domingo, outubro 02, 2011

Paz

Não há paz dentro de mim.
Há um mar revolto, em plena ressaca, com ondas de 2, de 3 metros, quebrando raivosas e destruindo calçadas, assolando uma praia deserta tomada por um vento frio e cortante.

Não há paz dentro de mim.
Há um vendaval persistente, que destelha casas, que arranca do chão árvores centenárias por suas raízes, que derruba postes e destrói sonhos e esperanças.

Não há paz dentro de mim.
Há uma chuva intensa, constante, assoladora, que inunda ruas, isola casas e pessoas, transborda rios, destruindo pavimentos e tudo o mais que se pensava sólido e indestrutível.

Não há paz dentro de mim.
Há apenas um sol escaldante, um tempo seco e árido, sem umidade, sem saliva, sem lágrima. Um tempo tórrido, a esturricar pensamentos, tecidos e pele, a tornar a pele seca e áspera. Um ar sufocante.

Não há paz dentro de mim.
Há uma voz que quer virar grito, que está travada na garganta, que impossibilita o diálogo, que dissimula sentimentos, que não se expande, não cresce, não vira eco, e que encobre qualquer sensação de calmaria que alguém pode ter.

Não há paz dentro de mim.
Há uma ausência do toque, do carinho e da atenção dos seres humanos. Uma ausência que preenche espaços internos de solidão vasta e agúda, uma ausência da palavra, do contato, do amor fraterno com o qual deveríamos nos tratar a todos.

Quando você me olha e me vê sorrir, não vê essa falta de paz. Não vê esse vazio que, volta e meia, me toma de assalto e me faz chorar baixinho. Sorrindo, eu te transmito uma paz que há muito tempo eu já não sei onde achar.

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2011.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Perdendo o medo de cara feia

Estou relendo o livro “Coragem de Crescer”, da psicóloga Maria de Melo Azevedo, da USP. Comprei este livro em 2006, e não me lembro mais o que me atraiu nele: o título, a simplicidade da capa, ou alguma coisa que li...

A autora faz uma discussão em tornos de relatos de casos de pessoas que ela trata, não divulgando os nomes dos pacientes, é claro. E em cada caso, há, inevitavelmente, algo com o que me identifico.

Ontem, estava lendo á respeito de uma paciente que tinha medo das caras feias do pai. Eu tive medo das caras feias do meu pai durante um tempo na minha vida, acho que da pré-adolescência a adolescência, especialmente quando se tratava das notas na escola. Eu era muito fraca em História e Geografia, e papai não admitia notas como 7,0, 7,5. Então, cada vez que eu tirava uma nota dessas, era um sufoco (sim, porque nota vermelha nem pensar). Mas, não eram caras de desprezo, eram caras de reprovação, caras de quem dizia: "você pode fazer melhor!". Um dia, eu me libertei disso, e consegui ir adiante, sabendo que as minhas notas, ou qualquer coisa que eu fizesse na vida, eram de minha inteira responsabilidade e que não adiantava lamentar ou ralhar, o caso era tocar em frente e seguir adiante, para reverter a situação, se fosse possível.

Mas, algumas caras feias ficam. As que a Maria de Melo relata no livro. O trecho é tão bom que vou me permitir reproduzir aqui, com meus comentários.

“(...) Medo de que, afinal, eu insistia (...) Em primeiro lugar, de caras feias (...) Dessa estratégia de apequenar os outros por meio de expressões faciais, “caras e bocas”, como se diz. É uma tática sempre muito eficiente, mesmo com adultos. Imagine então com crianças, como era o seu caso com o pai, na infância. Preste atenção quando estiver com alguém que usa esse recurso. Ele é forte, funciona. A gente diz algo a uma pessoa. Ela fica imóvel, não mexe um músculo. Não dá resposta alguma, nos deixa no vazio. A gente não tem nenhum indício de como lhe chegou aquilo que dissemos. Este conjunto já sinaliza que não estamos agradando muito, joga um pouco de água fria no nosso movimento. Diminui nossa excitação, desvitaliza. Mas a gente agüenta e segue adiante, agora com mais força, colocando ainda mais energia, desejando muito conseguir tocar o tal sujeito, o nosso interlocutor. Aí ele faz algo mais forte: uma cara toda especial, torce o nariz, a boca, numa expressão de quem sente cheiro de merda em algum lugar... E aí, batata! Se você não estiver muito preparada pela vida, começará a cheirar seu sapato para verificar se não pisou no cocô do cachorro. Na próxima tacada do rei em questão, cuidado! Você pode instintivamente cheirar a manga da sua blusa, ou sei lá o quê... As caras dele vão lhe informando que você só fala merda. E em seguida, repentinamente, ele vai mudar de assunto, como se você não existisse e não tivesse falado aquelas besteiras. Como se lhe desse uma chance, apagando generosamente suas ações incompetentes, apagando você! E, é claro, a postura dele indica que a resposta correta de sua parte é agradecer a gentileza... Aí você já estará pequena como um grãozinho de arroz, ou de gente. Gente, a esta altura, você já nem se sente. Encolheu-se toda. E o rei lá em cima, enorme, inatingível. Agora imagine esse tipo de treinamento a vida toda, desde o berço! (...)

O segundo medo é o de abandono (...) Ou seja: as caras feias expressam desprezo. E contêm algo mais perigoso: a ameaça de abandono. Uma chantagem afetiva é jogo duro. Se bobear, (...) é descartada do jogo da vida como um traste qualquer. (...)”

