segunda-feira, abril 20, 2009

O jogo [18]

Ela acordou cedo e ouviu no "Bom Dia, Rio" que o mar enfrentava uma terrível ressaca. Foi até a praia do Arpoador e preparou-se para entrar no mar. Nem os surfistas se arriscavam, mas ela foi.

Vencendo a barreira da arrebentação, que começava a por fim na faixa de areia que constituía a praia, ela entrou no mar e logo percebeu a correnteza fortíssima. Certamente, se saísse viva dali, não sairia no Arpoador, mas onde aquele mar revolto quisesse.

Ela enfrentou a primeira onda e, já neste momento, sentiu o tamanho da camada de água sobre a sua cabeça. Quando conseguiu por a cabeça acima do nível da água para ganhar ar, viu a próxima onda se aproximando. Ela sentiu que aquela onda quebraria sobre a sua cabeça e rapidamente tratou de afundar, o mais fundo que conseguia.

Foi o suficiente para que a corrente marinha a puxasse pelos pés e fizesse seu corpo dar cambalhotas embaixo d'água. Foi difícil manter a orientação e o equilíbrio, mas ela sabia que teria que ganhar mais ar para encarar a onda seguinte. Sabia que a onda seguinte já se aproximava.

Quando levantou a cabeça, viu a maior onda que jamais havia visto. Esta, ela pensou, eu vou conseguir furar e vou nadar além. Porém, ela sentiu que tinha pouco ar em seus pulmões e viu que apenas com os braços, não ia conseguir chegar a onda antes que ela quebrasse. Acelerou as pernadas, sempre o seu ponto fraco, e chegou lá, mas foi arrastada para o alto, e quebrou junto com a onda no fundo do mar.

Sentiu sua coluna partir em duas, e foi a dor mais intensa que sentiu em sua vida. De repente, viu uma luz muito intensa em seu rosto, e uma mão estendida na sua direção. Ela começou a ouvir uma música clássica, como uma trilha sonora para um momento solene. Era uma música suave, que ela não reconhecia, mas que ela sabia gostar muito. Ela fechou os olhos e deixou a luz a conduzir...

"Acorda, menina, está na hora. Vai ficar o dia inteiro aí enfurnada neste quarto? Vamos, levanta, vamos dar uma volta", chamou Cecília.

E ela acordou assustada daquele sonho de morte. E passou o dia inteiro pensando no que o seu inconsciente estava tentando lhe dizer.

2 comentários:

Lady Shady disse...

haha, boa!
bjs

Luis Paulo disse...

Morte-Vida. Renascer é sempre difícil. É mais um parto. Aterrisar com mala e cuia, bagagem, peso... Quase uma reencarnação. Falta fôlego, faltam forças, mas o instinto faz a gente nadar contra a corrente, mesmo quando isso parece impossível. E é: Édipo fugindo do destino previsto pelo oráculo e, ao mesmo tempo, indo ao seu encontro. Encontro marcado em Samara.
O destino nos joga para o alto e leva para o fundo. De nós mesmos. Ah, inconsciente...