquilo me deixou encafifada por muito tempo, pensei à beça naquilo, porque pra mim era quase inimaginável que alguém a quem você ajudou num momento difícil de repente se afastasse de você simplesmente para não se lembrar do momento. Não dizem que a gente pode até se esquecer daqueles com quem rimos, mas nunca daqueles com quem choramos?

Acho que talvez esse seja o X da questão. A gente pode até não se esquecer das pessoas com quem choramos, e talvez, justamente por isso, a gente se afasta, para não se lembrar do momento da dor.

Essa semana, numa conversa com o maridão, ele me disse que existem mesmo pessoas que classificam as demais segundo a situação que viveram, e se foi um momento triste, colocam esse grupo de pessoas numa “gaveta” específica do cérebro. Se foi uma situação feliz, a “gaveta” é outra. E assim vão vivendo.

Isso me veio novamente à mente porque eu tenho vivido isso constantemente. Para alguns, sirvo como o ombro amigo... Constatei que como ombro amigo, não sirvo para soltar fogos com alguns amigos quando eles estão bem. Sou só um ombro, uma escora, em quem as pessoas se apóiam quando precisam.

Sei que isso é assunto para terapia, que talvez não seja tão simples assim, mas o fato é que Lacan foi o grande responsável por aproximar a psicanálise da literatura, então, enquanto seu lobo não vem, isso é, minha terapeuta, eu vou escrevendo nesse espaço aqui.

Eu não sei se sou tão evoluída quanto a minha amiga, que entendeu. Eu não entendo, não. Acho que amigos são para todas as horas. Não me venha chorar as pitangas se na hora da comemoração, eu não te sirvo. Pronto, falei!

quarta-feira, junho 15, 2011

Vivendo e aprendendo a jogar

Semana passada, dei uma sumida aqui do blog. Estava recebendo uma consultora norte-americana e isso implicava em garantir que ela fosse ficar bem e conhecesse um pouco mais a cidade. Essa senhora, bem uns 15 anos mais velha do que eu, foi a grande inspiradora das minhas pesquisas na época que eu estava fazendo meu Doutorado. Eu citei ela à beça.

Na terça-feira, levamos a consultora para conhecer o restaurante Cais do Oriente, próximo ao Centro Cultural do Banco do Brasil, no Centro da cidade. O lugar é lindo e a comida é uma delícia. E o melhor, não fica entulhado de gente.

No meio do nosso bate-papo, ela me disse a seguinte frase:

"Quando eu era jovem, costumava ter sonhos tão grandes para o meu futuro...
... hoje, quando olho pra trás, vejo que eles eram pequenos demais para mim..."


Essa frase me tocou profundamente. Na despedida, eu me emocionei de pensar que estava diante daquela pessoa que tanto havia me inspirado, que estava fazendo um curso com ela, que tinha estado ali, num restaurante falando da vida com ela... enfim...

Levamos a consultora para comer bolinhos no Chico e Alaíde, e ela adorou os mais pesados: "choquinho de camarão", "baião de dois", "feijoada"...

Na segunda-feira, ela fez questão de enviar um e-mail muito gentil falando que os bolinhos tinham sido o ponto alto da viagem, e o papo que tivemos naquele dia, ela, eu, o maridão e um grande amigo também...

É, a gente realmente se dá conta de que, muitas vezes, nossos grandes sonhos do passado são mesmo muito pequenos...

sábado, junho 04, 2011

Quando ele finge que é surdo...

Amor, não vai por aí não que está muito engarrafado...

{e ele parece que não te escuta...}

Amor, por favor, estou super atrasaaaaaada...

{e ele continua seguindo pelo mesmo caminho, super focado no trânsito caótico a nossa frente}

Amor, dobra a direita...

{e ele continua na mesma velocidade como quem não está nem aí}

PORRA, vira nessa entrada à direita, CACETE!

{pronto, acabou o problema!}

domingo, maio 29, 2011

Das coisas que a gente não consegue dizer, mas eles {os escritores} conseguem...

Estou finalizando a leitura desse livro e a recomendo para todo mundo que quiser se ver espelhado nas várias estórias que a Martha conta nele, de forma simples e, por que não dizer, brilhante.

Tem gente que não gosta do estilo dela. Nem do da Lya Luft. Nem do da Thalita Rebouças. Nem do Paulo Coelho. Não, não os estou colocando no mesmo saco, até porque não gosto do Paulo Coelho, nunca li Thalita, nem sou muito fã da Lya. Mas, acho a forma como a Martha escreve muito, mas muito incrível. Porque é simples. E porque parece que ela viveu coisas muito parecidas com as que vivi.

Acho que esses escritores têm um grande mérito, que é o de conseguir se comunicar com as massas, e o de vender muito livro. Isso não é para qualquer um. E a Martha ainda tem algumas colunas nos jornais que a levam a escrever com uma regularidade boa, e nunca vi ela desprezar uma coluna com um texto medíocre, como acontece com alguns escritores por aí.