Pensando a respeito, vou me dando conta de que nasci numa família onde muitas pessoas estão habituadas a fazer isso. Não falo de meus pais, que são pessoas tranquilas, e arrisco a dizer, sofrem com isso tanto quanto eu, mas de todo o resto. Eles sempre dão um jeito de te mostrar que você não vale o pão que come, que só fala besteira, que é melhor ficar calada(o). Outro dia, fui a uma reunião de família, uma comemoração de aniversário, e ao chegar em casa, meu marido me perguntou porque eu estava tão calada. Eu disse a ele que havia desistido de falar, que era muito sacrifício tentar ser ouvida. Ora, isso não acontece em nenhuma outra situação, em nenhum outro núcleo. Aliás, quando há pessoas de fora da família, o papo rola solto. Mas, com meus ‘parentes’, o que se recebe de volta é sempre uma cara de quem comeu pudim de limão, quando a gente fala. E isso cansa. Ainda mais se você não está habituado a pagar na mesma moeda. Aí vira monólogo, só o ‘interessante’ pode falar, você não. Então, é melhor ficar quieto, observando os tais a fazer o mesmo com os outros e vendo como as pessoas ficam desconcertadas nestas situações. Eles deviam ser filmados e depois, obrigados a assistir as atitudes perversas com as quais agem neste pequeno clã.

O mesmo acontece no trabalho. Uma ou duas criaturas agem do mesmo jeito. A tudo que falamos, a todas as contribuições que damos, a resposta é sempre uma careta, uma cara de nojo. Como incomoda! Dá vontade de perguntar: “Está com fome?” Porque cara feia para mim é fome...

Eu fico me perguntando como é que se aprende a ser assim. Acho que é uma estratégia de defesa, que alguns adotam e outros não. Começa com alguém muito importante, egocêntrico e egoísta, o “rei” daquela casa, ou daquele ambiente de trabalho, e se propaga para todos os que precisam se defender dele e que vão impondo esse comportamento aos demais.

Ainda bem que sou transparente e segura o suficiente para mostrar às pessoas, respeitosamente, que não concordo com os seus argumentos, e que tenho os meus, para sustentar uma discussão saudável e produtiva.

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MELO, Maria de. "A coragem de crescer - Sonhos e histórias para novos caminhos". Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Colecionadora de receitas


Quando eu casei, aos 28 anos, ninguém me disse que a vida seria procurar por receitas. Naquela época, eu mal sabia fritar um ovo, passar um café... e tive que encarar as dores e as delícias da vida a dois.

Eu pensava que tinha alguma sorte porque quando casei meu marido tinha 35 anos e vivia desde os 18 anos sozinho. Então, ele sabia como fazer... arroz, feijão e tudo o mais (naquela época, eu ainda estava interessada em aprender apenas o trivial variado, para dar conta de um cardápio de dia-a-dia). Mas, ele não me ajudou muito não. Aliás, devagarzinho, foi deixando todas as responsabilidades da casa para mim. E nós nunca tivemos uma pessoa para nos ajudar, era tudo comigo e com ele (mais comigo do que com ele).

Ainda me lembro do dia em que, sentada no chão da sala do nosso pequeno apartamento alugado de 58 m2, eu liguei aos prantos para a minha avó e pedi que ela me ensinasse a fazer um arroz... soltinho. Lembro do desespero ao ouvi-la dizendo para eu fazer um refogado (o que era isso, meu Deus?) e para colocar água até que o arroz cozinhasse... Como assim? O quanto de água? Tinha que ser água fervente? Era muita informação para uma menina que tinha passado a vida dando aula para crianças* e, quando estava em casa, pouco levantava a bunda do sofá.

Depois de casada, uma coisa que a gente aprende é que não vai ter muito tempo de esquentar a bunda no sofá, e começa a ter uma saudade danada dos paparicos de mamãe. Logo que me casei, não tinha essa de buscar receitas na Internet. Então eu comprei um caderno de capa dura, assim como a minha mãe tinha o seu, e comecei a anotar tudo nos mínimos detalhes. Até o que era refogado. Demorei muito tempo para ter coragem de fazer um feijão na panela de pressão, não tive uma dessas até que achei que podia dominá-la, tinha medo que explodisse...

E com a internet, as receitas foram aparecendo, eu as fui colecionado, e hoje, cá estou, com um certo domínio dessa disciplina, me arrisco a fazer até sopa de ervilha na panela de pressão, mesmo a mamãe dizendo que a ervilha faz a panela explodir, sei lá porquê...

Sinto que passei a colecionar receitas, depois de casada. Receita de como equilibrar as minhas vontades com as vontades do marido - e às vezes até com as vontades de papai e mamãe e do resto da família. Receita de como demonstrar ao marido que estou a fim de namorar... aliás, muito a fim, porque quando é só um pouquinho, ele não enxerga! Receita de como ouvir certos desaforos em casa e não levar a ferro e a fogo, porque não tem jeito, a gente traz pra casa os problemas do dia-a-dia no trabalho, invariavelmente. Receita de como lidar com um telefone que não pára de tocar, e que meu marido não se habilita a atender, nem pra evitar que eu acorde.

Enfim, a gente acorda um dia e se vê responsável pela roupa de cama, de mesa e de banho. Tem que pensar no cardápio da semana e fazer a lista do supermercado. Tem que passar a roupa bem passada e ver o que tem que ser levado para a lavenderia. Tem que trocar os lençóis, pôr as toalhas pra lavar e ver se tem mancha no colarinho da camisa do marido. E não ganha nada por isso.

Ainda esses dias, de molho em casa, eu me dei conta de que, aos poucos, à medida que eu ia melhorando, essas responsabilidades iam voltando a cair sobre os meus ombros. Hoje, ouvi do marido que "tenho ainda uma semana para curtir minhas férias"... e que "ele não ia ficar em casa... mofando!" Vem cá!? Eu não estou de férias!!!! É a eterna busca por uma receita que nos faça compreender como lidar com essas palavras desagradáveis, esses sinais de intolerância de quem convive conosco, os atos de impaciência para com quem está doente em casa, entediado, vendo a vida pela janela da varanda e da internet.

Talvez eu esteja mesmo mofando. Tenho sentido mais frio do que o normal, tenho falado com as paredes, tenho tentado arrumar o que está fora do lugar. Mas, não consigo. Não, as coisas só ficam arrumadas até que ele chegueem casa. Aí, quando todas estão fora do lugar, o meu "marido-criança-grande" reclama que está tudo bagunçado. Desfarço, finjo que não entendi e sigo a vida mofada. Mas, como uma mulher que se preze, eu tenho até tentado manter as unhas feitas, o cabelo arrumado, uma roupinha descente. Tenho aturado a faxineira e seu rádio de oração todas as 5as. feiras, mas ela não me faz companhia. Coitada, ela mal enxerga onde está sujo e eu odeio dar ordens.

