sexta-feira, abril 24, 2009

O jogo [23]

FADING. Provação dolorosa segundo a qual o ser amado parece afastar-se de todo contato, sem nem mesmo que essa indiferença enigmática seja dirigida contra o sujeito amoroso ou pronunciada em benefício de qualquer outro, mundo ou rival.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso.


Nas semanas que se seguiram àquele episódio, ela se manteve quieta, concentrada nas aulas, de poucas palavras e os amigos mais próximos perceberam a mudança. Não foi sutil, foi para quem quisesse ver. Ela estava sempre com um texto na mão, esforçando-se para evitar falar de assuntos pessoais, e só lhe interessavam as discussões sobre os trabalhos de cada disciplina.

Ele percebeu a mudança também. Parecia que ela havia perdido o brilho, que a sua luz interior estava apagada. Ela nunca esteve tão na dela, quase deprimida, e ele sabia que o motivo era o telefonema e a conversa com Rosana. Ele queria se explicar, mas não encontrava um caminho. Por mais que ele soubesse da sua decisão, gostava dela, ela havia trazido graça para a sua vida, e ele lhe sentia grato pela ajuda em um momento tão difícil. Nem ela sabia o quanto havia ajudado...

Um dia, depois da aula, lá estava ela na sala de estudos, dividindo o espaço com os dois estrangeiros barulhentos, fingindo não se importar com o barulho que eles faziam, com a cara enterrada num livro e a mão segurando a cabeça. Ele se aproxima dela e puxa conversa:

- “Oi, está tudo bem com você?”, ele pergunta.

- “Tudo bem”, ela responde bem seca, sem olhar para ele.

- “A gente pode conversar um pouquinho?”, ele diz.

- “Pode falar, este espaço é público mesmo...”, ela comenta.

- “Vamos lá fora um pouquinho... eu não queria falar aqui”.

- “Está bem, mas não se demore, porque eu tenho uma reunião agendada com o meu orientador para daqui a pouco...”, ela diz.

(no jardim)

- “Soube que você ligou lá para casa quando eu estive na Bienal, né?”, ele pergunta sem graça. Ela não responde, fica olhando para ele com cara de ‘paisagem’. “Pois é, a Rosana me deu seu recado”.

- “Que bom que a Rosana é uma mulher que dá recados!”, ela diz ironicamente.

- “A Rosana voltou lá para casa... sabe como é, né? Ela está grávida...”, ele diz e tenta segurar sua mão, sendo imediatamente rechaçado por ela.

- “João, isso tudo é culpa? Por que você não me disse que era uma pessoa dada a este tipo de sentimentos, eu teria evitado você...”

- “Mas, ela está grávida de um filho meu! Como é que eu posso deixa-la desamparada?”, ele pergunta nervoso.

- “Não, não pode. Nem deve. Mas, precisava levá-la de volta para casa? Eu só posso concluir com isso que você ainda a ama. Você ainda a ama, João?”, ela pergunta.

- “Acho que sim, não sei, ..., estou confuso...”

- “É, estou vendo que você está confuso...bom, está na hora da minha reunião...me deixa ir...”

- “A gente não vai mais se ver?”, ele pergunta.

- “Vamos, vamos nos ver. Aqui na aula. Quanto a mim, parece que não é importante, mas ... não se preocupe, vai passar... tchau”

E volta para o prédio, caminhando em direção ao gabinete do seu orientador. Ela ainda sente uma lágrima acidental escorrer pelo canto do olho em direção a sua boca... e pensa que nunca mais vai chorar por ele.

2 comentários:

O_PRG disse...

isso é um livro??????
Vou baixar e ler

Lady Shady disse...

É...vai passar sim...
bjs