Das histórias do livro "Tudo o que eu queria te dizer", eu gostei de várias. Mas, a da atriz que não se considera boa e que não quer pra si o reconhecimento que o público e a crítica lhe proporcionam é realmente impactante, porque questionar-se diante do espelho, acredito, é dor de todo mundo. Destaco aqui três trechos:

"Pegue tudo o que eu já fiz e recolha, ensaque e jogue em qualquer terreno baldio. Ninguém vai dar por conta. Nem eu, e é o que deveria estar tratando num divã. (...) Não faço falta.

Durante esses anos todos, duas ou três frases foram verdade. Os "eu te amo" mais sinceros foram para quem não amei. E os homens que amei não escutaram. Eu não sei o lugar certo de dizer. A hora certa de ser humana. Tenho a sincronia de um espantalho. Paralisada. Ninguém precisa de assustar comigo. Eu sou de mentirinha.

Gostar é uma sofisticação. Perdi essa aula, não aprendi a manifestar meu afeto. De mim, gostei uma época. Hoje me repudio com mais honestidade. Dei muito errado, e poucos notam. E que nota nem se dá ao trabalho de me vaiar. O desprezo dos que percebem a farsa dói tanto quanto a adulação dos cegos".

Quantas e quantas vezes a gente não duvida de si mesmo nessa vida? Não se sente incompetente? Não acha que alguma coisa está errada? Mesmo que saibamos da nossa competência, do que somos capazes, não dá pra ser seguro o tempo todo. É aquela palavra mal colocada, aquele feedback mal dado, um cliente que não sabe pedir e que por isso não gosta de nada que entregamos, enfim, existem milhões de coisas que nos deixam inseguros... Ah, e o amor então? Esse, nem se fala...

"Meu quarto, por que devo deixá-lo todas as manhãs? A cama. O colchão. Bem deitada é a minha posição favorita. O teto me conforta, as paredes, estar protegida. Veria televisão pra sempre, se pudesse".

Eu tenho essa terrível sensação de vez em quando. A de não querer sair da cama. Mas, o relógio do celular toca insistentemente por 30 minutos {na função soneca} antes que eu consiga desistir de começar o dia, então, lá vou eu. Sei que um dia vou voltar a ter tesão de levantar e trabalhar... essa nuvem negra vai passar, tenho certeza.

"E de agora em diante não existe tempo. É só uma reticência da rotina. Vou continuar sendo quem eu sou, aquela que não é. A mulher que eles me vêem (...)"

Como não se comover com uma mulher/escritora que consegue expressar as mesmas angústias que sentimos todos nós? Como não pensar que essas dúvidas filosóficas são as dúvidas de todo mundo e que viver é duro pra todos?

O bom da vida é essa nossa incrível capacidade de se regenerar!!! Eu gosto disso! Gosto mesmo!

sábado, maio 28, 2011

Banheiros

Outro dia, na minha página do Facebook, postei uma frase sentida e lamentosa sobre a inabilidade de meus colegas engenheiros civis em construir banheiros – hoje em dia cada vez mais minúsculos – com suas janelinhas voltadas para prismas de ventilação internos. Recebi comentários de amigos dizendo que “eu estava muito revoltada”.

De fato, desde criança me delicio com as páginas dos classificados de imóveis nos jornais, onde as construtoras e incorporadoras publicam as plantas dos apartamentos que anunciam. E quando os mesmos jornais encartam propagandas avulsas com esses lançamentos e plantas em tamanhos maiores, onde se pode ver com detalhes a metragem e a decoração pensada – quem sabe, por um arquiteto contratado pra isso? -, fico em êxtase. Acho que foi isso que me levou a me tornar engenheira, mas de fato o que eu queria mesmo era ser arquiteta. Ou melhor, designer de interiores.


É como quem escreve porque lê muito, conhece o estilo dos outros escritores, entende de gramática, se preocupa com a ortografia e gosta que seu texto tenha um estilo seu. Eu também era assim com a “leitura das plantas baixas”. Com o tempo, foi ficando fácil identificar o que era obra de engenheiro civil e o que era obra de arquiteto. Só para dar um exemplo bem simples: andando de carro pela Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca, você vê que em algumas construções, houve uma preocupação de fazer com que todos os apartamentos, até os da lateral do edifício, fossem voltados para o mar, o que levou ao arquiteto a projetar uma construção meio na diagonal, mas que comercialmente tem um apelo muito maior. Um engenheiro civil talvez não tivesse feito isso, porque em sua maioria – vejam, não estou querendo generalizar, tem gente ousada em todas as profissões – eles preferem os ângulos de 90 graus e buscam aproveitar ao máximo os espaços, construindo de forma a facilitar o cálculo estrutural e a execução das instalações.

Mas, voltando ao caso das plantas baixas, como estão pequenas as construções hoje em dia! Vende-se um apartamento com 4 suítes, com metragem de 169 m2. Você sabe o que é isso? É um ovo! Uma lata de sardinha! Existem apartamentos grandes em Copacabana, daqueles considerados “antigos”, que nem tem tantos banheiros assim, mas que tem lá seus lavabos, e que contam com generosos 250 a 400 m2. O que, convenhamos, faz com que famílias vivam com muito conforto. Mas, diante da bolha imobiliária que vivemos hoje no Rio de Janeiro, por conta de Copa do Mundo e Olimpíadas, é pra gente rica, muito rica. Ou pra quem já nasceu morando num ap. desses.