Só sei que preciso tirar um aprendizado disso. Percebi que conseguiria fazer um monte de coisas que nunca tive coragem, como costurar, por exemplo. Preciso achar qual a receita para os próximos anos.

Ah, e acho que tem muita senhora idosa, que vemos retratadas na tv, que já acharam uma outra receita-de-ouro: abaixar o volume do aparelho para surdez toda vez que a conversa não lhe interessa... Acho que vou ser uma dessas...

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* Eu sustentei as duas faculdades que fiz (condução + livros) dando aula particular. Fazia Engenharia de manhã, dava aula de 1 às 5 da tarde e depois emendava com a Administração das 6 às 10 da noite. Era barra. Mas, eu adorava. Ainda lembro muito dos meus meninos, e até da garotinha chinesa que alfabetizei, a Wenjin. Com saudades!

quinta-feira, setembro 15, 2011

Presente da mamãe


Adorei!

Agradável surpresa de uma tarde chuvosa

Ontem, zapeando impaciente com meu controle remoto, enquanto esperava um retorno da médica, me deparei com um filme fofo no Telecine Pipoca. Eu recomendo. Para aqueles dias em que não se quer sofrer, pensar, refletir, quando tudo o que se quer é apreciar uma comedinha romântica que, de quebra, nos apresenta uma criança pra lá de fofa, que faz um personagem "mega perturbado"...

O nome do filme? "Coincidências do Amor"... com a Jennifer Aniston (de Friends) e o Jason Bateman (um ator que eu ainda não conhecia, mas que, por coincidência - ou não - me lembrou muito uma pessoa...)... E o menino? Chama-se Thomas Robinson. Taí o cartaz do filme.



Ele foi lançado em 2010 e, sinceramente, não sei se foi um grande sucesso no cinema. Não ligo para esse tipo de filme e raramente me lembro de algum, tempos depois que vi o trailler. Mas, esse me chamou a atenção, mais pelo ator desconhecido (por motivos óbvios, já que eu disse que ele me lembrava uma pessoa) do que pela Jennifer e seus personagens todos-iguais.

A história trata de uma mulher (Kassie) na casa dos 40 anos, sem namorado ou marido, que quer ter um filho e que resolve pagar a um doador pelo seu sémen e fazer uma inseminação artificial. Ela resolve então dar uma festa, chamando todos os seus amigos, inclusive o perturbado e tímido Wallie. Todos bebem muito, enquanto o doador está fazendo o serviço no banheiro. Mais tarde, quando Wallie vai ao banheiro "tirar-água-do-joelho", descobre aquele pote com o "ouro-mágico" da amiga, fica supercurioso e resolve dar uma conferida no material (olha a cara dele na foto acima). Só que, nem tudo é perfeito, o pote cai aberto na pia, e seu conteúdo escorre junto com a água pelo ralo abaixo. O amigão (!!!) não vê outra alternativa a não ser substituir o material do doador pelo seu... e daí se desenrola toda a história.


Mas, o máximo é o Sebastian, o garoto, o filho dos dois, que Wallie só vai conhecer seis anos depois, quando Kassie volta à NY. Ele é demais. Perturbado. Colecionador de porta-retratos, cria histórias com os personagens das fotos que vêm com eles, e ali estão um avô, um tio, enfim, uma família fictícia.


Esse menino lembra demais o pai-personagem, age da mesma maneira, tem os mesmos trejeitos, é hipocondríaco como o pai, não gosta muito de contato físico, é esquisitíssimo... uma gracinha. Na cena abaixo, ele se recusa a comer pato, porque leu na internet o que fazem com os patos quando se produz patê de foie gras. Ah, as crianças de hoje e o excesso de informação ao qual estão expostas diariamente...! Estamos nós criando pequenos-monstrinhos!



A mãe sabe quase nada de como é lidar com uma criança inteligente desse jeito e vai cedendo às chantagens do garoto. Mas, é tudo muito leve, a gente se pega dando muita risada várias vezes. Ela se mete em um monte de confusões, mas acho que a cena mais bacana é quando o amigo-pai (ainda sem que os outros saibam dessa paternidade) é convocado de emergência para salvar o garoto que está com a cabeça infestada de piolhos. Ver aquele cara esquisito catando piolhos é surreal... Quantos homens assim não existem por aí... eles só precisam de alguém (pequenino) que lhes toque o coração... E depois do pente fino, o garoto ganha um pote de vidro, cheio de piolhos (já mortos, é claro), que ele leva pra ver televisão, tomar café da manhã... essas coisas de criança maluca...



Bom, o final... o final você já pode imaginar. Eu não vou contar, mas é tão óbvio! O legal é ver o menino finalmente tendo a oportunidade de comemorar seu aniversário do jeito que quer. E, é claro, sem deixar de fazer uma chantagenzinha básica.

Vale à pena, numa tarde chuvosa, é melhor que "Sessão da Tarde". Com direito à pipoca e tudo...


terça-feira, setembro 13, 2011

Tecendo saberes na primavera...

Quem quer, arruma um jeito.
Quem não quer, arruma uma desculpa.

Caio Fernando Abreu

Música do dia

Aliás, e a propósito, a música do dia hoje é...



... porque eu fiquei sozinha o dia todo com meus pensamentos!

Moda nas unhas

Empolgada com a chuva de tendências que tenho visto nas revistas, e com as explicações de craques da moda de como utilizá-las, como o estilista Reinaldo Lourenço, na Revista UMA de agosto de 2011, resolvi que já era hora de experimentar e sair dos tradicionais rosas, vermelhos, marrons e corais.



Passando por uma loja O Boticário, não resisti e comprei o esmalte azul turqueza da segunda foto abaixo. Custa R$ 9,90, preço um pouco acima do mercado de esmaltes, mas nada comparado a um Chanel ou Lancome. O esmalte é de boa qualidade e seca super rápido (nem precisa usar olho secante). Pintei as unhas no sábado para um almoço no domingo. E fui de roupa básica, para não brigar com o cintilante do esmalte.



