quarta-feira, abril 22, 2009

O jogo [20]

- "Nossa, como você está bonita!!!", ele observa, fazendo-a corar. "E vermelha! Que graça!"

- "Seu chato! Você adora isso, né?", ela pergunta amoada.

- "Adoro! Você fica uma gracinha assim, vermelhinha! Vamos?", ele diz.

- "Vamos! Jacarepaguá, aqui vou eu!", ela diz, esforçando-se para parecer animada.

Ao chegar no apartamento, a surpresa. Um piano. Ele havia arrumado uma mesa, com flores, um clima de romantismo no ar, velas em pontos estratégicos que ele tratou de acender, e estava com algumas partituras separadas sobre o piano.

- "Hoje, eu vou tocar pra você", ele diz.

Ela se acomoda na berger no canto da sala, e fica esperando a música que ele vai escolher. Começa a pensar nele de outro jeito, já que é a primeira vez que ele mostra seus dotes musicais e a pensar no seu nome: João. Um nome bonito, forte, que combina com o dela.

Ele então levanta a tampa que cobre o teclado e começa a tocar Caetano Veloso, "Você é linda". Ela trava. Tem uma incrível sensação de déjà vu, e imediatamente lembra do seu primeiro grande amor, e de como ele gostava de tocar essa música pra ela no violão. Ela se levanta de supetão e começa a mexer nas outras partituras...

- "Deixa eu ver o que mais que você tem aqui!", ela diz, meio nervosa.

Ele pára e fica olhando para ela. "Como é difícil entender essa mulher", ele pensa consigo mesmo.

- "Ah, Djavan. Toca essa aqui, vai, eu adoro!", ela diz.

Ele então recomeça com o Djavan, emenda com o Chico, toca uma da Bethânia... e a noite vai passando. Ela abre a garrafa de vinho tinto e serve os dois. Ele havia separado uns quatro tipos de queijo e eles ficam ali, sentados, conversando, namorando, ouvindo música até bem tarde.

Então ela começa a cantar com ele, bem baixinho, sentada ao seu lado no banco do piano, e ele começa a beijar seu pescoço. Entre um beijo e outro, ele ainda consegue terminar a música que está tocando e é ali, no sofá da sala, que ela relaxa, lembra das palavras da Cecília ("aproveita o seu gostoso") e curte mais uma noite ao lado dele.

É assustadora a sensação de estar viva. Ela o ama. Mas, não sabe como dizer isso a ele. Nem se é a hora. Mas, ela sabe que o ama.

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ESCONDER. Figura deliberativa: o sujeito amoroso se pergunta, não se deve declarar ao seu amado que o ama (não é uma figura de confissão), mas em que medida deve esconder-lhe as "perturbações" (as turbulências) de sua paixão: seus desejos, suas misérias, em suma, seus excessos (em linguagem raciniana: seu furor).

Barthes, Roland. "Fragmentos de um discurso amoroso".

Um comentário:

Lady Shady disse...

Lindo...lindo...

bjs!