E retornando ao caso dos banheiros do meu prédio, eles são voltados para um prisma de ventilação de aproximadamente 2 m2. Graças a Deus não se trata de ventilação forçada, o que também acho insuportável, já que não te dá a opção de ter uma janela no banheiro. Ainda assim, o problema dos meus banheiros (são 2) é que além de muito escuros – a qualquer hora do dia, você precisa de luz artificial para se enxergar dentro deles – esses cômodos são a “porta” (ou a “janela”) para que você partilhe da vida de seus vizinhos – e eles da sua.

Nada agradável saber quando o vizinho toma banho, sozinho ou acompanhado, quando faz reunião com a empregada, quando dá banho em seu cachorro catinguento, quando assoa o nariz, quando faz sexo com a mulher/namorada/sei lá, quando canta pensando que está no “Programa do Raul Gil” ou num trashokê da vida, ou mesmo quando faz aquilo que primordialmente fazemos no banheiro. Isso sem pensar que, se eu não estiver vigilante, estão me ouvindo também.

O fato é que, se eu uso o banheiro no trabalho para o mínimo possível – número 1, que é rápido, e escovar os dentes -, imaginem um banheiro que te expôe desse jeito!? Odeio banheiros públicos. Então, vocês podem imaginar meu sofrimento para usar um banheiro particular que é quase público.

Por isso, meus colegas engenheiros, pensem nesses pobres-coitados, como eu, na próxima vez que forem projetar alguma coisa. Pensem nas melhores práticas do passado, e lembrem que ainda tem gente que tenta ser discreta nessa vida e que odeia esse estilo de vida big-brother, ok? É um pedido, quase uma súplica, por uma vida mais sustentável... que nossos antepassados sabiam bem como preservar!

quinta-feira, maio 26, 2011

Eu somatizo, tu somatizas, ele somatiza...

Essa vida de blogueira não é fácil. Manter um blog atualizado com uma frequência razoável, tendo o mesmo sido criado em 2005, requer muita idéia, muita imaginação, muita criatividade. Mais difícil ainda é quando as histórias desse blog são 'fortementes' {não adianta mais mentir, né?} baseadas na sua vida... aí, então...

Passei a semana inteira cansada. Com uma rotina cada vez mais pesada, incluir na minha agenda a quantidade de compromissos que incluí, não foi nada generoso pra mim, mas foi pro meu bem. E tem funcionado. Yoga, massagem acupuntura, aula de inglês... e ainda quero ter um hobby.

Minha amiga Flor de Lótus ficou preocupada com meu último post. Eu estava desesperada. Mais ainda, estava cansada, estava triste, estava me sentindo desamparada, estava pedindo para parar o bonde que eu quero descer. Chega! Cansei de ser a Mulher Maravilha!

Amiga, fica tranquila, eu sou mais forte do que posso imaginar, do que todos pensam. Converso com os meus botões há tanto tempo, e eles são tão bons conselheiros, você nem sabe... Só fico míope quando as lágrimas embaçam meus olhos, como naquele sábado em que me sentei na frente desse computador e relatei toda a minha angústia. Tinha medo de explodir... tinha a sensação de que ia explodir... terrível sensação...

É muito triste quando você se dá conta de que ninguém se preocupa com você.

Só que, de repente, as pessoas começam a se preocupar. Por mais que aquilo que eu relatei pareça a quem lê uma terrível de uma somatização, isso definitivamente não dá em poste, como diria a minha avó. Muita gente hoje sofre com a pressão do dia-a-dia, não sou só eu. Tem gente que tem herpes, tem cistite, tem torcicolo, tem dor de estômago... tanta coisa...

No meu caso, dói o peito e dá falta de ar. Eu puxo o ar e ele não vem. Naquele dia, foram os exercícios de respiração que estou aprendendo na Yoga que me salvaram, quando eu estava ali sozinha, tentando puxar um ar que não vinha... apesar de ter uma caixa do tarja preta no armário do banheiro, eu consegui me acalmar sozinha, repetindo o meu eterno mantra:

- "Eu não tenho o direito de ficar doente, eu não me permito ficar maluca, eu não vou pirar..."

E assim eu fui me acalmando até dormir de novo. E quando acordei, incrivelmente, tinha descansado o suficiente para dar uma boa aula. Ao menos, eu gostei. E olha que eu sou bem exigente.

Tenho tido os meus maus momentos, de desespero e loucura, e às vezes, me vejo perdida na rua, sem saber pra onde ir, e o pior, nem porquê ir... mas, continuo vivendo. Acreditando na lealdade que tenho aos meus amigos, na fidelidade às minhas crenças e valores, na importância dos meus sonhos, na relevância da família da gente e na vontade de viver e aproveitar os lindos dias de sol de outono no Rio de Janeiro...

O resto é resto...