Na segunda-feira de tarde, já tinha tirando o tal esmalte. Sabe o que é? É cintilante demais. Muito aceso. Eu bem que tentei, mas voltei pro meu rosinha, que está aqui nas minhas unhas, tranquilo, tranquilo.

Um dia, quem sabe, consigo fazer até uma inglesinha, que eu achei demais...



Enfim, fazendo uma pequena busca na internet, deu pra ver que o povo inventa, viu? Ô, se inventa. Mas, como sou eu mesma que faço minhas unhas (não tenho paciência pra fofoca do salão, nem pros bifes que tiram da gente), eu tenho que aprender a ter coordenação motora para caprichar na mão direita (já que eu sou destra).

Se conseguir, posto as fotos aqui.

34/45

O tempo está passando bem devagar. Nossa! Tem dias que penso que vou enlouquecer. Desde que resolvi desligar a tv, melhorei. Me dei conta de que a tv é uma máquina de criar malucos, de endoidecer gente. Aproveito agora para não ouvir nada, nem rádio. É bom. No silêncio, só o barulho do teclado, das minhas próprias ideias, me acompanha.

Já que eu não conseguia ler, por uma incrível falta de concentração, encomendei uma caixa de dvds, com filmes que há muito tempo eu queria ver. Foi uma ótima pedida. Mas, a cada filme que vejo, me dou conta que há outros tantos que ainda não assisti e que eu ainda quero assistir, ou que já vi no cinema, e quero ver de novo. Estou pensando em testar o Netflix, pois assim não preciso ocupar espaço físico em casa com as embalagens. Ou talvez, eu abra uma vídeo-locadora depois, com tanto filme por aqui... prometo que faço um preço baratinho...

A lista da semana passada foi a seguinte:

  1. "Frida" - com a Salma Hayek;
  2. "A Vida é Bela" - com o Roberto Benigni;
  3. "Snatch - Porcos e Diamantes" - com o Brad Pitt e o Benicio Del Toro;
  4. "Os homens que encaravam cabras" - com o George Clooney;
  5. "Coração Louco" - com o Jeff Bridges;
  6. "O Turista" - com o Johnny Depp e a Angelina Jolie;
  7. "Minhas Mães e Meu Pai" - com a Julianne Moore e a Annette Bening;
  8. "De Pernas pro Ar" - com a Ingrid Guimarães e a Maria Paula.

Já assisti à três deles, nesta ordem:

"De Pernas pro Ar" - que decepção, muito careta!

"Os homens que encaravam cabras" - indicação de meu amigo argentino, é tão louco, tão louco, que é imperdível!

"Minhas mães e meu pai" - lança umas questões interessantes sobre a constituição familiar contemporânea, mostrando como é complicado para um casal de meio-irmãos adolescentes ter duas mães, como é estranho encontrar o doador de sémen, como a traição é vista num relacionamento gay, enfim, é um filme para pensar. E a Annette Bening está perfeita.

Mas, como eu disse no início do post, já quero comprar mais filmes... da lista dos que quero muito ver estão "Além da Vida" e "O pequeno Nicolau".

A conclusão que eu cheguei nestas duas últimas semanas reclusa é que eu preciso ir mais ao cinema. Pronto, falei.

A propósito, eu tenho ido aqui e ali, devagarzinho, encontrando pessoas, retomando as minhas atividades, terapia, acupuntura. É difícil, cansa. Dá vontade de deitar, no meio da rua. Se eu pudesse carregar comigo um sofá portátil, seria ótimo. É tão diferente de férias, a gente se sente inútil. Mas, vai passar...


Cena de "Minhas mães e meu pai"... elas estão fantásticas...


E aí, você me indica mais algum para a lista? Thanks!

quinta-feira, setembro 08, 2011

29/45

Hoje é meu 29o. dia de prisão domiciliar. Esta semana foi mais folgada. "Obtive" do maridão alguns alvarás de soltura e fui à rua sozinha. Confesso que ainda tenho um pouco de medo de sair sozinha, de cair de joelhos, como vinha acontecendo antes. Então, dei uma de Angélica e fui de táxi.

Consegui retomar minhas seções de acupuntura, voltei à terapia, fui fazer os exames de sangue sozinha. Ontem, fui ao shopping. Queria dar um presente pro maridão, já que a loja que ele gosta estava com uma super promoção de 70%. Confesso que, combinando feriado e shopping cheio, eu fiquei muito, mas muito cansada. Olha que não andei quase nada, estava com ele, que me deu o braço e tomou conta de mim o tempo inteiro... mas, o fato é que ainda não estou pronta para essas estripulias. Tenho mesmo é que ficar em casa. Full time. O resultado é que peguei um resfriado, não sei como, mas também não preciso saber... agora não estou podendo pegar nada...

O sono agora anda bastante irregular, uma hora durmo muito, na outra tenho insônia. Vida boba essa minha...

Tenho descoberto muita coisa na Internet. Agora que voltei a ler (pois antes não estava conseguindo), retomei alguns dos livros que estavam na cabeceira... e até voltar a trabalhar, espero ter conseguido acabar a leitura.

Estou apaixonada por um site de fotos que está aí, na barra lateral direita (We heart it!)... tem cada imagem linda...

É isso, um tempo de esperar, esperar, esperar... espero pelas ligações dos amigos, pelos e-mails deles, pelos alôs, pelas visitas em casa... espero por qualquer sopro de contato com a realidade, com o mundo lá fora, que continua girando, girando, girando...

Esse tempo reclusa tem me feito pensar nos idosos. Eles ficam tão alheios ao que acontece na vida das pessoas, os mais novos os deixam tão abandonados (e eu me incluo neste grupo), que viver é quase como estar semi-morto. Ver a vida pela janela, pela Internet, ou pela tv, é algo desesperador. Tenho cada vez mais certeza de que, para envelhecer bem, você deve se cercar de atividades e de amigos, evitando a reclusão. O joelho está doendo? Esquece, vai pra rua... Você acordou fraca hoje, busque energia na hidroginástica... Não esmoreça, faça alguma coisa...

Se eu tenho mais uma coisa para aprender desse tempo, é que o corpo só está bem, se a cabeça está bem também!

Música do dia:


PS.: Deixa eu explicar o título do post. Serão 45 dias em casa. Eu já cumpri 29. Sabe o encarcerado que marca na parede cada dia com um tracinho, até formar 5 (4 com um na diagonal), e vai somando de 5 em 5? Estou quase assim... Ninguém merece!

segunda-feira, setembro 05, 2011

Isso é que é presente


Andei fazendo umas compras no meu site favorito, o da Lancome, e dessa vez, na hora de escolher os brindes (sim, porque eles sempre oferecem brindes a quem é cadastrado), eu pude escolher um potinho de Génifique, um creme que eu estava namorando há muito tempo e que nem no ano passado, quando estive na França, tive coragem de comprar, de tão caro.

Não precisa comprar muito para ganhar brindes, mas é lógico que, quanto mais se compra, mais se ganha. Eu estou usando o Génifique desde que chegou aqui em casa, há mais ou menos dez dias. Como eu já tinha lido em resenhas nos jornais e revistas, é realmente maravilhoso. A sensação é de estar com uma base poderosa o dia todo, e ainda com efeito lifting. E olha que eu só passo o creme à noite, antes de dormir, logicamente depois de ter limpado muito bem o rosto das impurezas do dia.

Tenho lá minhas dúvidas se o produto mesmo é tão bom quanto a amostra, porque já vi muita gente reclamando que a amostra era mil vezes superior do que o produto em si. Mas, como a Lancome é uma marca na qual eu confio, e da qual eu sou fã de vários produtos, acho que não vou me decepcionar, não.

Então, quer o seu? Olha, não sei se a promoção ainda está valendo, mas passa lá e faz o seu perfil:
http://www.lancome.com.br

I need too much light

The Laughing Hearts

"your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you."

- Charles Bukowski


Música de hoje:

domingo, setembro 04, 2011

25 dias de prisão domiciliar


É assim que eu me sinto. O dia está lindo, posso ver pela janela. Céu azul, clima ameno, ideal para um passeio ao ar livre. E eu aqui esperando. Esperando o corpo vencer a batalha, para voltar ao meu normal. Não ao normal dos outros. Ao meu.

Enquanto espero, me contento com as ligações que recebo, com as poucas visitas. Elas me acalentam, me mostram algum carinho. Eu ainda me pergunto porquê tudo isso, porque uma crise tão intensa. Por que demoro tanto a ficar bem?

Hoje, abri o "Livro do Desassossego", do Fernando Pessoa, numa página qualquer, e era isso que dizia...

"144. Depois dos dias todos de chuva, de novo o céu traz o azul, que escondera, aos grandes espaços do alto. Entre as ruas, onde as poças dormem como charcos do campo, e a alegria clara que esfria no alto, há um contraste que torna agradáveis as ruas sujas e primaveril o céu de inverno banal. É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer. (...) Todas essas coisas não têm importância. São, como tudo no comum da vida, um sono dos mistérios e das ameias, e eu olho, como um arauto chegado, a planície da minha meditação. (...)"

A vida é mesmo cheia de mistérios, a sensação que tive foi que, por não ter tamanha competência, havia incomendado esse trecho ao Pessoa para ilustrar o meu 25o. dia de prisão domiciliar.


Música de hoje:

sexta-feira, setembro 02, 2011

Transformando um ursinho

Pegue um ursinho sem graça...


Corte um pedacinho de retalho bem bacaninha, como um quadradinho ...


Use uma tesoura de picote para fazer o acabamento...


Dobre ao meio como um triângulo e vinque à ferro para marcar...


Depois, como uma bandana, coloque na cabeça do ursinho.
Use uma linha para prender atrás e dos lados...



Escolha uma fita que combine e faça um lacinho curto...


E voilà, aqui está meu ursinho surfista de bandana!


Ou, dependendo de quem olha, um chef de cuisine!

Quem disse que eu não tinha habilidades manuais, heim?!


A propósito, esse foi pro meu sobrinho-neto, e por isso, e porque papai surfa, eu me inspirei e usei o tecido da bandana. E também, escolhi cores mais sóbrias. Depois mostro outros inventos!

quinta-feira, setembro 01, 2011

Obscuro objeto do desejo


Eu vi essa revista nas bancas e enlouqueci. Adorei esse vestido. Está certo, é um Carolina Herrera. Mas, eu preciso, eu quero, eu necessito!!!! Sei lá o que passa pela nossa cabeça que nos leva a amar alguma coisa que a gente acabou de ver. Comprei a revista. Nada, nenhuma foto interna para que eu pudesse ver os detalhes. Zero. Que frustração!

Mas, um detalhe, vendo o making off da Alinne no site da Marie Claire, pude ver que as alças são cruzadas nas costas, o que me encanta ainda mais. Adoro vestido assim!

Fazendo uma pequena busca na Internet, encontrei o desfile da coleção Primavera/Verão 2011-12. É um festival de vestidos lindíssimos, cada um mais elaborado que o outro. Olha só:


Cá entre nós, a trilha sonora é meio pavorosa, mas os vestidos são lindos. E nada de achar a origem do meu objeto do desejo.

No site Hoy Moda, lá estava ele, numa outra modelo. Confira aqui. Enfim, é lógico que eu não vou ter um... mas, quem sabe um parecido ou inspirado. Aguardem!


terça-feira, agosto 30, 2011

Meu universo particular, entre Facebooks e sonhos memoráveis

Acho que o maior sofrimento de quem está com uma doença que impõe quarentena é ver a vida passar lá fora e você estar alheia a ela. Você se sente como num universo paralelo.

Lidar com a ignorância das pessoas e também com a tua sobre a doença é algo que irrita, a maior parte do tempo.

Rolam os mais variados comentários, que às vezes viram boatos: "Ela vai morrer...", "Ela está estressada", "Ela vai ter que ser operada de emergência...", "Tadinha dela, somatiza tudo...".

Para cada um que telefona, é preciso dar a mesma explicação: "Não, eu não vou morrer, não dessa vez"; "Não, eu não estava estressada com o trabalho, imagina!"; "Não, eu não vou ser operada agora, não se opera ninguém no meio de uma crise se for possível esperar"; "Não, não tem nada a ver com somatização, não dessa vez"...

Em resumo, meu corpo só precisa se recuperar sozinho - ele precisa de TEMPO, só isso!

Então, como se não bastasse toda essa incomodação, ainda há aqueles que te infantilizam e insistem em te tratar como uma criança de 5 anos de idade. Para esse povo que faz isso, só tenho uma coisa a dizer:

Ah, não enche!

Está bem, está bem, eu deveria estar / ser menos agressiva. Mas é que paciência tem limites, e eu estou com os meus por um fio.

Aí entra em cena o título deste post. Enquanto hávidaláfora.com.br, eu fico aqui, esperando nem sei o quê. Imagina uma pessoa que, há três dias, não conseguia ir ao laboratório fazer os exames médicos por causa do efeito dos buracos no asfalto na cabeça da coitada. Não dava pra dizer ao condutor do táxi: "Moço, toma cuidado para não passar em nenhum buraco, que eu estou com enxaqueca..." Impossível, pois nesta cidade, só tem buraco, não dá para desviar de um sem cair em outro!

De casa, vejo a vida pela tv, é claro, porque já não se vive sem ela, então nem conta mais. Pela varanda, mas o máximo que eu observo são as flores do meu bouganville nascendo, crescendo e atraindo mais e mais passarinhos e depois, sendo levadas pelo vento. E, finalmente, pelo Facebook, onde uns postam que vão à praia, outros vão fazer piquenique com a família. Uns vão fazer uma pequena cirurgia, outros oferecem palestras online gratuitas. Uns vão tomar café da manhã com os amigos no Leblon, outros saíram de férias e foram viajar. Uns perderam o emprego, outros estão como Deus quer, curtindo o ócio.

Tudo isso, mais os telefonemas que recebo, mais o que vejo na tv, formam uma louca colagem que dá origem aos meus sonhos. Dos me que lembro, só posso dizer que são muito, muito sem sentido. Borjes gostaria de usá-los como inspiração para os seus livros, tenho certeza. Costumam "ressussitar" pessoas que há muito já não dão o ar da graça na minha vida real.

E por falar em dar o ar da graça, tem outra coisa engraçada nessa coisa de estar doente. Alguns amigos assumem que não posso receber visitas porque não posso me contaminar (Hã !!!!????). Outros, me ligam dizendo que estão passando aqui, e não vêm, e sequer ligam para avisar que não vêm. Tudo bem, eu entendo que a vida de todos é corrida demais, que são muitas atividades, trabalho demais, que final de semana é pra passear e não para visitar gente doente. Eu também vivo uma vida corrida quando estou bem.

Mas se esse é um tempo de aprendizados, esse é mais um: não prometa o que você não vai cumprir. Quem está do outro lado, pode estar precisando de você.


Música do dia:


domingo, agosto 28, 2011

A gente se sente amada...

... quando o maridão pede (e come com você!) a pizza da pizzaria
da esquina que ele detesta só para te agradar!






sábado, agosto 27, 2011

Reflexões de uma enfêrma - 2


Tem um menino lá no meu trabalho, o Carlos, que vende cupcakes deliciosos. Eu sempre peço a ele para nem me mostrar os danadinhos, para não dar vontade!

Decidi que dieta é uma droga, e que vou me permitir ao menos 1 por semana, eu não vou explodir por conta dessas calorias!

Meu caso


Com tantos pedidos de exames e informações desencontradas
entre os médicos, a gente começa a desconfiar de tudo!

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Publicado no Segundo Caderno do Jornal O Globo de 27/08/2011. Clique na imagem para vê-la em uma resolução melhor.

sexta-feira, agosto 26, 2011

É incrível...


... como crescem pêlos, cabelo e unhas quando você não está prestando atenção neles!

... como a gente sente falta até do que nos irrita!

... como eu tenho visto passarinhos diferentes se fartando do néctar das flores do meu bouganville!

... como as pessoas têm uma imagem tão diferente de nós da que nós mesmos enxergamos!

... como as pessoas distorcem tudo aquilo que falamos para contar a história que melhor lhes serve!

... como eu sempre tenho deixado para amanhã coisas que eu gostaria de ter feito hoje!

... como as tarefas domésticas são sempre as mesmas e tão chatas!

... como o corpo padece mesmo quando achamos que estamos em equilíbrio!

... como não tem nada de bom na tv aberta, nem na tv à cabo!

... como os noticiários de todos os canais de repetem!

... como a humanidade é capaz de cometer tolices!

quinta-feira, agosto 25, 2011

Reflexões de uma enfêrma - 1

Ninguém gosta de ficar doente. Muito menos eu. Interessante ver a quantidade e a diversidade de pessoas que ligaram para mim para saber como eu estava. Estou melhorando, mas bem lentamente. No início, deu medo. Os dois médicos com quem eu me consultei disseram que não havia remédio, que eu teria que me recuperar sozinha. Daí a gente faz os exames e não melhora, "fica estável", como a própria médica disse. E tem que esperar.

Há muito tempo que eu aprendi que o meu karma é ter paciência. Eu nunca gostei de esperar, sempre sofri de ansiedade, sempre quis resolver as coisas ontem. Mas, agora, só me resta esperar. Até porque não consigo ler, pouco escrevo, nem o jornal eu encaro. E se deixo a tv ligada é para fazer barulho, não para acompanhar o que está passando.

E, já tendo ficado 15 dias em casa, escuto a médica me dizer que provavelmente vou ficar mais 15. Ninguém merece. Isso não é coisa para uma pessoa ativa como eu. Daí eu tento trocar os lençóis da minha cama, e vejo como é uma tarefa difícil. Cansa muito. Vestir o colchão com o lençol de elástico é quase uma tortura. Depois, levar para a área de serviço, programar a máquina, organizar tudo, esperar bater. Ai, deixa eu me sentar um pouco que meu coração já começou a palpitar novamente.

Uma coisa que não sai da minha cabeça é por quê isso acontece com pessoas legais. Porque eu sou legal, eu me esforço para ser legal. Não me meto na vida dos outros, sou honesta, sou fidelíssima aos meus amigos, sou uma boa filha, sou uma pessoa bacana com todo mundo, não me furto a trabalhar e adoro o meu marido. Então, por que? Eu queria entender.

Ainda mais uma doença silenciosa como a anemia. Uma doença que não avisa, que vai tomando o corpo, transformando tudo aqui dentro numa batalha intensa, entre glóbulos brancos, vermelhos, baço, coração, corpo e mente (a gente tem que se reorganizar para não entregar os pontos).

Eu sei que tenho muito que aprender com tudo isso. Aliás, com esse meu ano, que está sendo brabíssimo. Ô, 2011, você podia dar uma aliviada, né? Ainda não descobri o que tenho que aprender. Talvez, seja hora de entender quem são de fato os meus amigos, aqueles que retribuem com o mesmo carinho tudo o que eu faço. Mas, como eu disse pra mamãe outro dia, talvez também seja hora de reconhecer que ninguém dá o que não tem, como diz o mestre Alan Kardec.

Eu ainda vou postar muitas outras reflexões por aqui, se Ele quiser.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Poetas brasileiros

Dá para não se emocionar? Que gravação linda! Amo o Alceu e a Zizi...



Na Primeira Manhã
Alceu Valença

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.

sábado, agosto 20, 2011

Mulher maravilha

Definitivamente, não sou ela. Adorava quando criança, mas seus poderes ficaram no passado, nas telas da tv. Muito cansaço. Coração em permanente disparo, para dar conta da falta de ar. 99, 100, 110 batimentos por minuto. Dor de cabeça. Ela lateja dentro de mim. Não aguento a luz. Não aguento ficar deitada. Não aguento dar 5 passos. Não é falta de sangue. Nem caso para cirurgia. Tenho que me recuperar sozinha. Mas, como é lento o processo. Já conheço as manchas do teto. Já quero trocar tudo.

Quem sabe um dia o gás volte e eu queira retomar o blog com a mesma força de quando mudei o layout?

Me aguardem!

terça-feira, agosto 09, 2011

Carpinejando

Desde que comecei a ler o livro do Fabrício, e a partir do momento em que posso levá-lo para qualquer lugar, sem ter que me ater a pequena tela do computador onde encontro seus maravilhosos escritos em blogs e colunas de revistas, me pego pensando cada vez mais no que ele escreve e no quanto compartilho de suas opiniões. No último texto, ele escreveu assim o que pensa sobre "ser grande":

"Não há mais adultos no mundo. Ninguém mais pede para ser adulto. O tempo parou afetivamente, e raros são os corajosos que desejam envelhecer".

Ah, como eu concordo com o Carpi. A gente está se perdendo num mundo pasteurizado. No alto dos meus 41 anos, muitas são as vezes em que eu me pego experimentando uma roupa numa loja e me perguntando: "vem cá, isso aqui não é roupa de adolescente, não?"

Está tudo muito igual. O que é roupa de mulher de 40 e poucos anos? Não há mais distinção... somos todos iguais, correndo atrás da fonte da eterna juventude, dos cremes aos ácidos hialurônicos que nos tiram as rugas, do botox que nos congela a expressão, estamos todos com a mesma cara, a cara que tínhamos quando ainda não havíamos deixado a vida nos marcar com suas experiências boas e ruins.

Não decidimos mais nossas questões como adultos, estamos sempre precisando de muletas e é cada vez mais difícil pensarmos por nós mesmos. Estamos criando uma legião de terapeuta-dependentes, aqueles que só são capazes de ouvir o que pensam naquela horinha de análise. Por que é tão difícil chegarmos a uma conclusão sobre uma análise de trade-off : chegar ao que vale, avaliar custo x benefício é difícil pra todo mundo, mas parece que muitos não conseguem mais sozinhos.

E a super-exposição? Nos abrimos na rede como flores na Primavera e depois ficamos reclamando que todo mundo se mete em tudo o tempo todo? Afinal, o que queremos? Há o tempo de sermos crianças, o de começarmos a crescer, e o de sermos adultos... o que precisamos é guardar todo esse arsenal de vivências e construir um adulto melhor, que é capaz de deixar um legado para aqueles que gostam de nós...

Você já se fêz essa pergunta? Eu me faço o tempo todo...

Música de hoje:



PS.: Essa música que eu amo tanto é para minha amiga Maria Cecília, que sempre dá um jeito de dar uma passadinha por aqui. Beijo Ciça!

segunda-feira, agosto 08, 2011

Prestadores de serviço

Acho que já falei aqui que há mais de dois anos estávamos com um problema no nosso boiler. Demorou, mas pouco antes de sairmos de férias, chamamos uma empresa de aquecedores à gás e trocamos o dito cujo (que já estava vazando gás e podia causar um problema sério aqui em casa).

As férias passaram e no sábado o maridão resolveu, finalmente, chamar uma pessoa para fechar dois buracos no teto de gesso deixados pelo instalador do equipamento.

O rapaz marcou às 9 horas. Mas, não veio. Simplesmente ligou dizendo que ia fazer uma calçada aqui na rua e que o serviço levaria o dia inteiro. Como assim? Nós deixamos de viajar por causa disso. Dissemos a ele que ele teria que vir. Que precisava ter palavra. Ele então disse que adiantaria o serviço e viria pra cá à tarde.

Mal sinal. Mas, não captamos. Estamos tão acostumados com essa quantidade de informações que temos que processar todos os dias que não nos damos conta de que o corpo/cérebro percebe quanto "há algo de estranho no Reino da Dinamarca".

Chegou às 12:30, nós já havíamos almoçado, mas tivemos que arrumar a cozinha expeditamente, porque o serviço implicaria em poeira.

Ficou até às 16:30 e, antes de sair, resolveu dar uma limpada nas coisas - inclusive no aquecedor.

Aqui vem a lição aprendida do dia: nunca deixe uma pessoa dessas sozinha na sua casa - ele pode resolver agir, sem pensar!

O sujeito deu um banho de água com um balde no meu aquecedor novinho, que tem uma plaquinha eletrônica programada em seu interior. O bichinho parou de funcionar e nós tivemos que tomar banho frio!!!! Não pode molhar a placa, genteeemmm!

Ai, nada contra a classe, mas como disse uma amiga no Facebook essa semana, peão em casa é receber a visita do capeta...!!!

Eu apelei. Lembrei-me de uma amiga que quase perdeu um celular e que secou sua plaquinha com o secador de cabelo. Fiz o mesmo. Fiquei lá, horas secando o bichinho por dentro, sem tirar os parafusos e lacres para não perder a garantia, torcendo para que ele funcionasse... acho que deu certo!

Que aventura para um final de semana, não?

Música de hoje:

domingo, agosto 07, 2011

Nine

Poster italiano de Nine (2009)

Na noite de ontem, saímos procurando quais os DVDs que tínhamos e ainda estavam na embalagem para curtirmos um filminho juntos. Temos essa mania, que eu sei, alguns de vocês acham um desperdício. Mas, gostamos de comprar filmes. Temos a maior preguiça de ir à locadora, gostamos de escolher a hora em que veremos os filmes, sem ficarmos presos ao horário da tv à cabo e com os atuais preços dos DVDs, dá para comprar que assistindo uma única vez, já está valendo. Fora que eu sempre compartilho os meus filmes com a família e amigos, então...

Desta vez, vimos Nine, um musical de 2009, do diretor Rob Marshall, o mesmo de Chicago, que à época de seu lançamento no cinema, teve muitas críticas ruins.

Como não ficar boquiaberto com a beleza dessa mulher (Penélope Cruz, como Carla)?

O fato é que eu gostei. Sei lá porquê. Talvez seja pelo tema, um dilema criativo de um diretor de cinema, que tem que escrever o roteiro de seu nono filme e não conseg
ue. Talvez por ele ter obtido reconhecimento logo de cara quando começou e não ter alcançado o mesmo sucesso nos últimos filmes. Esse diretor, Guido Contini, é interpretado pelo maravilhoso Daniel Day-Lewis... eu até li alguns blogueiros dizendo que ele não sabe cantar, mas não é que eu gostei das cenas em que ele aparece cantando?

As mulheres de Nine: Judie Dench, Marion Cotillard,
Sofia Loren, Nicole
Kidman, Katie Hudson, Fergie e Penélope Cruz


Também achei interessante o Marshall colocar logo de cara, na primeira cena, todas as mulheres relevantes da vida do Guido:
  1. aparece a mãe dele, Mamma, interpretada pela Sofia Loren, que inevitavelmente me lembra a minha sogra sempre;
  2. a esposa Julia Contini, interpretada pela Marion Cotillard, linda e melancólica, como em todos os outros filmes que vi com ela;
  3. a amante Carla, interpretada pela voluptuosa Penélope Cruz, arrasando em seu número musical e em todas as outras aparições no filme;
  4. a diva de seus filmes Cláudia, interpretada pela Nicole Kidman, que demora a aparecer no filme e tem uma atuação abaixo da média, mas faz um papel interessante da atriz que sofre por amar platônicamente seu diretor;
  5. a assistente Lilli, interpretada pela Judi Dench, que faz uma cena cantando em Francês muito bacana e atua quase como uma segunda mãe do Guido;
  6. a repórter Stephanie, interpretada pela Katie Hudson, que faz uma cena sobre o cinema italiano maravilhosa e empolgante;
  7. e a Saraghina, papel de Fergie, que eu não sei bem definir, mas que é uma mulher que inicia Guido ao sexo quando ele ainda é criança. A cena dos pandeiros e da areia é lindíssima e sua voz, o que dizer de sua voz?

Fergie, e a cena do pandeiro...

Enfim, são muitas mulheres orbitando esse diretor. É interessante ver como cada uma delas tem uma visão diferente do mesmo homem, e como esse homem se esforça e se complica - psicologicamente - para agradar e se sentir desejado por todas essas mulheres. Parece que, de fato, o problema é mais psicológico - e é o que leva o personagem a entrar numa crise criativa - do que moral ou ético.

Marion fazendo a esposa traída e relegada ao 2o. plano.

Talvez eu tenha gostado tanto do filme, com seus cortes e cenas em preto e branco para explicar a origem de certos problemas do personagem principal, porque não vi o longa-metragem 8½ do cineasta italiano Federico Fellini (de 1963).

Nicole e seu personagem que não engrena...

Confesso que fiquei com vontade de ver o original e quem sabe esse não seja o próximo filme que comprarei. O certo é que, como Chicago, eu gostei muito desse. Veja aqui algumas cenas que me marcaram...







Ah, e a trilha sonora? Que bacana, né? Pois é, acho que vale à pena ver, e até, ver de novo...

sábado, agosto 06, 2011

Quedas

s. f.
Ato ou efeito de cair: levar uma queda.
Fig. Ato de ruir, de desmoronar; decadência, ruína: a queda de um império; perda de influência ou de poder; inclinação; declive; quebrada; perdição moral; tendência, propensão, habilidade, vocação.


Quedas. Subjetivas. Materiais. De cabelo. Vertiginosas. Abismais. Perda de sentidos. Joelhos verde-azulados. Desencontros. De pressão. Depressão. Pelo caminho. Frequentes. Inexplicáveis. Doloridas. Vergonhosas. O fundo. O chão. O que se vê. O mundo a cair com você.

Na queda, só o que se quer é sumir. Não se quer ajuda, nem alguém que te apóie para levantar. Só sumir. Machucou? Sempre.

Música de hoje:

terça-feira, agosto 02, 2011

Adele

Passei a semana de volta pensando nas cantoras novas, nas que estou curtindo e uma delas é, logicamente, a Adele. Veja só a regravação desse clássico do The Cure, que coisa linda.


Love Song

The Cure
Composição: Robert Smith

Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am home again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am whole again

Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am young again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am fun again

However far away
I will always love you
However long I stay
I will always love you
Whatever words I say
I will always love you
I will always love you

Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am free again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am clean again

However far away
I will always love you
However long I stay
I will always love you
Whatever words I say
I will always love you
I will always love you